Parlamentares petistas, representantes do governo e de movimentos sociais que lutam pela democratização do acesso à terra no País homenagearam nesta quarta-feira (7/8), durante sessão solene na Câmara dos Deputados, os 100 anos de nascimento de José Gomes da Silva. Defensor da agricultura familiar e da reforma agrária, o engenheiro agrônomo e empresário rural foi o 1º presidente do Incra após a redemocratização, fundador da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e coordenador da elaboração do 1º Plano Nacional de Reforma Agrária. A homenagem foi uma iniciativa dos deputados petistas João Daniel (SE), Padre João (MG) e do líder do PT, deputado Odair Cunha (MG).
Durante o encontro, todos os discursos lembraram a luta histórica de José Gomes na defesa da agricultura familiar e da reforma agrária. O deputado João Daniel – que coordena o Núcleo Agrário da Bancada do PT – destacou que teve o prazer de conhecer José Gomes ainda em vida e que a homenagem visa enaltecer a história de um dos maiores defensores da democratização do acesso à terra no Brasil.
“José Gomes foi um homem que enxergou a terra como um bem que poderia dar dignidade as pessoas, que a reforma agrária é desenvolvimento e uma forma de enfrentar de frente a questão da fome. Que a luta de José Gomes permaneça sempre conosco, sendo nosso guia na ciência, de sabedoria e de compromisso ético com a história que ele nos deixou, tanto para a nossa geração como para as gerações futuras”, afirmou.
Luta camponesa
O deputado Padre João ressaltou outros pontos da biografia de José Gomes da Silva que retratam seu compromisso inabalável na defesa da agricultura familiar e da reforma agrária. O petista lembrou que mesmo sendo um grande fazendeiro no interior de São Paulo, e tendo assumido cargos públicos inclusive durante a ditadura militar, quando participou da elaboração do Estatuto da Terra – código que obriga o Estado a garantir acesso à terra a quem nela vive e trabalha, via reforma agrária -, José Gomes nunca se afastou da luta camponesa.
“Se temos conquistas a celebrar no âmbito do acesso à terra, são frutos de uma caminhada iniciada por José Gomes da Silva a cerca de 60 anos. Como fazendeiro, lutou pela reforma agrária defendendo a desapropriação de terras que não cumprem a sua função social. Por isso celebramos o centenário de José Gomes da Silva, que teria completado 100 anos no último dia 12 de junho, com muito louvor e gratidão por tudo que ele fez para repartir a terra, e consequentemente o pão”, destacou.
Além de presidente do Incra (1985) e secretário de Agricultura de São Paulo no governo Franco Montoro (1983-1985), José Gomes da Silva também foi coordenador da área da agricultura e reforma agrária do governo paralelo do PT (1990).
Compromisso com a reforma agrária
Representantes do governo e de movimentos sociais também homenagearam José Gomes da Silva durante a sessão solene. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, ressaltou que a vida de José Gomes da Silva é uma grande inspiração para todos brasileiros e brasileiras que lutam pela democratização do acesso à terra e melhores condições de vida para homens e mulheres do campo.
“José Gomes da Silva foi um homem à frente de seu tempo. Foi uma pessoa da elite brasileira que pensou no desenvolvimento, na diminuição da desigualdade social, no povo e colocou no centro do debate o tema da reforma agrária. Darci Ribeiro criticava a elite brasileira porque não tinha compromisso com seu povo, enquanto a elite norte-americana, europeia e asiática levou seu povo a outro estádio de desenvolvimento. Como fazendeiro, José Gomes colocou o tema da divisão da terra como fundamental para o desenvolvimento nacional, a produção de alimentos e a diminuição da desigualdade social”, observou.
Estatuto da terra
Representando a família de José Gomes da Silva, seu filho José Graziano da Silva – diretor do Instituto Fome Zero e ex-diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) – disse que a reforma agrária e a defesa dos direitos da classe camponesa sempre foram os ideais de luta de seu pai.
“Ele (José Gomes da Silva) colocou no Estatuto da Terra o que ele fazia em suas fazendas, como direito dos trabalhadores. Ainda no início da década de 1960, ele se deu conta de que a reforma agrária era uma medida urgente para dinamizar a economia e resolver os problemas sociais no campo”, apontou.
Ex-ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no 1º governo Lula, José Graziano destacou ainda que seu pai via o latifúndio improdutivo como um entrave para o desenvolvimento do País.
“Ele se deu conta de que o grande latifúndio improdutivo pode ser produtivo com a diversificação de cultivos. Esse modelo ele viu nos estados do meio-oeste norte-americano quando foi fazer uma pós-graduação. Lá ele viu que esses estados eram formados por pequenas unidades familiares de produção. Então essa ideia veio com ele”, explicou.
Já o representante da coordenação Nacional do MST, Cedenir de Oliveira, ressaltou que a luta de sua entidade carrega os ideais que sempre foram defendidos por José Gomes da Silva. “Mais do que celebrar e comemorar, temos que ter a consciência da importância que ele teve para a história desse País. Nós temos que continuar a luta dele pela reforma agrária. Ele completaria 100 anos, mas suas ideias em defesa da reforma agrária não são do século passado, são contemporâneas”, defendeu.
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Petistas reverenciam a memória de José Gomes
Vários parlamentares petistas também ocuparam a tribuna para reverenciar os 100 anos de nascimento de José Gomes da Silva. Todos os pronunciamentos elogiaram o compromisso de luta do homenageado com a defesa da agricultura familiar e da reforma agrária no País. Recém-chegada ao Parlamento, a deputada Elisangela Araújo (PT-BA) – agricultora familiar de origem – destacou que agora cabe a todas as pessoas que defendem a democratização do acesso à terra continuarem a luta de José Gomes.
“Precisamos visibilizar e fortalecer a ação dos movimentos sociais, dos movimentos do campo, porque estes são os que impulsionam a construção de políticas públicas, muitas hoje de sucesso no País. Porém, sabemos que temos um caminho ainda longo a percorrer para garantir o acesso à terra para quem deseja trabalhar e produzir alimentos”, alertou.
Também discursaram durante a sessão solene o representante da Secretária-Geral da Presidência da República, Renato Simões; o presidente do Incra, César Aldrighi; além dos deputados petistas Bohn Gass (RS), Airton Faleiro (PA) e Erika Kokay (DF).
Héber Carvalho