Os deputados petistas Carlos Lula Zarattini (SP), Henrique Lula Fontana (RS) e Arlindo Chinaglia (SP) afirmaram nesta quarta-feira (4) que as negociações relativas à perda do controle acionário da Embraer para a Boeing (norte-americana) e sobre o acordo de cooperação entre o Brasil e os Estados Unidos voltados à exploração da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão, são um verdadeiro “atentado à soberania do País e um crime de lesa-pátria”. As declarações foram dadas durante audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, que recebeu o ministro da Defesa, general do Exército Joaquim Silva e Luna. O deputado Carlos Zarattini foi autor de um dos requerimentos à realização da reunião.
Segundo informações divulgadas pela imprensa, o governo ilegítimo de Temer já deu sinal verde para a venda do controle acionário da Embraer para a Boeing. O negócio envolveria a criação de empresa exclusivamente comercial, para a fabricação de aviões de porte médio (entre 90 e 144 passageiros) com o controle acionário da Boeing, e outra voltada para a área da defesa e de jatos executivos. Neste caso, a companhia nacional teria participação majoritária.
Ao se dirigir ao ministro da Defesa, Zarattini demonstrou preocupação com os efeitos negativos da perda do controle acionário da Embraer para a empresa norte-americana. Ele ressaltou que a empresa nacional, mesmo depois que foi privatizada, mantém importância estratégica, principalmente no âmbito militar.
“Se o governo brasileiro aceitar a venda da Embraer para a Boeing será um crime de lesa-pátria, porque estaremos entregando todo conhecimento construído pelo País ao longo de décadas e que transformou a Embraer na terceira maior empresa de fabricação de aeronaves do mundo”, apontou. Entre esses projetos, Zarattini destacou o projeto do cargueiro militar KC 390, desenvolvido com colaboração da engenharia da Aeronáutica.
Já o deputado Henrique Fontana observou que a fusão da Embraer vai na contramão da estratégia de fortalecimento de países soberanos na geopolítica militar. Ele afirmou ainda que a medida é temerária principalmente porque é debatida na véspera de uma eleição presidencial.
“Na minha avaliação, a Embraer não deve fazer essa associação. Duvido, por exemplo, que o governo norte-americano de Trump aceite que uma empresa chinesa tenha o controle de 51% das ações da Boeing. É indivisível a parte comercial da Embraer da parte militar. O princípio da precaução indica que a 93 dias da eleição presidencial não é prudente qualquer decisão sobre uma fusão”, observou.
Base de Alcântara – Sobre as atuais tratativas de acordo de exploração da Base de Alcântara com os Estados Unidos, o deputado Arlindo Chinaglia lembrou que durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (2002) um tratado semelhante foi rejeitado pelo Congresso. Ele destacou que, dessa vez, seria interessante que todos os detalhes do novo acordo viessem à tona.
“Na outra tentativa de acordo entre Brasil e Estados Unidos (para explorar a Base de Alcântara) decidiu-se anular o acordo porque ele impunha restrições de acesso de brasileiros a áreas da base que seriam controladas pelos americanos. Creio que agora o Congresso Nacional deveria ter informações prévias sobre os detalhes da atual tentativa para assegurarmos a nossa soberania porque, depois de pronto, só cabe ao Congresso aprová-lo ou não”, advertiu.
A possibilidade de acordo foi revelada no início de junho pelo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, durante entrevista a jornalistas em Washington. A Base de Alcântara é cobiçada pela sua localização privilegiada, a mais próxima da linha do Equador.
Héber Carvalho