Deputados listam crimes de Bolsonaro e pedem abertura imediata do processo de impeachment do presidente

Parlamentares da Bancada do PT se revezaram na sessão remota da Câmara, dessa quarta-feira (5), para pedir a imediata abertura do processo de impeachment de Jair Bolsonaro. O deputado Henrique Fontana (PT-RS) rebateu os argumentos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante entrevista ao Roda Viva, de que não existem motivos para iniciar a comissão de investigação sobre os crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro.

“Ele [Rodrigo Maia] diz que não há motivo para os pedidos de impeachment. Então eu anotei alguns aqui para tentar sensibilizar Rodrigo Maia, que detém o poder monocrático para decidir isso, que é algo importantíssimo para o nosso País. São dezenas de pedidos que estão nas mãos do presidente Câmara, pedidos assinados por entidades da mais alta credibilidade no País, dentre elas a Associação Brasileira de Imprensa e tantas outras”, argumentou Fontana.

A lista citada pelo deputado do PT gaúcho começa pelos crimes de responsabilidade. “Primeiro, alguém acha que a conduta de Bolsonaro durante o enfrentamento da pandemia de coronavírus não tem nada a ver com parte das 100 mil mortes que o Brasil chora nesse momento? Um presidente que desmontou o Ministério da Saúde em plena pandemia, incentiva aglomerações, sai às ruas sem usar máscara, boicota todos os mecanismos de prevenção da pandemia e, por fim, faz propaganda falsa de um remédio que não cura e que leva à morte de pessoas?”, indagou.

Fontana, que também é médico, destacou que o Brasil é um dos únicos países do mundo, senão o único, que, em meio a uma pandemia, tem cloroquina para jogar no lixo e não tem testes para cuidar da sua população. “Presidente Rodrigo Maia, isso é ou não é um crime de responsabilidade?”, questionou.

“Quando ele (Bolsonaro) quer controlar a Polícia Federal, que leva, inclusive, à demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, isso é ou não é um crime de responsabilidade? Quando ele tem assessores dentro do seu gabinete, que fazem parte do ‘gabinete do ódio’, da rede de disseminação de fake news, isso é ou não é um crime de responsabilidade?”, continuou.

Henrique Fontana incluiu na lista ainda de crimes cometidos por Bolsonaro a convocação e o incentivo à participação de atos contra a democracia, contra o Supremo Tribunal Federal, agredindo os presidentes Rodrigo Maia (Câmara) e Davi Alcolumbre Senado, e o Parlamento.

O deputado gaúcho também citou a reunião ministerial [do dia 22 de abril], em que aparece um ministro [Ricardo Salles, do Meio Ambiente] na frente do presidente Bolsonaro falando em “passar a boiada” para desmontar a legislação de proteção ambiental do País. Isso é ou não é um crime de responsabilidade?”, insistiu.

Na avaliação do deputado Fontana, o Brasil quer ter o direito de julgar, com equilíbrio o pedido de impeachment de Jair Bolsonaro no Parlamento brasileiro. “V.Exa. não pode continuar com todos esses pedidos engavetados”, observou.

“Bolsonaro é responsável pelas mortes”

O deputado Nilto Tatto (PT-SP) enfatizou que em outros países, onde se tem um chefe de governo, de Estado, responsável, “que não é insano como o nosso aqui”, o sofrimento do povo e o impacto econômico derivados da pandemia do coronavírus vão ser menores, diferentemente do que ocorre aqui, onde uma quantidade de famílias vai ficar na miséria e milhões de pessoas vão perder o emprego. “E há um único responsável: Bolsonaro. Ele passou a ser o maior responsável por todas essas mortes, quando não seguiu as orientações dos especialistas da área de saúde, da Organização Mundial da Saúde, de que a única vacina possível para combater o coronavírus é o isolamento, é a quarentena, e foi às ruas fazer manifestação, chamando o povo para desobedecer”, criticou.

Nilto Tatto afirmou também que o governo Bolsonaro, através do seu mensageiro do setor mais atrasado do agronegócio, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), desmontou toda a política, toda a estrutura ambiental de controle e monitoramento do desmatamento. “Já no ano passado batemos recordes de queimadas e desmatamentos e este ano estamos batendo recordes novamente, segundo informações e dados que estão sendo divulgados neste momento. Portanto, ele (Bolsonaro) é também responsável por tudo o que está acontecendo, do ponto de vista da imagem do País lá fora e do comprometimento do futuro do País, com consequências inclusive para a agricultura”.

O deputado Tatto também reforçou o pedido para que Rodrigo Maia coloque imediatamente em votação um destes processos de impeachment, “para que o Bolsonaro não faça tanto mal e prejudique ainda mais o País no futuro como já o vem fazendo agora”.

Revista Piauí

O pedido de abertura do processo de impedimento de Bolsonaro foi referendado ainda pelos deputados Rogério Correia (PT-MG) e Jorge Solla (PT-BA). Eles citaram reportagem publicada pela revista Piauí que releva um crime “gravíssimo do presidente Jair Bolsonaro. Segundo a matéria, em 22 de maio de 2020, numa sexta-feira, às 9h, no seu gabinete, Bolsonaro disse que ia intervir no Supremo Tribunal Federal, que ia mandar tropas para fechar a suprema Corte “até que aquilo esteja em ordem”. Segundo a revista, ele repetiu isso e só foi demovido por generais que disseram a ele que isso era ditadura, que ele não podia fechar o Supremo Tribunal Federal.

“O que a revista Piauí colocou é muito sério. É motivo — e já há pedido de impeachment — para ver como o presidente age atentando contra a democracia no Brasil. São vários os crimes que ele cometeu nesse sentido. Isso, por si só, presidente Rodrigo Maia, é motivo, sim, para abrir um processo de discussão do impeachment de Jair Bolsonaro na Câmara Federal”, reforçou Rogério Correia.

E o deputado Jorge Solla pediu que a matéria da revista Piauí fosse registrada nos anais da Casa. “Ele (Bolsonaro) fez essa reunião no Palácio do Planalto com os ministros da Casa Civil, da Secretaria de Governo, do Gabinete de Segurança Institucional e afirmou que iria mandar tropas para o Supremo para destituir os ministros e nomear substitutos e interventores. Isso tudo porque estavam cogitando pedir judicialmente o seu celular. Imagine o que havia no celular para ele estar tão desesperado e anunciar uma intervenção no Supremo”, ironizou o deputado.

Solla enfatizou que isso não aconteceu, “mas a boiada” continua passando. “Nós temos que colocar o impeachment na pauta Rodrigo Maia. Se V.Exa. não tinha visto os outros crimes todos contra a vida de 100 mil brasileiros, que estão morrendo graças ao genocídio patrocinado por Bolsonaro, espero que agora V.Exa. veja o crime de conspiração contra o Estado Democrático de Direito”, afirmou.

Vânia Rodrigues

 

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