Petistas lembram luta de Luther King contra o racismo e denunciam crescimento de homicídios de negros no Brasil

O dia 28 de agosto de 1963 ficou marcado por um dos discursos mais importante e histórico do movimento negro, “I have a dream” (Em tenho um sonho – em português). O ativista dos direitos civis Martin Luther King Jr, discursou para mais de 250 mil pessoas em Washington capital dos Estados Unidos, pedindo o fim do racismo, melhores condições de trabalho para negros americanos e impulsionou a agenda dos direitos humanos. O dia ficou marcado como a “Marcha sobre Washington”.

No trecho mais famoso de seu discurso, Martin Luther King JR sonhava: “Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje”.

Infelizmente o ano de 2020, em que é comemorado o 57º aniversário desse dia histórico, ficará marcado por diversos episódios de racismo nos Estados Unidos e no mundo. A morte de George Floyd, homem negro morto por asfixia por um policial no estado de Minnesota, nos EUA, em maio deste ano, inflamou uma onda de protestos pelo fim do racismo e da violência policial ao redor do mundo com o movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam).

No último domingo (23) mais um homem negro foi vítima da violência policial nos EUA, Jacob Blake foi alvejado com sete tiros pelas costas, ele segue internado e perdeu os movimentos das pernas. Em repúdio, atletas do Milwaukee Bucks não entraram em quadra e paralisaram a NBA, campeonato norte-americano de basquete. A luta por justiça, combate ao racismo e a segregação racial continuam com manifestações nas ruas do país, e estão longe de acabar.

“A manifestação antirracista realizada hoje, em Washington, relembra a grande marcha por direitos civis e liberdade liderada pelo pastor Martin Luther King em 1963 e nesse mesmo dia. Cem anos antes dessa marcha o presidente Lincoln tinha abolido a escravidão em plena Guerra Civil contra o Sul racista. O regime da escravidão deixou de existir, mas não a discriminação, o racismo institucional e o terrorismo branco da Ku Klux Khan”, afirmou a deputada Benedita da Silva (PT-RJ).

Foto: Assessoria Parlamentar

A deputada comparou as manifestações nos EUA com as que aconteceram no Brasil, por causa do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco. “A reação nacional contra o assassinato da vereadora negra Marielle foi, aqui no Brasil, o equivalente às fortes manifestações contra o assassinato por asfixia do negro George Floyd”.

O ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Paulão (PT-AL), afirmou que a luta capitaneada pelo pastor Martin Luther King foi de extrema importante para os direitos civis. Paulão explicou que os Estados Unidos mesmo sendo o principal país capitalista do mundo do ponto de vista da economia, bélico, ele tem uma democracia representativa consolidada, é por isso que tem mobilizações importantes em alguns momentos da história. “Nesse processo recente quando George Floyd foi assassinado pelo policial a sociedade se levanta e isso tem um papel importante mesmo sendo um país que tem a desigualdade e a discriminação explícita”.

E para o deputado Vicentinho (PT-SP) os brasileiros deveriam ter ações como as do povo e jogadores americanos, até que o dia que o povo se conscientize. “Ações como as dos protestos, como também ações na permanece. Como diz o nosso grande Nelson Mandela, as pessoas aprendem amar, aprendem a odiar, nós devemos fazer a grande luta para que as pessoas aprendam amar”.

Racismo no Brasil

No Brasil o racismo também tem feito inúmeras vítimas. Segundo dados do Atlas da Violência 2020, divulgado nesta quinta-feira (27), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a taxa de homicídios de negros cresceu 11,5%, de 2008 a 2018, enquanto a de não negros caiu 12%. A taxa de homicídios de negros no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes na década analisada, o que representa um aumento de 11,5% no período. Já os assassinatos entre os não negros no mesmo comparativo registraram uma diminuição de 12,9% (de uma taxa de 15,9 para 13,9 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes).

Na avaliação do deputado Vicentinho, as informações divulgadas pelo Atlas da Violência é a comprovação de que o racismo é algo muito forte e que vai além das leis. “Mesmo que a Constituição assegure direitos iguais, combata o racismo, mesmo que as leis transforme o racismo em uma pena imprescritível, mesmo que tudo isso ocorra a elite preconceituosa trabalhou tanto a mente do nosso povo que faz com que as pessoas se quer cumpram a lei”, criticou.

