O depoimento do jornalista Glenn Greenwald à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado confirma integralmente as denúncias de conluio entre acusação e julgador no âmbito da Operação Lava Jato.
O editor de The Intercept Brasil falou à CCJ nesta quinta-feira (11). Foi o site noticioso dirigido por Greenwald que iniciou a divulgação das conversas entre os procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato, liderados por Deltan Dallagnol, e o ex-juiz Sérgio Moro, na época responsável por julgar os processos decorrentes da operação — prática ilícita, de acordo com a legislação brasileira.
Autenticidade das denúncias
Greenwald explicou aos senadores como teve acesso às mensagens e qual o método usado para corroborar sua autenticidade. O material foi recebido de uma fonte e periciado por técnicos contratados pelo Intercept e confrontados com os fatos—muitos deles antecipados ou comentados nos diálogos travados pelo aplicativo Telegram.
Além disso, os veículos que se associaram ao site noticioso coordenado por Greenwald para divulgar o material —entre eles o maior jornal impresso do País, a Folha de S. Paulo, e a revista semanal de maior circulação, a Veja—também checaram e atestaram a autenticidade das mensagens.
Esquivas x provas
“Quando esteve aqui na CCJ, Moro se esquivou das perguntas tratando as denúncias como sensacionalismo — palavra que o ex-juiz usou nada menos que 62 vezes. Hoje eu vejo um jornalista falar sobre provas e sustentar suas falas em provas”, concluiu o senador Paulo Rocha (PT-PA), que acompanhou a audiência na CCJ.
Além de Paulo Rocha, os senadores petistas Humberto Costa (Líder, PE), Jaques Wagner (BA), Jean Paul Prates (RN) e Rogério Carvalho (SE) também participaram da audiência com o editor de The Intercept Brasil.
Ato falho
O conluio entre o ex-juiz e os procuradores da Lava Jato foi corroborado até mesmo pelo ato falho do único senador bolsonarista que participou do debate com Greenwald. “As ações do então juiz Sérgio Moro, porque a função dele era chefiar, estar à frente aos trabalhos da Lava Jato”, afirmou Robson do Val (Cidadania-ES), que também insistiu para que o jornalista entregasse o material para ser periciado por “instituições estrangeiras como a CIA ou o FBI”.
A Operação Lava Jato é uma operação policial, na qual a Polícia Federal investiga, os procuradores acusam e o juiz, no caso Moro, julga.
Greenwald esclareceu o senador que “nas democracias, jornalistas não entregam o material de suas reportagens para a polícia”.
No Twitter, líder do PT, Humberto Costa, ironizou a solicitação de Marcos do Val: “Parece piada. Justamente órgãos para os quais Moro bate continência e vive visitando às escondidas. Antes de mais nada, Moro e Dallagnol podiam entregar seus celulares à PF”, afirmou, em alusão à recusa dos ex-juiz e do procurador em permitirem a perícia em seus aparelhos.
Comportamento corrupto
Glenn Greenwald atestou, com base no material analisado pelo Intercept, que “o comportamento de Sérgio Moro — não só às vezes, mas o tempo todo — era antiético. Era corrupto, corrompeu o processo judicial”. Ele revelou que ao ler as conversas entre o ex-juiz e procuradores pela primeira vez, ficou “muito chocado. Antes de se dedicar ao jornalismo, o editor de The Intercept atuou como advogado constitucionalista nos Estados Unidos, seu país natal.
O jornalista ressaltou que um processo justo exige um juiz imparcial e equidistante entre acusado e acusador. “Todas as informações que publicamos até agora e que ainda vamos publicar mostram que Sergio Moro nunca fez isso”.
Associação criminosa
“Não sou eu que digo isso. Não é o PT que diz. São os procuradores falando”, enfatizou Greenwald, ao citar uma mensagem da procuradora da República Monique Checker no grupo da Lava Jato no aplicativo Telegram, já divulgada pelo Intercept, segundo a qual “Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”.
Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o conteúdo das mensagens entre Moro e os procuradores já não deixa mais dúvidas sobre “a parcialidade, a seletividade e a associação criminosa” do ex-juiz com os acusadores.
Ação nas sombras
Glenn Greenwald chama a atenção para o fato de que nem Moro, nem Dallagnol nem qualquer outro integrante do grupo negou, até agora, o conteúdo das mensagens. O ex-juiz tem apelado para a “amnésia”, como descreveu o jornalista, alegando não se lembrar das conversas divulgadas pelo Intercept e demais veículos.
“Eles não negaram, nem vão negar em momento algum, porque sabem que é tudo verdade. Preferem atuar nas sombras para tentar quebrar a credibilidade de Glenn Greenwald e do Intercept”, avalia o senador Humberto Costa (PE).
Bomba atômica
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) manifestou indignação com os resultados da Lava Jato na economia brasileira. “Em 2014 (ano de início da operação), o Brasil estava bombando, com pleno emprego”, lembrou ele. “Que bomba atômica foi essa que além de combater a corrupção—o que é ótimo e salutar—demoliu a construção civil de grande porte, afetou sensivelmente a Petrobras e prejudicou seriamente a nossa economia”?
Prates ressaltou que empresas de grande porte, com atuação global, já passaram por investigações rigorosas em outros países, mas não foram destruídas como a Lava Jato destruiu setores essenciais da economia brasileira. Marcas como Samsung, Volkswagen, Chevron-Texaco, Siemens e Nestlé foram investigadas por corrupção, tiveram direções destituídas e executivos presos, mas continuaram a fazer negócios e a gerar empregos.
Veja o vídeo do senador:
Por PT no Senado