Seminário aponta a retomada do papel do Estado na indução do desenvolvimento como forma de recuperar a economia brasileira

Foto: Lula Marques

Especialistas e parlamentares defenderam a retomada do papel do Estado como indutor do desenvolvimento, a partir de políticas públicas voltadas ao combate à desigualdade social, ao desemprego e a desindustrialização do País como a chave para a recuperação da economia do Brasil em um futuro governo Lula. As declarações aconteceram durante o Seminário Resistência, Travessia e Esperança que, nesta segunda-feira (4), discutiu o tema Economia. O evento foi coordenado pelo deputado Enio Verri (PT-PR), de forma presencial, e pela prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), de forma virtual.

Durante a abertura, o líder da Bancada do PT, deputado Reginaldo Lopes (MG), enumerou vários desafios que um futuro governo Lula terá que realizar para consertar a economia do País.

“O próximo governo terá como desafio enfrentar os temas que este atual governo (de Bolsonaro) subestimou, como a questão do desemprego, a queda da renda e a falta de crédito. Sem estes elementos não podemos ter um crescimento sustentável. Temos que ter mais e melhores empregos, recuperar a massa salarial, onde quase 70% dos brasileiros ganham apenas o salário mínimo e ainda investir em obras de infraestrutura, que o governo Bolsonaro terceirizou para as indicações das emendas parlamentares”, criticou.

O parlamentar apontou ainda que um futuro governo Lula terá que enfrentar também as desigualdades sociais e a desindustrialização, além de adotar uma Reforma Tributária progressiva com o objetivo de criar um mercado interno pujante que sustente o crescimento do País.

O líder do PT no Senado, senador Paulo Rocha (PA), ressaltou que o debate desses temas é importante para subsidiar as propostas de reconstrução do País no programa de governo Lula.

“O próprio Lula já disse que só faz sentido voltar ao governo se for para fazer um governo melhor do que ele fez durante oito anos. Nesse sentido, esse seminário tem o objetivo de mobilizar nossos quadros técnicos e nossa militância para ajudar o programa de governo do Lula dar respostas a nossa economia, que está no buraco, e reconstruir as nossas políticas públicas, que estão destruídas”, lembrou.

Foto: Lula Marques

Por usa vez, o presidente da Fundação Perseu Abramo, o ex-ministro e ex-senador Aloizio Mercadante, alertou para o tamanho do desafio que será preciso transpor para recolocar o País na rota do desenvolvimento econômico com justiça social.

“O centro do novo governo deverá ser o combate à desigualdade social com distribuição de renda. Para isso teremos que combater a fome, voltar com o Bolsa-Família, investirmos mais em educação, recuperar a capacidade de investimento público com novas obras públicas. Também precisamos de uma política de reindustrialização do País, para gerarmos empregos, além apostarmos na transição ecológica, voltada a uma economia verde e buscarmos aos avanços tecnológicos. Para isso precisaremos de um novo marco fiscal, superando ainda o teto de gastos”, afirmou.

Foto: Lula Marques

Papel do Brasil na nova geopolítica mundial

Representando o Instituto Lula, o economista e presidente da instituição, Márcio Pochmann, disse que um futuro governo Lula precisará resgatar a capacidade do País em pensar o seu futuro. Ele lembrou que a geopolítica atual aponta para o deslocamento do centro de influência do poder econômico para o Oriente – via China – e que o Brasil precisará fazer a escolha da forma como vai se inserir nessa nova ordem econômica mundial.

“Continuaremos com nosso modelo primário exportador, onde produzimos grãos e alimentos para serem usados para alimentar animais em outros países enquanto aqui no Brasil milhões passam fome? Seguiremos como País consumidor de produtos e serviços digitais? Não quero dizer que devemos abdicar da nossa produção rural ou mineral, mas devemos avançar na industrialização e na assimilação de novas tecnologias, reorganizando nosso sistema educacional e tecnológico para obtermos mais avanços. Temos muito o que fazer”, alertou.

Ao analisar a conjuntura internacional, o economista e presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antônio Lacerda, ressaltou que o Brasil precisa ainda reposicionar sua produção diante da crise das cadeias globais de produção, agravada durante a pandemia.

“O discurso da globalização produtiva, de que os Países podem se abastecer independente das fronteiras, foi posto em cheque durante a atual pandemia. Diante da realidade da desglobalização do mundo produtivo, países já estão se reposicionando diante do desabastecimento. Os Estados Unidos e a Europa já estão reativando cadeias produtivas antes abandonadas. Diante disso, o Brasil não pode se tornar dependente apenas de commodities. Precisamos nos reindustrializar, gerando emprego para os 29 milhões de brasileiros que estão fora do mercado de trabalho, para que tenhamos um desenvolvimento soberano e sustentável”, declarou.

O desastre da política econômica de Bolsonaro-Paulo Guedes

Já o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BNDES, o economista Guido Mantega, alertou que reconstruir a economia do País não será tarefa fácil diante da atual crise brasileira. Segundo ele, atualmente o Brasil segue para o pior cenário possível de uma economia, com uma estagflação – quando se combina estagnação econômica e inflação alta – com alto desemprego, corrosão do poder aquisitivo e aumento da taxa de juros para tentar conter a alta inflacionária, mas que só agrava a recessão.

“O cenário para o final de 2022 é dramático. Teremos um crescimento do PIB de 0,5% ou um crescimento negativo de até -1%, segundo alguns analistas. O pior de tudo é que ainda temos uma inflação que deverá ficar entre 8% e 10%. Ou seja, cairemos num círculo negativo com inflação elevada, queda do poder aquisitivo, com consequente queda da demanda interna e ainda com o Banco Central tentando conter a inflação aumentado juros, que devem chegar a 13%, retraindo ainda mais a atividade econômica”, lamentou.

O ex-ministro ainda desmistificou as justificativas dadas por bolsonaristas de que a inflação alta no Brasil é culpa apenas da pandemia.

“Todos os 42 países, que juntos tem três quartos do PIB, tiveram alta da inflação por conta da pandemia. A diferença em relação ao Brasil é que todos estão crescendo. Nós somos o país entre esses 42 que terá o menor crescimento, com exceção da Rússia, que passa por uma guerra. Não dá para culpar a pandemia, porque todo o planeta sofreu com a pandemia. A diferença é que os outros países tiveram políticas públicas para recuperar a economia. Aqui está a incompetência do governo Bolsonaro, que é um dos piores do mundo”, criticou Mantega.

 

Héber Carvalho

 

 

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