Comissão debate papel dos povos indígenas na formação da cultura brasileira  

Fotos: Lula Marques

A Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados (CLP) promoveu, nesta terça (14), uma audiência pública, para debater o papel dos povos indígenas na formação da cultura brasileira.

A língua portuguesa teve influência da cultura indígena, como as palavras ligadas à flora e à fauna. Abacaxi, tatu, mandioca, caju. Nomes de parques e rios. Ibirapuera, que quer dizer “lugar que já foi mato”, ou o Rio Tietê, que significa “rio verdadeiro”. Isso é Tupi-Guarani.

Na cozinha, ingredientes específicos de diversos povos indígenas, estão na mesa dos brasileiros. Mandioca ou macaxeira, coco, milhos e raízes.

Redes, canoas, jangadas, armadilhas de caça e pesca e instrumentos musicais, utensílios de barro e palha. Exemplos de como a cultura indígena está presente em nosso cotidiano.

Daniel Monteiro Costa, professor do povo indígena Munduruku do Pará, observou que “se o Brasil quiser efetivamente avançar rumo àquilo que o ocidente chama de futuro, precisa muito, muito, se reconciliar com o passado. Não para voltar para trás, para ser atrasado. Pelo contrário, é como a natureza. Se dobrar em si mesmo, sobre o que te deu origem. Não tem imã chamado futuro, mas o que vivemos é o que nos lança para a frente”.

Costa acrescentou que “os indígenas têm feito um esforço grandioso para entender a sociedade brasileira, mas a sociedade brasileira faz pouco esforço para entender esses povos. Através da arte queremos ecoar essa voz ancestral que está em todos, é um patrimônio de todos os brasileiros”.

De acordo com o Censo 2010, o Brasil tem 896,9 mil indígenas. São 305 povos diferentes e 274 línguas. A maior etnia é a Tikúna, com 6,8% da população indígena. Dos 786,7 mil indígenas de 5 anos ou mais, cerca de 33% falam uma língua indígena e 76,9% falam português.

“Nossas verdadeiras raízes foram criadas por uma cultura que já ocupava o solo brasileiro muito antes de a chegada dos estrangeiros. A cultura, os costumes, as expressões artísticas, os conhecimentos sobre a natureza, a música, os cantos, as danças e as festas populares indígenas são a origem da nossa identidade cultural”, contextualizou o deputado Waldenor Pereira (PT-BA), presidente da CLP, proponente do debate.

O líder do PT na Câmara, Elvino Bohn Gass (RS), lembrou que “a CLP acolhe os indígenas do genocídio patrocinado pelo presidente da República contra os povos tradicionais, estimulando valores de recriminação desde o tempo dos colonizadores, mas a resistência existe com a ajuda da pressão social”.

Um certo olhar

Olinda Tupinambá, do povo Tupinambá e Pataxó hãhãhãe, jornalista e cineasta, fez a curadoria da série “Falas da Terra”, exibida pela TV Globo.

“Isso foi muito importante, pela primeira uma rede de tv aberta chamou produtores indígenas. Importante para nossos povos e para sociedade toda. Cinema é falar de território, meio ambiente. Temos que usar essa ferramenta como se fosse um outro olhar, contar uma outra história, silenciada durante muitos anos”. Olinda afirmou ainda que “o Brasil precisa reconhecer a cultura indígena e ver que ela deveria fazer parte da identidade nacional”.

Adriano Boro Makuda, especialista em direito ambiental, da etnia Bóe Boróro, do Mato Grosso, ressaltou que “nosso modo de ser, fazer e viver não é respeitado, é despercebido pelo Estado. Nosso modo de olhar uma árvore, o cair de uma folha é diferente para um indígena de uma pessoa que não é.  Isso precisa ser respeitado, mas não acontece”.

Para o deputado Paulão (PT-AL) “tem uma guerra sutil, criada no estrangeiro, que é guerra cultural. No cinema americano, por exemplo, o herói era branco e os bandidos os povos indígenas. Isso foi ‘fazendo a cabeça’ das pessoas desde cedo, assimilando padrões”.

Márcia Cambepa é escritora e procuradora de Justiça (AM), e destacou que “nossa literatura transforma em letras o que pensamos, incentiva uma reflexão crítica sobe como vivem os povos originários. É importante que a literatura indígena exista, que possamos fazer da nossa arte a nossa forma de informar e repassar os conhecimentos dos nossos antepassados e de natureza. O rio que passa na nossa aldeia também corre dentro de nós, um rio de identidade, pertencimento e história”.

Outro tempo

Weibe Tapeba, do povo Tapeba e coordenador da Federação dos Povos e Organizações indígenas do Ceará lembrou que, em governos anteriores havia o que era chamado de linguagens culturais dos povos indígenas.

“Quando ainda existia o Conselho Nacional de Política Indigenista, tínhamos uma comissão de políticas culturais indígenas, comitês e outros espaços. Agora, há um distanciamento imenso de quem produz cultura no Brasil. Houve um desmantelamento dessas políticas públicas para a cultura. Não temos nem ministério, mas uma secretaria conservadora que não coloca recursos na produção cultural indígena, e muito menos controle social”.

Também participaram Célia Tupinambá, professora e artista do povo indígena Tupinambá da Bahia; Isabel Semani, do povo Tucano do Amazonas; os deputados Joênia Wapichana (Rede-RR), Zé Ricardo (PT-AM), Marcon (PT-RS), Erika Kokay (PT-DF) e Nilto Tatto (PT-SP); Dário Kopenawa Yanimami, da Associação do povo Indígena Yanomami e outras lideranças indígenas.

A íntegra da audiência pública, em áudio e vídeo, está disponível na página da CLP no site da Câmara dos Deputados

 

Assessoria de Comunicação

 

 

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