A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados debateu, nesta quarta-feira (28), as causas do crescimento da inflação no Brasil no contexto da pandemia e suas implicações sobre a dinâmica da economia nacional. A audiência pública atendeu ao requerimento do deputado Enio Verri (PT-PR).
Enio Verri, que também é economista, explicou que a inflação é um instrumento de concentração de riqueza. “A inflação tira do trabalhador, que só tem a sua força de trabalho para sobreviver, e transfere a riqueza para a mão dos que tem as mercadorias, leia-se, desde o arroz e feijão até o preço dos veículos, como vivemos hoje no Brasil”. Ele destacou que o que mais sobe e tem aumento de preço são os bens de consumo dos trabalhadores.
A aceleração da inflação gera implicações significativas na economia – seja sobre a atividade econômica, as finanças públicas, as empresas e as famílias, seja de ordem distributiva, na medida que os extratos menos favorecidos da população são os mais afetados. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a inflação, medida pelo IPCA nos últimos 12 meses até agosto foi de 9,68%.
De acordo com os dados apresentados pela supervisora da Área de Preços do Dieese, Patrícia Costa, o acumulado do índice de inflação em 12 meses – de setembro de 2020 a agosto de 2021 – no botijão de gás é de 31,58% e na energia elétrica é de 20,40%. Já a alimentação no domicilio teve um acumulo de 17,06%. No geral, 72% dos produtos analisados para se calcular a inflação tiveram aumento de preço.
“Tanto a alimentação no domicilio, como o botijão de gás e a energia elétrica são bens e serviços que pesam muito para as famílias de baixa renda. Elas, já em 2020, tiveram que pagar mais caro pelos alimentos e vem pagando também mais caro para comprar o gás que permite que elas cozinhem e também a energia elétrica que mantem o alimento refrigerado, enfim, que dá a qualidade de vida para todas as famílias”, afirmou Patrícia Costa.
Política de preços
O deputado Enio Verri disse que se preocupa com a atual política de preços que é utilizada pelo governo Bolsonaro. “O que me preocupa é que essa política, que nós temos hoje, de incentivar a exportação e de deixar que o mercado se ajuste, nós temos aí, de fato, e isso é importante analisar, uma inflação que pode ser chamada de inflação de oligopólio ou de monopólio. Como funciona isso: as empresas querem ter lucro, se cai a demanda, o que ela faz? Ela dobra o preço. Ela mantém, em números absolutos, o mesmo lucro, aumentando o preço. Esse é um dado do setor oligopolizado e monopolizado. Isso é concreto em vários setores”. E completou: “Onde se tem uma política dita de ‘livre mercado’, que concentra riqueza, nós temos uma inabilidade da gestão pública de fazer esse enfrentamento”.
Taxa de Juros
O parlamentar do PT do Paraná também falou sobre o papel do Banco Central e a política de aumentar as taxas de jutos para diminuir a inflação. “É uma política ultrapassada e ela vai aumentar ainda a crise, porque, veja bem, se nós já estamos com um problema de consumo, se há um problema de miséria, de desemprego, se as empresas tem dificuldade de sobreviver – isso é muito sério –, se você aumentar a taxa de juros, as pessoas vão comprar menos ainda. Mas se é um preço de monopólio ou de oligopólio, mesmo que elas comprem mais, vai manter a inflação ou vai piorar a recessão econômica. Então, isso se chama ‘estagflação’, é um risco que nós estamos vivendo”, alertou.
“A carestia é sentida no bolso, na mesa, no prato das famílias de uma forma não passível de aferição. É muito superior o percentual de perda, haja visto o número de famílias que vão à faixa da extrema pobreza, com o retorno da fome no Brasil após os governos Temer e Bolsonaro”, apontou o deputado Afonso Florence (PT-BA).
Combustíveis
Outro índice bastante elevado foram os dos combustíveis. A gasolina, o acumulado em 2020 era de -0,29, de janeiro a agosto de 2021 subiu para 30,87% e no acumulado em 12 meses, até agosto, subiu para 38,67%. Já o etanol chegou a 61,89% e o diesel 34,35% no acumulado em 12 meses.
Para o deputado Merlong Solano (PT-PI), o atual modelo de preço da Petrobras só é bom para os acionistas. “O atual modelo da gestão de preços da Petrobras, essa paridade internacional, está sendo muito bom para os acionistas, mas está empobrecendo grande parte da população brasileira, inclusive contribuindo para levar uma parte a miséria que já não consegue sequer comprar um botijão de gás para cozinhar os seus alimentos”. Ele destacou que o povo brasileiro é cliente da Petrobras e não acionistas.
“Temos que começar a pensar no Brasil para os brasileiros. A Petrobras é do povo e tem que servir ao povo e não a acionistas da forma que está sendo feita com lucros desacerbados, exorbitantes deixando de produzir como já chegamos a produzir 93% do combustível do óleo diesel e da gasolina que era utilizada dentro do Brasil e hoje está importando e fechando nossas refinarias”, afirmou o deputado Zé Neto (PT-BA).
Zé Neto destacou que o povo brasileiro são os verdadeiros donos da Petrobras e da Eletrobras e que os parlamentares devem trabalhar para o povo. “Não adianta o povo brasileiro está mal e os grandes acionistas bem, o capital especulativo bem e a gente vivendo essa tragédia social, com a fome que voltou num tom absurdo e de um Brasil cada dia mais entregue a interesses que não são do povo brasileiro”, pontou.
O parlamentar baiano também deixou claro que sem soberania, o Brasil não vai conseguir avançar e que a política energética é “uma tragédia”. “Chega de ver o Brasil entregue a uma situação absurda de total dependência internacional, principalmente do dólar, que está gerando esse preço absurdo dos combustíveis e da inflação”, concluiu.
Lorena Vale