Deputadas da Bancada do PT na Câmara denunciaram hoje (2) que o Março da Mulher é marcado este ano por uma série de retrocessos causados por uma agenda governamental restritiva, entreguista, antipopular e com perdas devastadoras de direitos. Os dados do governo Jair Bolsonaro são os piores possíveis, com impacto direto na situação das mulheres brasileiras. Há um quadro desesperador de desemprego e perda de renda, potencializado pela crise pandêmica e políticas governamentais negacionistas. No dia 8 comemora-se o Dia Internacional das Mulheres.
Dados da Pnad Contínua, do IBGE, revelam que 8,5 milhões de mulheres tinham deixado a força de trabalho no terceiro trimestre de 2020, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os números mostram que mais da metade da população feminina com 14 anos ou mais está fora do mercado. A pesquisa revela também que a taxa de participação na força de trabalho ficou em 45,8%, uma queda de 14% em relação a 2019.
Situação caótica
A segunda-secretária da Mesa da Câmara, deputada Marília Arraes (PT-PE), ao avaliar a situação caótica pela qual passam as mulheres brasileiras, apontou dados que confirmam o quadro desalentador. Para ela, a situação no Brasil é muito mais grave, se comparada à de outros países. Segundo a parlamentar, a pandemia de Covid-19 levou à perda de emprego ao redor no planeta, atingindo a marca de 114 milhões de pessoas.
“Independentemente do país ou continente sobre o qual façamos uma avaliação, uma realidade é comum: as mais prejudicadas com a perda do trabalho são as mulheres. Globalmente, o percentual de mulheres desempregadas é de cerca de 5% contra 3,9% dos homens. Não se trata de achismos. São dados do Monitor OIT: Covid-19 e o mundo do trabalho”, disse.
Desigualdade de gênero
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no Brasil, em relação ao emprego formal, no ano passado 230,2 mil vagas criadas foram ocupadas por homens, enquanto que as mulheres perderam 87,6 mil postos.
“No Brasil, a situação é uma das piores do mundo. Com o fim do auxílio emergencial de R$ 600 (R$ 1,2 mil para mães solo) e sem que nenhum outro projeto de benefício social do governo federal tenha saído do papel, o desemprego não para de crescer”, avaliou Marília Arraes.
A deputada explicou que, com as escolas e creches fechadas, sem ter com quem deixar seus filhos, apesar da necessidade financeira muitas trabalhadoras se viram obrigadas a largar os empregos. Outros milhares foram demitidas por conta dos cortes promovidos pelas empresas.
“O mundo avançou bastante, mas uma realidade permanece imutável: em toda e qualquer crise econômica quem mais perde são as mulheres, por causa da estrutura da sociedade patriarcal, cabendo a elas ficar das janelas e portas para dentro de casa, enquanto ao homem é permitido ir para fora”, criticou.
Empoderamento
A parlamentar avalia que só o empoderamento feminino pode reverter esse quadro. “Mas é preciso destacar que o empoderamento começa pela educação, pela formação, com igualdade de oportunidades para homens e mulheres no mercado de trabalho”, destacou.
Auxílio emergencial
O novo auxílio emergencial anunciado pelo governo deve ser pago a partir deste mês até o mês de junho. O beneficiário receberá parcelas no valor de R$ 250, montante bem abaixo dos R$ 600 defendidos pelo PT e outros partidos de Oposição no Congresso Nacional.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) é de opinião que a pandemia agrava muito o drama social de milhões de pessoas e a ausência do auxílio emergencial torna pior o problema. “Diante da pandemia, a situação das mulheres pobres é ainda pior. Até mesmo o auxílio emergencial, que garantia o mínimo de subsistência para suas famílias, o governo pretende rebaixar para R$ 250. Vamos continuar defendendo a aprovação do auxílio emergencial de R$ 600 e vacina para todos e todas”, afirmou.
Para a deputada Rejane Dias (PT-PI), apesar de ser maioria – mais da metade da população -, as mulheres trabalhadoras são as mais impactadas negativamente pela crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus.
“As mulheres já vinham sendo preteridas antes, mas a crise social ampliou essa distorção. Muitas mulheres foram demitidas, tiveram seus salários reduzidos ou precisaram pedir demissão para cuidar dos filhos. E agora o governo fala em R$ 250 de auxílio emergencial, algo que não preenche as necessidades básicas”, criticou.
Situação dramática
A deputada Professora Rosa Neide (PT-MT) disse que em qualquer situação grave no âmbito econômico e social as mais penalizadas são as mulheres. “Elas são mães, são donas de casa, são referências familiares, mas na hora da disputa do emprego acaba sendo as que levam maior prejuízo”.
A parlamentar mato-grossense criticou a ausência do Poder Executivo nas questões essenciais do País. Segundo ela, o governo Bolsonaro não está fazendo nenhum esforço para que o povo brasileiro seja vacinado.
“A nossa situação está ficando cada vez mais dramática e só tem uma forma de fazer esse enfrentamento, é a tomada de consciência da população, em que mulheres e homens responsáveis pelas vidas humanas possam cada vez mais se pronunciar, cobrar do Governo Federal, cobrar dos representantes públicos, pedindo explicações e lutando pra que haja vacina, para que haja o auxílio emergencial de R$ 600”, sugeriu.
Para Rosa Neide, as pessoas precisam demonstrar claramente que o encarecimento dos produtos básicos estão dia a dia maiores e que a população não pode sobreviver desta forma. “Só juntos, unindo vozes, fazendo denúncia é que poderemos caminhar em direção a um novo dia e a um país melhor, reestruturado para todos e todas”, frisou.
Luta e organização
Na opinião da deputada Natália Bonavides (PT-RN) só com muita luta e organização as mulheres podem conseguir barrar a agenda de retrocessos implantada no País. “E a gente tem exemplos práticos disso. A luta das mulheres conseguiu barrar retrocessos no Legislativo, como a PEC 181. Recentemente, a mobilização social permitiu que o Fundeb fosse aprovado, mesmo com as limitações impostas pela pandemia. Então o caminho é fortalecer e ampliar a luta das ruas para derrotar de vez esse de projeto destruição e de morte que assola o País”, argumentou.
Benildes Rodrigues