Três anos do desastre de Mariana revelam rastro de morte, descaso e impunidade, denunciam petistas

Os deputados Leonardo Monteiro (PT-MG) e Padre João (PT-MG) protestaram em plenário nesta quarta-feira (8) contra o descaso daqueles que há três anos foram os responsáveis por um dos maiores desastres ambientais da história brasileira. Na tarde de 5 de novembro de 2015, o município mineiro de Mariana ficou mundialmente conhecido por causa do rompimento da barragem da Samarco, no distrito de São Rodrigues. O acidente despejou uma lama tóxica que contaminou toda a bacia do Rio Doce, fazendo estragos por quilômetros e quilômetros rio abaixo até desembocar no oceano.

“Para se ter uma ideia, as pessoas até hoje compram água mineral porque não têm confiança na água coletada no Rio Doce que é tratada pelo sistema de água e esgoto da prefeitura. E assim acontece em várias cidades da nossa região, do leste de Minas”, disse Monteiro, que também cobrou uma postura da Câmara dos Deputados. “Quero exigir da Justiça e inclusive da Câmara – onde foi constituída uma Comissão Externa, mas que não se efetivou – que apure as consequências e fatos do desastre de Mariana”. reivindicou.

O parlamentar lembrou que, passados três anos, a apuração do acidente ainda está em curso. Segundo Leonardo Monteiro, estão sem conclusão o processo criminal sobre o rompimento e a investigação da responsabilidade de técnicos do estado sobre eventuais responsabilidades na revalidação da licença de operação da empresa. “A Samarco/VALE alega que sempre cumpriu toda a legislação relativa ao licenciamento ambiental e à operação de barragens, mas indícios mostram o contrário”, disse.

O deputado reforçou ainda outros estragos, lembrando que o acidente arrasou vilas, matou pessoas e prejudicou a sobrevivência de etnias indígenas e famílias ribeirinhas, além de toda uma economia local, com pescadores que aguardam indenizações e não conseguem mais tirar o sustento do rio. “Enquanto a Justiça se arrasta, o nível de contaminação no rio ainda preocupa. Cerca de 500 pesquisadores de universidades brasileiras coletaram agora em outubro amostras de animais, água e lama para análise em uma tarefa chamada Rio Doce Mar”, explicou.

Trata-se da maior pesquisa já realizada para medir as consequências desse crime. “O objetivo é medir os níveis de metais nos peixes e em outros animais que vivem no Rio Doce. Apesar de resultados mais recentes mostrarem que a contaminação diminuiu, ainda não é o suficiente para a liberação da pesca. Níveis elevados de Cádmio, um metal que pode prejudicar a saúde humana, ainda está presente. Enfim, a destruição dessa grande tragédia ainda tem marcas vivas por todo o estado, e a justiça ainda não foi feita”, lamentou.

Destruição – De forma igualmente indignada, o deputado Padre João contabilizou na tribuna que o desastre matou, além de 19 pessoas, todo um ecossistema, do qual dependia milhares de outras vidas. “Falo do descaso que está havendo com os pescadores, com os agricultores familiares, com os moradores ribeirinhos, do descaso com a Nova Bento Rodrigues. Eles destruíram a comunidade de Bento Rodrigues, um distrito secular de Mariana, e centenas de famílias estão sem casa, estão dispersas há três anos”, protestou, afirmando que neste tempo empresas do porte da Vale, da Samarco e da BHP Biliton construíram nenhuma casa.

“Vimos também denunciar o descaso de setores do Judiciário que estão a favor dessas megaempresas e o descaso dos governos, que, em vez de enquadrarem as empresas responsáveis e exigirem reativação econômica e indenização, agem com descaso. É lamentável que, para os pobres, não haja justiça, a não ser para punir. Esse mau poder econômico vem destruindo as vidas das águas, das matas e também das próprias pessoas”, denunciou.

Também foi alvo de críticas pelo deputado a ações da Fundação Renova, criada para compensar e reparar estragos do acidente. “Inventaram e criaram a Renova só para enganar, tapear e adiar o processo. São milhares e milhares de famílias atingidas por esse crime que não têm sequer indenização. Enquanto isso, existem pessoas que nem precisavam e estão recebendo! Então, vimos, mais uma vez, apelar ao Judiciário, ao Ministério Público e aos governos que façam, de fato, justiça para os pobres e o Rio Doce e garantam qualidade e dignidade”, reivindicou Padre João.

 

PT na Câmara

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