As ruas de Brasília ganharam, na manhã desta sexta-feira (10), o colorido vibrante da luta e da resistência de mais de 5 mil mulheres indígenas – de diferentes biomas do País -, que estão na capital federal para que suas vozes sejam ouvidas e seus direitos mantidos pelos poderes que têm prerrogativas para mantê-los. Com o tema, “Reflorestando Mentes para Curar a Terra”, os mais de 170 povos de todos os biomas brasileiros, iniciaram II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas.
Um dos principais objetivos da marcha é pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para que se posicione contrariamente ao chamado marco temporal – que estabelece que só poderão ser consideras terras indígenas aquelas em posse desses povos na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988, com expressa comprovação da posse.
“Viemos de todo o País realizar nosso encontro de mulheres, em um diálogo sobre as nossas pautas e para acompanhar o que pode ser o julgamento mais importante para os direitos indígenas no Brasil em décadas”, diz a nota da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
Segundo a nota divulgada na quinta-feira (9), o marco temporal “é uma aberração jurídica, elaborada por aqueles que financiam essas manifestações antidemocráticas, e que a todo custo, historicamente, tentam calar nossa voz, subjugar nossos corpos, assim como já fizeram no passado”.
Anmiga disse ainda que as mulheres sairão pelas ruas de Brasília, em marcha “com nossos corpos e nossas vozes ecoantes na luta por justiça, por liberdade e pela demarcação de nossas terras sagradas ancestrais”.
Bolsonaro persona non grata
As críticas entoadas pelos 172 povos indígenas presentes na manifestação, foram dirigidas ao presidente da República, o principal articulador de retiradas de direito dos indígenas. Entre danças e rituais, as mulheres indígenas disseram que não reconhecem Bolsonaro como seus presidente. “Nós viemos aqui para dizer que Bolsonaro não merece ocupar aquela cadeira. Bolsonaro não merece ser presidente dos povos indígenas”.
“Nós viemos às ruas de Brasília para dizer que não é nenhum ruralista que irá nos fazer recuar. São muitos séculos de muita luta e resistência. Nós, mulheres, somos raízes desse País. Somos mulheres, água, somos mulheres sementes, somos mulheres terra. A mãe do Brasil é indígena”, ecoou a voz de uma líder indígena.
Homenagem a Galdino
No decorrer da caminhada, foi feito um ritual em homenagem ao índio Galdino, barbaramente assassinado pelos filhos da elite brasiliense. O indígena foi queimado vivo em 20 de abril de 1997, por cinco jovens do Plano Piloto. O crime que chocou o País ocorreu na parada de ônibus da 703 Sul, local onde dormia o cacique da tribo Pataxó Hã-hã-Hãe Galdino Jesus dos Santos, de 44 anos.
Os assassinos estavam munidos com álcool e fósforos, material utilizado para queimar vivo o indígena, que visitava Brasília pela segunda vez. Antônio Novely Vilanova, na época com 19 anos, Max Rogério Alves, 19, Tomás Oliveira de Almeida, 19, Eron Chaves Oliveira, 18 e G.A.J., 17, são os nomes dos criminosos.
Durante o ritual, um boneco representando Jair Bolsonaro foi queimado na Praça do Compromisso, na 704 Sul, no monumento que homenageia o índio Galdino.
Insegurança
Em nota intitulada “Pela vida das mulheres, NÓS POR NÓS, pelas crianças e anciãs, seguimos em marcha!”, a Anmiga informou que ato previsto para ocorrer ontem (9), foi adiada em razão das manifestações dos seguidores de Bolsonaro que vinham ocorrendo na Esplanada dos Ministérios desde o dia 7 de setembro, com pautas antidemocráticas e inconstitucionais.
De acordo com a entidade, a decisão de adiar o protesto teve como objetivo “garantir a vida das mulheres presentes”.
Julgamento
O julgamento do marco temporal continua na próxima quinta-feira (15). A votação está em curso desde o dia 26 de agosto, no STF, e deve definir o futuro das demarcações de terras indígenas no Brasil.
Benildes Rodrigues com informações do G1