O deputado federal Zé Neto (PT-BA) presidiu a audiência pública realizada nessa quarta-feira (9) para debater “Recuperação e desenvolvimento econômico no contexto da pandemia”. “Esse debate é necessário porque o mundo está em transformação, com um novo modelo de estado em construção. No Brasil, estamos enfrentando hoje debates sobre privatização de empresas públicas estratégicas, na contramão do mundo. Temos a possibilidade de um apagão por causa da crise hídrica, que afeta as regiões sudeste e centro-oeste do País, tudo isso durante a pandemia, o que é muito preocupante”, pontuou Zé Neto.
Há grandes incertezas sobre a condução pelo governo federal das medidas sanitárias, econômicas e sociais direcionadas ao combate à pandemia e ao planejamento da recuperação da economia. Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, “o Brasil está retomando uma tendência de crescimento, superior à tendência pré-crise. Isso mostra o acerto das políticas econômicas, feitas em parceria com o Congresso Nacional. O abismo fiscal, que muitos esperavam, não aconteceu. A ideia de que se o governo gastar mais, a economia cresce, funciona em alguns cenários mas não no atual”, defendeu o secretário.
A professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Esther Dweck questionou o posicionamento do governo. Para ela, o aumento do gasto público é necessário para recuperar a economia. “O ajuste fiscal proposto pelo governo federal é uma política bastante equivocada no momento que estamos vivendo. Cortar gastos públicos, corta também o PIB, corta a arrecadação e acaba piorando o cenário fiscal, com tem sido discutido no resto do mundo. A situação fiscal é consequência e não causa da crise. Para se recuperar, o Brasil precisa de um projeto social de desenvolvimento”, observou a professora.
O professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Paulo Gala concordou com a professora Dweck. Segundo ele, a recuperação econômica é muito tímida e colocou o País no nível de antes da pandemia sem gerar empregos. “Estamos bastante longe da situação econômica pré-crise de 2015. O desemprego está praticamente em 15% e naquela época era em torno de 6%. Nosso quadro é dramático. Estamos longe de ter a economia em um nível satisfatório. A gente regrediu muito nos últimos anos. Investimento público e privado se complementam e os dois foram quase zerados”, concluiu.
Renato Fonseca, Superintendente de Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), concordou com o secretário Adolfo Sachsida e afirmou que a recuperação econômica está sendo rápida mas destacou que o crescimento do PIB, na década de 2010 a 2020, foi muito ruim: 0,3 por cento ao ano, em média. “O PIB não cresce porque a indústria se retrai. A indústria tem o poder de puxar a economia do País porque tem várias cadeias e leva ao crescimento de outros setores. Cada R$ 1,00 investido na indústria resulta em R$ 2,67 no PIB, mas nos últimos 10 anos, a indústria encolheu 1,6%”, explicou Fonseca. “O Estado precisa agir. Não vamos conseguir sair sozinhos da crise. Por isso, a Reforma Administrativa é importante para reduzir o tamanho do Estado”, afirmou.
O presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio/BA), Carlos Andrade, destacou as preocupações do comércio da Bahia. “Precisamos de acesso ao crédito. O Pronampe ajuda bastante mas chegam poucos recursos e com uma burocracia muito grande. Os bancos públicos precisam se reinventar. Precisamos também de um Refis federal e um estadual. Nos preocupa também que a Reforma Tributária aumente a carga tributária”, destacou Andrade.
Inércia do governo
Para o deputado federal Zé Neto, “a crise sanitária e socioeconômica está sendo agravada pela inércia do governo federal que não assume a coordenação do enfrentamento à pandemia. E o prolongamento da pandemia vai aprofundar a crise econômica Além de socorrer os cidadãos, o Estado brasileiro precisa editar pacotes fiscais e de crédito para apoiar as empresas, especialmente as micro e pequenas”, concluiu Zé Neto.
A audiência online foi realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados por iniciativa do deputado Zé Neto. Autoridades governamentais, dirigentes de associações representativas e pesquisadores acadêmicos participaram do debate.
Assessoria de Comunicação