Petistas destacam legados dos líderes religiosos que lutaram por justiça social e direitos humanos.
Em Sessão Solene na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (12/11), parlamentares da Bancada do PT na Câmara homenagearam a vida e a fé dedicadas à justiça social e aos direitos humanos de três importantes líderes religiosos: Dom Helder Câmara, Dom José Maria Pires e Dom Luciano Almeida. A sessão foi proposta pelos deputados Alexandre Lindenmeyer (PT-RS), Luiz Couto (PT-PB), Odair Cunha (PT-MG), Patrus Ananias (PT-MG) e Zeca Dirceu (PT-PR).
Além da coincidência de terem falecido no mesmo dia 27 de agosto em anos distintos, os três religiosos foram homens que dedicaram suas vidas a uma igreja que caminhasse ao lado dos mais pobres e marginalizados. Eles trabalharam pela dignidade e o direito de todos, enfrentaram a ditadura militar e usaram a sua posição para denunciar injustiças, violências e desigualdades sociais.
O deputado Patrus Ananis celebrou a memória desses líderes, cujas ações influenciaram sua própria vida e a de muitos. “Fiéis seguidores de Jesus, Dom Helder, Dom José Maria Pires, Dom Luciano anunciam com suas vidas e ensinamentos fundados no melhor da tradição cristã e nas palavras e exemplos de Jesus, eles nos anunciam com suas vidas e ensinamentos o Brasil que nós queremos”.
Para o deputado Luiz Couto celebrar a vida e a obra “desses três grandes homens é celebrar a luta por uma sociedade mais digna, é reafirmar nosso compromisso com os valores que eles defenderam. Sua dignidade humana à justiça social, à igualdade racial e à solidariedade com os mais pobres e vulneráveis”.
Trajetórias
Os petistas destacaram Dom Helder, conhecido como o “Arcebispo Vermelho”, por sua luta pelos pobres e oprimidos, sendo crítico das injustiças sociais e das estruturas que perpetuam a desigualdade. Durante a ditadura militar, Dom Helder denunciou as violações de direitos humanos e fundou diversas iniciativas voltadas à educação e saúde das comunidades desfavorecidas. Ele criou a Campanha da Fraternidade, que comemora 60 anos.
Dom José Maria Pires, primeiro arcebispo negro do Brasil e conhecido como “Dom Zumbi”, foi lembrado como um defensor dos direitos humanos que se opôs ao regime militar, apoiando trabalhadores e comunidades tradicionais e promovendo a reconciliação sem abrir mão de seus valores. Sua fé era inseparável do compromisso com a justiça e a libertação dos oprimidos.
Dom Luciano Mendes de Almeida foi um líder compassivo e ativo em projetos sociais voltados para os mais pobres, especialmente durante a transição para a democracia. Ele defendeu os direitos das crianças, trabalhadores e sem-teto, acreditando na transformação por meio da educação e do trabalho comunitário. Dom Luciano ainda presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fé ativa
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos, destacou que os arcebispos representam uma visão cristã de fé ativa, que busca transformar o mundo e estar ao lado dos mais necessitados. Eles permaneceram como “símbolos de esperança, orientando aqueles que desejam um Brasil mais justo e igualitário”.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) enfatizou que a “opção pelos pobres” feita por esses arcebispos era um ato de “rebeldia com paz, de atitude com generosidade e uma opção política pela transformação, não pelos pobres, mas com eles”. Ela ressaltou que a prática cristã deve ir além de discursos e não deve ser usada para promoção pessoal ou política.
Convívio
O deputado Padre João (PT-MG) expressou sua gratidão por ter convivido com os bispos Dom José Maria Pires e Dom Luciano Almeida, que o apoiaram em sua vocação e também em sua candidatura política, sempre com a confiança de que ele manteria a distinção entre a tribuna e o púlpito. Ele refletiu sobre a importância de servir aos mais pobres, alinhando-se aos valores do Papa Francisco, que condena o moralismo hipócrita e promove a política como um meio de serviço ao próximo. Para ele, a política deve ser uma extensão do compromisso de servir e amparar aos mais pobres, sem medo e com dedicação singular.
O deputado Reimont (PT-RJ) destacou a influência de Dom José Maria, seu conterrâneo de Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais, e relatou a ocasião em que, durante uma missa, Dom José Maria chamou ele e outros ex-padres, agora presentes na política, para se juntarem a ele no altar. Para Reimont, esse gesto simboliza a continuidade do ministério de serviço ao povo, mesmo fora da Igreja. Ele reafirma a importância desses bispos como modelos de vida.
A deputada Juliana Cardoso (PT-SP) falou de sua admiração pelos bispos Dom Luciano Mendes e Dom Helder Câmara. Ela relembrou sua origem humilde em Sapopemba e a influência de Dom Luciano em sua comunidade, ao destacar a importância de acender a “luz” na vida das crianças para que elas iluminem o mundo. Hoje, como deputada, Juliana vê na política uma forma de trazer esperança e de transformar a vida das pessoas, especialmente dos mais pobres. Ela agradece a oportunidade de poder representar o povo em um espaço que costuma ser hostil para as causas populares, ao reafirmar seu compromisso em “ver, julgar e agir” por um Brasil mais justo.
Legado
O deputado Helder Salomão (PT-ES) relembrou, com carinho, a influência dos bispos em sua vida e na formação de seu compromisso político e social. Ele atribuiu sua entrada na política à Igreja, especificamente às comunidades eclesiais de base e à Pastoral da Juventude, onde aprendeu sobre o papel do cristão na sociedade. Para ele, esses três bispos são verdadeiros “discípulos e profetas que ainda iluminam sua caminhada e a do povo de Deus”.
O deputado Pedro Uczai (PT-SC) refletiu sobre o legado dos bispos e questionou onde esses bispos “ressuscitariam” em 2024 e sugere que sua presença se manifesta nas lutas pela igualdade, pela justiça e pelo meio ambiente. Uczai afirma que lembrar esses líderes deve provocar um conflito interno nos cristãos, levando-os a refletir sobre as desigualdades e injustiças atuais. Para ele, o exemplo desses bispos continua a iluminar a luta cotidiana por uma sociedade mais justa e humana, orientada pelos direitos humanos, democracia e igualdade.
Para a deputada Erika Kokay (DF-PT) eles são exemplos “de amor e de solidariedade, que deixam as suas expressões no nosso dia a dia e todos os movimentos sociais que lutam para que tenhamos uma sociedade com vida e vida em abundância, ali estão, Dom Helder, Dom Luciano e Dom José Maria”.
Lorena Vale