A ausência de representante da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, realizada nesta terça-feira (19), foi duramente criticada pela proponente do debate, deputada Erika Kokay (PT-DF) e pelo presidente do colegiado, deputado Paulão (PT-AL). A entidade futebolística foi convidada a expor sobre a implementação de pacto firmado que previa ações de combate ao abuso de crianças e adolescentes nos clubes esportivos. O compromisso assinado pela CBF ocorreu por ocasião da CPI que investigou exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil, mas não foi cumprido.
“Das 10 ações, a CBF só cumpriu duas: campanhas educativas e criação de um grupo de trabalho, que não produziu nenhum resultado. Então, a CBF foi desonesta e tem sido desonesta ao não enfrentar a discussão. Foi desonesta ao firmar um pacto, assinar compromissos e, de 10 ações, ter cumprido parcialmente duas e ter ignorado as demais”, rechaçou Erika Kokay.
O pacto assinado pela CBF deu-se em 2012, período de funcionamento da CPI e que antecedia grandes eventos como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Ele previa campanhas de prevenção dos crimes de exploração sexual; a qualificação de profissionais para atuação preventiva junto às crianças; o uso da ouvidoria da CBF para recebimento de denúncias; além da fiscalização das escolas de formação de atletas, entre outros pontos.
Para o presidente da comissão, deputado Paulão, o não comparecimento do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) causou “estranheza”. Para ele, é “no mínimo estranho a ausência de alguns debatedores. O Conanda, que é um órgão máximo da defesa da criança e do adolescente, não compareceu”, lamentou.
“Você tem pais de alunos, de jogadores que são crianças e adolescentes de origem popular, que confiam nos técnicos, nos olheiros, e que sonham em se tornarem jogador de futebol e ficar milionário. No entanto, na realidade, o que está ocorrendo é uma rede de exploração sexual que envolve criança e adolescente. Uma temática grave como essa demonstra que o lobby da CBF é muito forte”, criticou Paulão.
O jornalista do jornal El País Brasil, Breiller Pires, um dos convidados da audiência e autor de matérias sobre exploração sexual em escolinhas de futebol no País, é da mesma opinião. Ele aponta como itens do pacto que não foram cumpridos, a fiscalização das atividades das escolas de formação de atletas e a adoção de medidas punitivas para os clubes que descumprirem as determinações da CPI. “No Brasil, apenas 7% dos casos de violência sexual são denunciados”, apontou.
Essa é a mesma avaliação do ex-jogador Alê Montrinas, que assumiu ter sofrido assédio sexual durante sua carreira. “Os casos que são denunciados não correspondem nem de perto ao que ocorre na realidade”, reiterou.
Já a procuradora do Ministério Público do Trabalho, Regina Duarte Silva afirmou que muitos dos casos não são trazidos à tona por vergonha do adolescente que às vezes se acha culpado pelo fato. Para ela, essa audiência pública favorece “ao levar à sociedade conhecimento de como essa exploração se dá, como ela ocorre em espaços velados para que a família possa identificar e fazer a denúncia para que os responsáveis sejam responsabilizados”.
Benildes Rodrigues