Retrato do Brasil: homicídios atingem principalmente negros, independentemente da condição social

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Racismo mata! Essa é uma das conclusões de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta segunda-feira (21), um dia após as comemorações do Dia da Consciência Negra (20) que, na cidade do Rio de Janeiro, foi marcado por mais um episódio de violência contra a população negra e pobre do Brasil. No domingo, a comunidade carioca da Cidade de Deus amanheceu com a notícia da execução de sete pessoas: um adolescente de 17 anos, quatro jovens entre 20 e 24 anos e dois adultos de 30 e 34 anos. Ao que tudo indica, os assassinatos foram precedidos de tortura.

Esse fato reforça outras teses já comprovadas em pesquisas, inclusive do próprio Ipea. Estudo divulgado em março deste ano mostrou que os homicídios no Brasil atingem principalmente determinada classe social e faixa etária: são jovens, negros, de baixa escolaridade (até sete anos de estudo), que são mortos, em sua maioria, nos fins de semana. O ingrediente a mais do estudo é o fato de os pesquisadores conseguirem provar que só por uma pessoa ser negra – mesmo em condições socioeconômica semelhantes a um indivíduo branco – ela tem mais chances de ser assassinada. Essas chances seriam 23,5% maiores.

Para Daniel Cerqueira, um dos autores da pesquisa, vários mecanismos podem explicar essa diferença que passa pelo estereótipo criado pela sociedade com relação ao negro, como “perigoso” ou “criminoso”. “O primeiro deles é o racismo institucional das polícias. Por outro lado, no campo das relações interpessoais, um pesquisador da Universidade de Chicago fez vários experimentos comportamentais com videogames e mostrou que a chance de se atirar em indivíduos afrodescendentes é significativamente maior do que se atirar em indivíduos brancos. Por fim, há o papel da mídia que repercute maciçamente a morte de um branco, ao passo que ignora a morte de negros, ou os estigmatiza nos programas policialescos como ‘vagabundos’ ou ‘criminosos’”, detalha.

Na comunidade Cidade de Deus, o que ocorreu foi mais um caso de violência institucional do Estado brasileiro, da qual se referiu Cerqueira. Depois de um sábado (19) inteiro de ostensivas operações no local, a queda de um helicóptero da PM, por volta das 18h no local, rapidamente ganhou os noticiários como se tivesse sido abatido por traficantes que trocavam tiros com a polícia. No dia seguinte, são encontrados em um brejo os corpos dos sete homens supostamente envolvidos com o tráfico. Em um dos vídeos postado em redes sociais, o pai de um deles desespera-se: “Eles foram executados. Tem marca de tortura, tem tiro na nuca.” O pai chega a simular a posição em que o filho foi executado.

Para a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), embora não haja confirmação, essa é a maior suspeita. “A gente não sabe ainda se o fato da caída do helicóptero – que não apresentou furo de bala segundo a perícia preliminar – motivou todas essas mortes. A verdade é que a comunidade está muito assustada. E tudo isso coincidiu justamente com as comemorações do Dia da Consciência Negra, em que as manifestações chamavam a atenção para o assassinato de jovens negros no Brasil. Para nós, foi um choque bárbaro saber da notícia dessas sete mortes, assim como é lamentável a morte dos quatro policiais que estavam no helicóptero, que eram trabalhadores e não estavam atirando”.

O detalhe mais intrigante da história veio por meio do próprio secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Roberto Sá: “A perícia não identificou marcas de tiro na aeronave ainda.” E reforça: “É muito cedo para confirmarmos qualquer coisa ainda”. A tese de execução promovida por policiais em revide à suposta derrubada do helicóptero ganhou força a partir das denúncias feitas por parentes das vítimas. Em outro vídeo postado nas redes, uma mãe desesperada grita para os policiais: “Vou procurar meu filho agora! Meu filho está dentro do mato, morto! Morto! Morto! Eu vou entrar. O sangue é meu! Eu sou mãe!”.

PT na Câmara com Agências

Foto: Fernando Frazão

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