O escândalo das vacinas superfaturadas revelado na última semana pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e pelo servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo, à CPI da Covid repercutiu fortemente no plenário da Câmara nesta terça-feira (29). Parlamentares do PT se revezaram na tribuna para cobrar investigação do esquema que segundo as denúncias era do conhecimento do presidente Jair Messias Bolsonaro e envolve, inclusive, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Os parlamentares fizeram também um apelo para que o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), abra o processo de impeachment de Bolsonaro.
Em um discurso contundente, o deputado Padre João (PT-MG) afirmou que percebe que muitos já têm corruptos de estimação. “O mundo inteiro sabe que o Bolsonaro é um governo genocida, e agora, sabe que é corrupto. Nós sabíamos que era corrupto. E toda a família quantas denúncias teve? Agora, escancara-se para o mundo inteiro que é um governo genocida e corrupto!”, reforçou.
Padre João alertou ainda que o governo genocida e corrupto tem cúmplices na Câmara. “Quem sustenta esse governo é cúmplice. Houve corrupção no meio ambiente, e o mundo inteiro viu. Houve tráfico de madeira, uma coisa absurda. Não bastasse o crime de desmatamento ilegal ou de queimadas, há ainda o tráfico de madeiras. Vários crimes, um conjunto”, desabafou.
Agora, continuou o deputado, “há o superfaturamento em mais de mil por cento de superfaturamento na compra de vacina. Ou seja, demoraram a comprar, enrolaram. Se há quem enrolou foi o governo federal! Não foram os governadores, não. Os governadores, na verdade, tentaram comprar, e governo federal, por meio da Anvisa, barrou, protelou. E, quando vão comprar, com corrupção, com superfaturamento… É um absurdo”, protestou.
“Então, genocidas, corruptos, com cúmplices aqui nesta Casa. Eu me dirijo ao presidente Lira: presidente Lira, V.Exa. vai prevaricar?”, indagou e reforçou: “É prevaricação se o presidente Lira não pautar o impeachment. Há mais de cem pedidos, é um superpedido de impeachment. V.Exa. não tem esse poder de não pautar, porque, embora seja presidente, foi eleito como nós, pelo povo. V. Exa. está negando a atuação nossa de parlamentar. Está negando, com autoritarismo. Lira, para não lhe pesar, para o resto de sua história, abra o processo de impeachment de Bolsonaro”, apelou.
Há provas, documentos e atitudes do presidente
O deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que a corrupção no governo Bolsonaro nunca foi tão evidente como agora. “E ela não está provada apenas pelas declarações de um deputado que é da base governista feitas na CPI da Covid-19. A corrupção no governo Bolsonaro não está provada apenas pelo testemunho de um servidor de carreira do Ministério da Saúde. Há provas, documentos e atitudes do próprio presidente da República, em que ele assina, por exemplo, uma carta ao governo da Índia, uma corrupção que, nós sabemos, está custando, todos os dias, milhares de vidas pela falta da vacinação em massa rápida, que o Brasil, com o SUS, poderia ter feito”, denunciou.
Zeca Dirceu enfatizou ainda que a corrupção no governo Bolsonaro não começou agora, começou em janeiro, fevereiro de 2019. “E nós nunca nos calamos! Nós já denunciávamos e mostrávamos a corrupção. Ou alguém se esqueceu como foi aprovada a Reforma da Previdência, que hoje impede que qualquer brasileiro tenha uma aposentadoria digna, as negociatas, os milhões para a compra de votos denunciada ainda em abril, maio, junho de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro?”, indagou.
A corrupção para Bolsonaro e sua família, segundo Zeca Dirceu, não é algo que tem relação com o início do governo, em 2019. “A vida, os 28 anos de deputado, o enriquecimento ilícito, as rachadinhas, a relação da família de Bolsonaro com os milicianos, com o crime, tudo isso antecede o governo”, relembrou Zeca Dirceu, frisando que quem votou em Bolsonaro em 2018 já deveria saber, “porque nós mostramos também de quem se tratava aquele que aparecia e se declarava mito a todo o País”.
Projeto de corrupção
O deputado Nilto Tatto (PT-SP) observou que no plenário, poucos deputados bolsonaristas se manifestaram, “porque está também se acabando a própria base do Governo, que vem aqui acaba não falando do maior genocida da história deste País, aquele que é o principal responsável por meio milhão de mortes”, acusou. Ele cita que os especialistas falam que 80%, 90% dessas mortes poderiam ter sido evitadas, se não tivéssemos um genocida sentado na cadeira da Presidência da República. “Por isso, cada vez menos há parlamentares com coragem de vir aqui defender esse governo”, enfatizou.
