A desigualdade econômica e social se aprofunda e o país vive a pior crise da história. Um resultado perverso da soma de um governo federal negligente, negacionista e elitista que não olha para o povo e deixou prosperar a pandemia de Covid-19 que já matou mais de meio milhão de brasileiras e brasileiros.
Os efeitos da pífia retomada econômica vão demorar para chegar às trabalhadoras e trabalhadores. A profunda crise provocada pelo modelo ultraliberal de Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, deve levar 1,2 milhão de famílias para as classes D e E (renda mensal inferior a R$ 2,7 mil), segundo estudo divulgado esta semana pela Tendências Consultoria. A causa principal é o aumento de desocupados, principalmente, dos informais. O Nordeste será a região mais afetada, com queda de 8,6% na renda das famílias.
Se em 2019, cenário pré-pandêmico, a situação já era ruim, com 12,6 milhões de desempregados e com 41,1% da população em trabalho informal, agora, vai de mal a pior. Em 2021, a taxa de desemprego deve ficar em 14,5%, a 14ª maior do mundo, à frente de países como Albânia e Sérvia, de acordo com o levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating. Já são mais de 40 milhões de desempregados e subempregados no Brasil.
O agravamento da crise é reflexo, principalmente, da ausência de um governo voltado para quem mais precisa. Desde 2016, quando houve o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, não há ganho real do salário mínimo, enquanto há uma escalada dos preços da alimentação, transporte, gás e aluguel. A inflação já ultrapassou 8%, empobrecendo os trabalhadores e a classe média.
Isso sem falar no auxílio emergencial, que não atende às necessidades básicas de milhões de brasileiras e brasileiros que se veem acuados entre o vírus e a fome e ficam combalidos diante da desesperança. Por outro lado, os 10% mais ricos do Brasil concentram 57% da renda nacional e vão muito bem, obrigado.
As ações de Bolsonaro são antipopulares e antinacionais. Exemplos não faltam. A entrega da Eletrobras a estrangeiros a preço de banana, o anúncio da reforma administrativa que ao invés de combater privilégios vai é atingir os servidores públicos que ganham menos, como os que trabalham em hospitais, escolas e na segurança pública, em atendimento à população. Essa reforma dá a Bolsonaro a possibilidade de nomear mais de 90 mil pessoas para cargos de confiança, 15 vezes mais que o limite atual. Há estudos que apontam que poderão ser nomeados até 1 milhão de servidores, caso passe a reforma que é feita em nome de um “Estado mínimo”, mas é na prática a abertura total para aparelhamento da máquina pública pelo atual governo.
Além disso, o governo tem a coragem de apresentar propostas esdrúxulas como doação de sobras e alimentos vencidos às pessoas que passam fome no Brasil – hoje, graças a Bolsonaro, pelo menos 125 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar. Ou seja, mais da metade da população brasileira não se alimenta adequadamente, enquanto o governo desprestigia a agricultura familiar e se vangloria de exportar soja e milho que vão alimentar animais em outros países.
É preciso vontade política para enfrentar os problemas do País. É necessário um programa que trate, a fundo, a questão do desemprego, além de políticas de combate à desigualdade social. Há saídas sem necessidade de colocar a conta nas costas do povo, como, por exemplo, a taxação das grandes fortunas. É preciso valorizar os serviços públicos para garantir saúde, educação e segurança. É urgente o avanço da imunização em todo país.
Mas o governo conduzido por Bolsonaro age na contramão dos interesses da maioria da população brasileira. Como diz o ex-presidente Lula, é necessário “governar para todos, mas, entre todos, olhar para a parte mais pobre do nosso país, que é ela que precisa.” E Bolsonaro parece só ter olhos para os seus bajuladores.
A conjuntura não é nada otimista. Mas somos resistência, somos madeira de lei que cupim não rói. E neste governo Bolsonaro, não basta ser madeira, é preciso ser cupim também. Trata-se de um inseto que cumpre uma importante função na recuperação da natureza durante a estiagem: eles guardam nutrientes e materiais indispensáveis à fertilidade das árvores. Em tempo de escassez, seremos guardiões da humanidade, do senso de justiça social, do respeito e da democracia. Faremos reflorescer o Brasil de todas e todos. É preciso resistir para reconstruir!
*Carlos Veras é deputado federal (PT-PE) e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM).