Projeto que uniformiza aplicação de juros em contratos de dívida é aprovado com voto do PT

Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

O plenário da Câmara aprovou na noite desta terça-feira (19/3) o projeto de lei (PL 6233/23), do Poder Executivo, que uniformiza a aplicação de juros nos contratos de dívida sem taxa convencionada ou em ações de responsabilidade civil extracontratual (perdas e danos). O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), enfatizou que a proposta é importante para melhorar o ambiente de negócios do País. “O texto aprovado dá segurança jurídica para o mercado de crédito”, enfatizou.

Líder do Governo, deputado José Guimarães. Foto: Gabriel Paiva

O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) também afirmou que a proposta vai facilitar e desenvolver o mercado de crédito diretamente entre as empresas. “Hoje, por causa da lei da usura, duas empresas que estão contratando têm de recorrer ao sistema bancário. Essa proposta, estimula a negociação direta. A organização do mercado de crédito no País é fundamental para que a nossa economia cresça e gere mais empregos”, argumentou.

Lindbergh explicou que o relator, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), aperfeiçoou o projeto, que unifica a taxa de juros em contratos em decisões do Poder Judiciário. “Hoje, o Poder Judiciário decide de formas diferentes — às vezes usa a taxa Selic, às vezes define o percentual de 1% ao mês. Eu acho que o relator aperfeiçoou o projeto ao retirar do texto o percentual de 0,5% ao mês, ou seja, ao diminuir a taxa de juros, e também ao colocar como opção a NTN-B ou a Selic, a que for mais baixa”, elogiou.

Deputado Lindbergh Farias. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Texto aprovado

Segundo o governo, o Poder Judiciário tem aplicado, por falta de consenso, a taxa Selic ou taxa real de 1% ao mês devido à pouca clareza no Código Civil sobre qual usar.

De acordo com o texto aprovado, que segue para apreciação do Senado, quando não previsto o pagamento de juros ou a previsão contratual não estipular qual, os juros moratórios, no ano, corresponderão ao menor percentual entre dois tipos de taxas, calculadas de forma anualizada: média aritmética simples das taxas para o prazo de cinco anos da estrutura a termo da taxa de juros real do título NTN-B, apuradas diariamente, nos 12 meses do ano-calendário que antecedem a sua definição; ou a resultante da acumulação diária da taxa Selic, durante os 12 meses do ano-calendário que antecedem a sua definição, deduzido o IPCA do período.

A NTN-B é um título emitido pelo Tesouro Nacional e paga o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais um juro fixo com bônus semestrais.

Assim, o cálculo levará em conta as taxas praticadas no ano anterior ao de seu cálculo. Por outro lado, o relator excluiu a previsão de uma taxa adicional de até 0,5% ao mês, que poderia ser reduzida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e incidiria junto à média do NTN-B.

Válido no ano

O texto aprovado prevê que qualquer uma das taxas terá período de vigência durante o ano-calendário de sua divulgação e será apurada de acordo com metodologia definida pelo CMN, com divulgação pelo Banco Central.

Na incidência dos juros sobre os contratos, eles serão calculados desde o termo inicial da correção devida até o pagamento efetivo com capitalização anual pro rata die (proporcionalmente aos dias decorridos).

A menor dessas duas taxas será aplicável nas seguintes situações: mútuos (empréstimos de coisas) com fins econômicos sem taxa convencionada; juros pelo atraso (mora) no cumprimento de uma obrigação negocial se as partes não estipularam outra taxa; responsabilidade civil decorrente de ato ilícito; e perdas e danos de modo amplo em que as partes envolvidas sequer tiveram a oportunidade de firmar um contrato.

Atualização monetária

No caso geral de inadimplemento de obrigações, atualmente o Código Civil prevê atualização monetária segundo índices oficiais de inflação, que são vários. A fim de uniformizar, o projeto prevê o uso do IPCA se o índice não tiver sido convencionado ou não estiver previsto em lei específica.

Essa atualização valerá inclusive para o atraso do segurador em pagar a indenização ao contratante no caso de sinistro (perda total de veículo segurado, por exemplo).

Condomínio

Sobre o atraso no pagamento do condomínio, o PL 6233/23 estipula que, se não houver outro convencionado, será usado o menor dos juros a serem divulgados pelo Banco Central. Atualmente, o Código Civil prevê juros de 1% ao mês. A multa continua igual, de até 2% sobre o débito.

Entre empresas

Para facilitar o empréstimo entre empresas fora do sistema financeiro, o texto prevê que o limite máximo de juros previsto no Decreto 22.626/33, conhecido como Lei da Usura, não será aplicado a obrigações contratadas entre pessoas jurídicas, àquelas representadas por títulos de crédito ou valores mobiliários, ou às contraídas perante fundos ou clubes de investimento.

Nessas situações, os juros, com ou sem capitalização, poderão ser pactuados livremente. Mas se não o forem, valerá a menor taxa média a ser divulgada pelo Banco Central.

Calculadora

Outra novidade no texto aprovado é que o Banco Central deverá tornar disponível uma calculadora on-line para simular a taxa de juros legal encontrada com a média dos títulos federais citada nas situações do cotidiano financeiro. No entanto, o BC não assumirá qualquer responsabilidade por perda ou dano resultante de eventuais interrupções no acesso ao aplicativo, atrasos, falhas ou imperfeições, assim como pelo uso das informações fornecidas.

Empréstimos

No texto aprovado foi incluído ainda dispositivo para deixar mais claro que esse tipo de taxa não se aplica àquelas usadas em transações do sistema financeiro (empréstimos, por exemplo).

 

Vânia Rodrigues, com Agência Câmara

 

 

 

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