Nilto Tatto destacou a importância da CPI da Covid que vem mostrando que, além da incompetência, falta de vontade e política de Estado, “havia e há um projeto de corrupção instalado dentro do governo para enriquecer o bolso de alguns no processo de vacinação”. Isso, segundo o deputado, explica o fato de o governo ter ignorado mais de 80 e-mails da Pfizer e reservado mais de R$ 1 bilhão para uma vacina que sequer havia sido aprovada pela Anvisa.
“Os defensores da roubalheira dizem que não houve nada, que nenhum centavo saiu dos cofres públicos, mas só não saiu porque a Covaxin foi incompetente e não cumpriu com os prazos do contrato. Caso contrário, o roubo estaria consumado”, criticou.
Superpedido de impeachment
O Brasil, afirmou Nilto Tatto, não aguenta mais este governo “incompetente, corrupto e genocida”. Por essa razão, informou o parlamentar, amanhã (30) será protocolado o maior pedido de impeachment contra Bolsonaro, reunindo mais de uma centena de entidades, associações, movimentos sociais do campo e da cidade, parlamentares de partidos de esquerda, do centro e de direita.
“A cada semana, novos crimes do Bolsonaro são revelados, e eu espero que a Câmara acorde para a realidade e perceba que já não há mais condições de continuar com o governo Bolsonaro. A legitimidade das urnas se perdeu em um governo assentado em mentiras, em incapacidade de gestão e em corrupção. Fora, Bolsonaro! Impeachment já!, defendeu Nilto Tatto.
Negociata
Na avaliação do deputado Helder Salomão (PT-ES), o País está diante de um quadro gravíssimo de pandemia, agravada pela posição negacionista do presidente da República e de seus principais aliados. “Todos sabiam que Jair Bolsonaro praticava o negacionismo e adotava uma prática genocida, tirando a vida de milhares de brasileiros. Denunciamos várias vezes neste plenário a ausência de medidas efetivas para matar a fome do povo, para gerar empregos e para garantir vacina para nossa população”, citou o deputado, acrescentando que a CPI da Covid trouxe revelações muito importantes.
“Agora, ficou claro para nós porque o governo retardou, recusou a compra de vacinas. O governo esperou o momento para fazer uma negociata e comprar a vacina indiana Covaxin”, afirmou Helder Salomão. O deputado enfatizou que é preciso responder três perguntas: por que recusar as ofertas e as propostas da Pfizer e da Coronavac, e, mesmo sem a autorização da Anvisa, autorizar a compra da Covaxin? Por que autorizar a compra de uma vacina por um preço 1.000% maior do que o de outras vacinas? E por que usar uma empresa intermediária para realizar a compra desta vacina, já que, com as outras, a compra foi direta dos laboratórios? “O povo brasileiro precisa saber estas respostas”, completou.
Apoio ao servidor do Ministério da Saúde
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) declarou o seu total apoio e parabenizou o servidor público Luis Ricardo Miranda que, “com muita coragem”, na CPI da Covid-19, “pôde denunciar as coisas que estão acontecendo, principalmente indícios de corrupção com a compra superfaturada em 1.000% da vacina indiana Covaxin”.
Segundo a deputada do PT do RJ, como se não bastasse a sabotagem do governo federal, “este que diz que é para ninguém andar de máscara, aconselha os seus seguidores a fazê-lo, vai para manifestações sem máscara. E agora, o presidente não sabe o que fazem os seus ministérios é um pouco demais!”, indignou-se.
Na avaliação da deputada, isso acontece porque tem gente ligada ao governo ganhando dinheiro. “Ganhando dinheiro com a morte, ganhando dinheiro com a dor do povo. E é preciso que a população saiba. Nós queremos dar o apoio a esse servidor Luis Ricardo Miranda. Ele é digno, um servidor de carreira! Talvez se não fosse de carreira, não tivesse as condições necessárias, porque seria perseguido — como está sendo perseguido, mesmo sendo um servidor de carreira —, porque alertou para o presidente da República que estava havendo um superfaturamento e que era importante que o presidente observasse ou investigasse”, enfatizou.
Também se manifestaram pelo impeachment de Bolsonaro e pela investigação do esquema de compra superfaturada de vacinas os deputados Célio Moura (PT-TO), Erika Kokay (PT-DF), Frei Anastácio (PT-PB), Henrique Fontana (PT-RS), Leo de Brito (PT-AC), Professora Rosa Neide (PT-MT), Paulo Teixeira (PT-SP), Paulão (PT-AL), Reginaldo Lopes (PT-MG), Jorge Solla (PT-BA), Zé Ricardo (PT-AM), Zé Neto (PT-BA) e Vicentinho (PT-SP).
Vânia Rodrigues