O deputado Tadeu Veneri (PT-PR) usou a tribuna da Câmara nesta quinta-feira (14) para criticar os bolsonaristas que se surpreenderam com a condenação de Aécio Lúcio Costa Pereira, o primeiro réu a ser julgado pelos atos golpistas ocorridos em 8 de janeiro. Ele foi condenado a 17 anos de prisão pelos crimes de dano qualificado, deterioração de patrimônio público tombado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e associação criminosa. “Acredito que a primeira condenação ainda é pequena, vai ser muito maior. Vai ser exemplar para todos aqueles que pensarem em golpe contra a democracia”, afirmou o parlamentar.
Tadeu Veneri repetiu que algumas pessoas se disseram surpresas com a condenação de 17 anos “de cadeia aos bandidos” que entraram no Congresso Nacional, no Palácio e no Supremo Tribunal Federal. “Por que a surpresa? Não ficaram surpresos com a condenação de 22 anos de cadeia, nos Estados Unidos, para aqueles que invadiram o Capitólio, mas ficam surpresos, porque era apenas uma brincadeira. Uma soldada da Polícia Militar declarou, na CPMI do Golpe, que foi espancada com barras de ferro, que tentaram jogá-la de cima do Palácio e que simplesmente era uma brincadeira, era uma festa, a festa da Selma”, criticou.
Na verdade, continuou Tadeu Veneri, não era festa, era uma tentativa de golpe da extrema direita. “Utilizaram-se de pessoas que talvez não tivessem a dimensão do que estavam fazendo. Nós não sabemos e precisamos saber. É preciso chegar aos mandantes, não apenas àqueles que executaram, mas àqueles que organizaram a execução. E o Coronel Mauro Cid já falou que tem muita coisa para dizer, assim como o senador Eduardo Braga também já falou que tem muita coisa para dizer. Muita gente ainda tem que contar essa história, porque não é possível que o germe da extrema direita, que cresce no mundo todo e cresce inclusive por políticas que são feitas contra acionistas, políticas que retiram renda da maioria da população, políticas que são feitas para destruir o Estado e que abrem espaço para todo tipo de extremismo”.
Para o parlamentar, não é possível que, aqui no Brasil, as pessoas ainda se surpreendam com isso. Ele reiterou que a culpa é de quem entrou na sede dos três Poderes. “A culpa é de quem pagou para que essas pessoas viessem. A culpa é de quem bancou, em frente aos quartéis, uma ocupação vergonhosa, indecorosa”, frisou.
Tadeu Veneri disse ainda que não é de hoje se tentam golpear a democracia brasileira. “Desde 1988, há um grupo dentro de todos os setores da sociedade, inclusive dentro do Exército, que tem os sonhos das vivandeiras, os sonhos de voltarem ao poder pela via da força, porque pela via do voto não conseguem”, afirmou.
Condenação
Nesta quinta-feira (14), o plenário do Supremo Tribunal Federal emitiu um veredito condenatório para Aécio Lúcio Costa Pereira, o primeiro réu a ser julgado pelos eventos golpistas ocorridos em 8 de janeiro, pelos cinco delitos mencionados na denúncia da Procuradoria-Geral da República: Dano qualificado, deterioração de patrimônio público tombado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e participação em associação criminosa.
Votaram a favor da condenação pelos cinco crimes os ministros Alexandre de Moraes (relator do processo), Cristiano Zanin, Luiz Edson Fachin, Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Rosa Weber (presidenta do STF).
O STF também decidiu hoje que os condenados pelos atos de 8 de janeiro deverão pagar, de forma coletiva, uma indenização de R$ 30 milhões pelos danos causados aos prédios da praça dos Três Poderes. O pagamento será feito de forma “solidária” pelos réus condenados. Ao todo, o Supremo julgará mais de 1.400 pessoas pelos atos.
Quem é Aécio Pereira
Aécio Lúcio Costa Pereira mora em Diadema (SP), tem 51 anos e era técnico em sistemas de saneamento da Sabesp, que o demitiu após 8 de janeiro. Foi preso em flagrante dentro do Senado, pela Polícia Legislativa. Com uma camisa com os dizeres “intervenção militar federal”, acabou produzindo provas contra si ao gravar um vídeo, sentado na mesa do Plenário, dizendo: “Amigos da Sabesp: quem não acreditou, tamo aqui. Quem não acreditou, tô aqui por vocês também, porra! Olha onde eu estou: na mesa do presidente. Vai dar certo. Não desistam. Saiam às ruas. Parem as avenidas. Dê corroboro para nós”, disse.
Vânia Rodrigues, com agências