Foto: Gabriel Paiva

Em 2018, os homicídios foram a principal causa dos óbitos da juventude masculina, responsável pela parcela de 55,6% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos; de 52,3% daqueles entre 20 e 24 anos; e de 43,7% dos que estão entre 25 e 29 anos. No mesmo ano, 4.519 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que significa que uma mulher foi assassinada a cada duas horas no país – 68% delas são negras. Enquanto entre as mulheres não negras a taxa de mortalidade por homicídios no último ano foi de 2,8 por 100 mil, entre as negras a taxa chegou a 5,2 por 100 mil, praticamente o dobro.

A deputada Benedita relembra que o Brasil foi o último país do continente americano a abolir o trabalho escravo, mas o racismo perdura até hoje. “O povo negro se livrou do chicote, mas não da discriminação racial, alimentada por uma enorme exclusão social que dura até hoje e pelo sistemático genocídio da juventude negra das favelas e periferias”.

Silêncio do governo

Para o deputado Valmir Assunção (PT-BA), o racismo é o mal que estrutura a sociedade brasileira e precisa de políticas estruturantes para combatê-lo. “A violência do Estado contra negros e negras, que reflete em parte o alto índice da mortalidade da nossa população, principalmente a jovem, mostra que ainda estamos muito longe de solucionar o problema”.

O parlamentar criticou o silêncio e os esforços políticos de sustentação do racismo do Governo de Bolsonaro. “Obviamente em nada ajuda o silenciamento do governo Federal a respeito do caso, ao contrário: há esforços políticos de sustentação do racismo, a exemplo do desvirtuamento da Fundação Palmares ou a negação de políticas específicas para a saúde do povo negro”.

Foto: Luis Macedo/CD

Genocídio

O deputado Paulão destacou que a sociedade brasileira tem dois problemas graves e que nunca conseguiu fazer uma autocrítica que foi o genocídio contra os povos originários e o genocídio do povo negro que veio para o Brasil ser escravo. “Temos hoje, no nosso mundo contemporâneo 2020, o marco da escravidão que continua, e essa última eleição explicitou de forma direta, principalmente porque a nossa elite econômica, política e de controle dos meios de comunicação não trabalham essas duas pautas principalmente a questão racial e o modelo excludente como o nosso”.

Para o deputado do PT de Alagoas, as Forças Armadas e as polícias estaduais – que tem na sua composição mais de 50% dos policiais militares negros e pardos, no entanto achem como se fossem feitores do passado – têm como inimigo interno os movimentos sindicais, os partidos de esquerda, os movimentos organizados, a classe trabalhadora e o pessoal da periferia. “Por isso que você tem um aparato de segurança com a letalidade fortíssima em relação a esse segmento e é quem mais sofre. O Atlas da Violência mostra uma fotografia atualizada de que a violência continua acentuada em relação ao jovem negro e pobre que mora na periferia, na zona rural, então é um processo que a sociedade infelizmente ela não pautou, ela não tem como prioridade”.

Mobilização Popular

O deputado Valmir Assunção defendeu uma mobilização popular junto com o Congresso Nacional para combater o racismo e garantir avanços para a população negra, povos indígenas e quilombolas. “Diante deste cenário, é a mobilização popular, junto com o nosso trabalho de resistência no Congresso, que garantirá alguns avanços importantes, a exemplo de políticas que garantam o ensino da História dos Povos Indígenas e da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo oficial da rede de ensino, a afirmação das políticas de cotas e garantia de direitos básicos, como acesso à internet banda larga e equipamentos educacionais para a população quilombola”.

Indo na mesma linha, o deputado Paulão assegurou que é preciso que esse assunto seja sempre divulgado e que o Partido dos Trabalhadores coloque na pauta como prioridade, com avanços em todas as políticas públicas e políticas sociais voltadas para toda a comunidade negra do Brasil, principalmente na área de segurança.

Espaço de poder

Para Benedita da Silva a luta contra a violência racial precisa ser permanente. “O que precisamos fazer é tornar a revolta contra a violência racial em algo mais permanente e ocupar com a nossa consciência negra as cotas recém conquistadas do fundo de campanha e tempo de rádio e televisão para candidatos e candidatas negros”, conclui.

 

Lorena Vale

 

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