A Comissão de Legislação Participativa da Câmara promoveu audiência pública, nesta segunda-feira (13), para celebrar os 100 anos de nascimento do cardeal do Brasil, Dom Paulo Evaristo Arns. O evento também serviu para rememorar a atuação pastoral de Arns, sempre voltada aos moradores da periferia, aos trabalhadores, aos mais pobres e em defesa dos direitos humanos. Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em Forquilinha (SC), em 14 de setembro de 1921. Foi frade franciscano e cardeal brasileiro. Em 1970, como arcebispo metropolitano de São Paulo, começou a marcar atuação junto às populações vulneráveis. Arns faleceu em 14 de dezembro de 2016.
“À frente da arquidiocese, Dom Paulo Evaristo Arns buscou aproximar a igreja da sociedade, ao lado de quem mais precisava e deu prova desse compromisso inúmeras vezes ao longo da vida, afirmou o presidente da comissão, deputado Waldernor Pereira (PT-BA). Ele destacou que o cardeal chegou a vender o palácio episcopal e usou o dinheiro arrecadado para criar centros comunitários na periferia.
“Em meio à ditadura, trabalhar pelos mais vulneráveis, exigia também oposição ativa à tirania. Administrou a arquidiocese de São Paulo durante os anos de chumbo. Não lhe faltou coragem para denunciar as mortes e as torturas perpetradas pelas autoridades. Fez chegar a Jimmy Carter, então presidente dos Estados Unidos, uma lista de desaparecidos políticos”, lembrou a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que propôs a realização da audiência pública.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) lembrou que o cardeal “sempre usava a palavra coragem para que continuássemos seguindo, e a coragem é alimentada pela fé, fé na vida e no outro. Ele sempre significava uma possibilidade de esperança, com uma história de resistência com serenidade e firmeza”.
E Dom Joel Portella Amado, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, relembrou que, durante o seu trabalho nos anos da ditadura civil e militar, “foi um ícone” na defesa dos desamparados e perseguidos. “Suas palavras sempre trouxeram alento aos cristãos, lutando contra a tortura e pelo restabelecimento da democracia. Dom Paulo, mesmo nos momentos mais difíceis não se negava a dialogar, sempre atuando pela unidade e pela comunhão. Tratou todas as pessoas com respeito, principalmente quem pensava diferente dele”, afirmou.
Habeas corpus
“Na América Latina, a própria presença dele (Dom Paulo) era um habeas corpus”, afirmou Belisário dos Santos Júnior, ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo. Ele enfatizou que o cardeal se dedicou a combater a tortura até há pouco tempo negada no Brasil e que, mais recentemente, passou a ser justificada e até defendida pelo atual presidente da República. “Ajudou a criar as convenções interamericanas e universal contra a tortura. Entre os mecanismos, visitas inesperadas aos centros de detenção” citou.
Anita Wright, filha do pastor Jaime Wright, lembrou a união entre o pai e Dom Paulo no período entre 1979 e 1985. Do trabalho clandestino e conjunto com militantes de direitos humanos resultou o Projeto Brasil: Nunca Mais, que mapeou a repressão política durante a ditadura militar no Brasil, a partir dos processos contra presos políticos e que foi transformado em livro. “A publicação trouxe uma pesquisa que reuniu um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar (STM) e que poderiam ser queimados a qualquer momento. E, assim, para que nunca se esqueça e para nunca mais aconteça”, explicou acrescentando que, “falar de Dom Paulo hoje é trazer à memória o que nos dá esperança”.
Paulo Pedrini, educador e historiador, trouxe como lembrança a participação de Dom Paulo Evaristo Arns nas celebrações pelo Dia do Trabalhador, 1º de maio. “Pedia que disséssemos o que ele deveria falar, porque sabia que os trabalhadores é que tinham a experiência da vida para aquele momento. Ele sempre estará presente em nossas mentes e corações. Mas principalmente em nossas ações”.
“Dom Paulo é sinal de esperança e de vida. Viva Dom Paulo, a democracia e a liberdade!”, afirmou o padre Júlio Lancellotti, que atua em prol dos direitos humanos, principalmente em relação à população de rua em São Paulo.
O caminho
Em 1972, como presidente da Regional Sul-1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação de “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime. No mesmo ano, Dom Paulo Evaristo Arns criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo.
Em 1973, presidiu a “Celebração da Esperança”, em memória de Alexandre Vannucchi Leme, estudante universitário morto pela ditadura. No ano seguinte, apresentou ao governo militar um dossiê sobre casos de 22 desaparecidos políticos.
Incentivou a criação da Pastoral da Moradia e a manutenção e crescimento da Pastoral Operária.
Em 1985, o cardeal criou ainda a Pastoral da Infância, com o apoio da irmã Zilda Arns, que morreu em consequência do terremoto de 2010 no Haiti.
A íntegra da audiência pública, em áudio e vídeo, está disponível na página da CLP no site da Câmara dos Deputados.
Assessoria da CLP