Com voto dos parlamentares da bancada do PT na Câmara, a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (5), a convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar suas movimentações financeiras no exterior através de uma empresa offshore em paraíso fiscal. A deputada Erika Kokay (PT-DF) e os deputados Rogério Correia (PT-MG), Carlos Veras (PT-PE), Leonardo Monteiro (PT-MG) e Marcon (PT-RS) votaram favoráveis à convocação.
“Vai ter que explicar. Aprovamos a convocação do ministro Paulo Guedes na Comissão de Trabalho para falar sobre movimentações na Offshore em seu nome nas Ilhas Virgens Britânicas”, escreveu o deputado Carlos Veras em seu Twitter.
Vai ter que explicar! Aprovamos a convocação do ministro Paulo Guedes na Comissão de Trabalho para falar sobre movimentações na Offshore em seu nome nas Ilhas Virgens Britânicas.
— Carlos Veras (@carlosveraspt) October 5, 2021
A conta do ministro da Economia no exterior foi revelada no último fim de semana pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Guedes abriu uma offshore, em 2014, nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, e, com a alta do dólar, valorizou o seu patrimônio em pelo menos R$ 14 milhões de 2019 em diante. Em julho, ele defendeu retirar do projeto de lei do Imposto de Renda a regra que tributaria recursos em paraísos fiscais.
Sair do governo
Para o deputado Rogério Correia, Paulo Guedes deveria pedir para sair do governo. “O ministro deveria pedir para sair. O que aconteceu foi muito grave. Ele continuar ministro é um absurdo e um escárnio com a sociedade brasileira. Um ministro que aumentou os recursos que podem ser depositados em offshore de 100 mil dólares para 1 milhão de dólares, sinceramente, não fez isso na boa intenção”.
Após a aprovação do requerimento, a deputada Erika Kokay questionou se a “mamata” acabou, como diziam os bolsonaristas com a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência. “Acabou a mamata? Guedes defendeu, em julho deste ano, excluir da reforma do Imposto de Renda a regra que taxava recursos mantidos por brasileiros em paraísos fiscais. Guedes usar o cargo de ministro da Economia para enriquecer é a cara do governo da corrupção e da rachadinha”.
A convocação do ministro foi proposta pelos deputados Kim Kataguiri (DEM-SP) e Paulo Ramos (PDT-RJ).
CFFC
O deputado federal Leo de Brito (PT-AC) também quer explicações do ministro Paulo Guedes acerca da manutenção de empresas offshores. O parlamentar acriano apresentou requerimento de convocação do ministro à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC), que poderá ser votado nesta quarta-feira (6).
“Paulo Guedes vai ter que nos explicar isso. Pelo que foi divulgado, ele mantém empresas offshores em paraísos fiscais mesmo após ter entrado para o governo Jair Bolsonaro, segundo a série de reportagens Pandora Papers. De acordo com a reportagem, Guedes não respondeu se fez investimentos após assumir o cargo, algo que desrespeitaria normas do serviço público e da Lei de Conflito de Interesses. Sua empresa segue em funcionamento”, afirma o parlamentar.
Leo de Brito completa: “Enquanto Paulo Guedes ganha milhões com o aumento do dólar, a população brasileira sofre com a fome, aumento da inflação e o desemprego. Isso é um desrespeito com o povo que está sofrendo”.
Além de Guedes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto também está na lista das autoridades cujo nome aparece na lista de documentos vazados que têm empresas offshores, ou seja, empresas localizadas em regiões insulares e costeiras, localizadas em outros países.
“Paulo Guedes e Campos Neto fazem parte do Conselho Monetário Nacional [CMN], órgão responsável por emitir resoluções sobre temas relacionados a ativos mantidos no exterior. Além disso, os dois têm acesso a informações sensíveis relacionadas a flutuações nas taxas de câmbio e variação nas taxas de juros”, pontua.
As revelações divulgadas até o momento restringem-se a contas operadas nas Ilhas Virgens Britânicas, situadas no Caribe, território conhecido como peça chave no sistema offshore.
Lorena Vale com Agências e Assessoria