Professor de medicina legal contesta laudos oficiais que apontam suicídios em delegacias do DF

O professor e doutor em Medicina Legal da Universidade de Valencia, na Espanha, Jorge Paulete Vanrell, apresentou nesta quarta-feira (7), na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara, estudo contestando laudos oficiais do Instituto de Criminalística (IC) e do Instituto Médico Legal (IML), ambos da Polícia Civil do Distrito Federal, que apontam o suicídio como a causa da morte de várias pessoas ocorridas recentemente em instituições prisionais do DF. O doutor em medicina forense analisou os laudos oficiais, de forma voluntária, a pedido da CDHM.

Sobre o caso do motorista da Caixa Econômica Federal Luis Cláudio Rodrigues Figueiredo, encontrado morto na cela de uma delegacia no dia 14 de julho do ano passado, o especialista destacou que o laudo oficial não permite chegar à conclusão de que a vítima tenha cometido suicídio. Luís Claudio foi detido após dirigir embriagado e provocar a colisão do veículo que dirigia contra um carro de um policial.  Informada da situação, a família pagou a fiança e um cunhado foi buscá-lo na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho). Porém, ao chegar encontrou Luís Cláudio sem vida.

“Há várias incongruências no laudo do IC e do IML. A perícia oficial não levou em consideração o estado mental da vítima, em completa embriaguez, nem a complexidade exigida para que a vítima pudesse se enforcar. Segundo o laudo, Luís Cláudio teria rasgado a camisa e a amarrado com um nó duplo no gradil de ventilação da cela e depois envolvido a outra ponta no pescoço. Como alguém bêbado teria condições de fazer tudo isso?”, indagou Jorge Vanrell.

O doutor em Medicina forense observou ainda que além dessas incongruências, o laudo oficial também não levou em consideração a hipótese de que mãos alheias tivessem amarrado a camisa envolta do pescoço de Luís Cláudio e o pendurado para ser enforcado com peso do próprio corpo. Jorge Vanrell também ressaltou que exames laboratoriais complementares pedidos para analisar o caso nunca foram entregues pela Polícia Civil do DF.

Adolescente – Em relação ao segundo caso, do adolescente Thiago Teles de Souza, de 15 anos, encontrado morto em uma cela da Delegacia da Criança e do Adolescente, há suspeita de que a causa da morte foi tortura e não suicídio. Segundo o especialista, o laudo oficial aponta lesões internas na garganta do adolescente e manchas no pulmão, compatíveis com sinais de tortura por afogamento. Nesses casos, uma mangueira é introduzida na garganta da vítima.

“Esse rapaz, não esteve em uma piscina nadando (antes de ser preso), não esteve no mar, então como pode ter apresentado essas manchas?”, indagou. Sobre outros dois casos de supostos suicídios dentro de delegacias do DF, Jorge Vanrell ressaltou que não foi possível aprofundar a análise porque a Polícia Civil só enviou cópias de fotos em preto e branco.

De posse das informações prestadas pelo doutor Jorge Vanrell, a deputada Erika Kokay (PT-DF) – vice-presidente da CDHM – avisou que irá acionar o Ministério Público do Distrito Federal. “Vamos levar o estudo do doutor Jorge Vanrell nesta quinta-feira (8) ao Procurador Chefe do MPDF, e pedir providências em relação ao caso do Luís Cláudio, que ainda está sob investigação, e também pedir a reabertura dos outros casos”, avisou.

Também presente na apresentação do relatório, o presidente da CDHM, deputado Paulão (PT-AL), ressaltou a importância do aprofundamento das investigações. “A perícia do doutor Jorge vem preencher uma lacuna nos laudos oficiais sobre a morte de Luís Cláudio e do adolescente Thiago que causam dúvidas na sociedade”, ressaltou.

 

Héber Carvalho

Foto: Gustavo Bezerra/PTnaCâmara

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