Nova reportagem da Vaza Jato divulgada nesta sexta-feira (18) pelo El País e Intercept Brasil revelou que a Operação Lava Jato protegeu o então vice Michel Temer para manter o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Duas semanas antes da data de afastamento de Dilma, em abril de 2016, os procuradores receberam um “anexo-bomba” contra Temer, mas escolheram rejeitar a proposta de delação que poderia levá-lo a uma condenação por corrupção. No entanto, três anos depois, em março de 2019, a Lava Jato utilizou essa mesma delação para mover uma ação penal contra o ex-presidente e pedir sua prisão preventiva. “São criminosos seletivos”, acusou o líder do PT deputado Paulo Pimenta (RS), em sua conta no Twitter.
Também em sua conta na rede social, a deputado Margarida Salomão (PT-MG) considerou “absolutamente escandaloso” a Lava Jato ter operado para o golpe. “Mais uma vez a Vaza Jato prova que os procuradores de Curitiba eram um escritório do crime político! Dessa vez, contribuindo para o golpe contra Dilma!”, protestou.
E o deputado Alencar Santana Braga (PT-SP) afirmou que “as entranhas do golpe” contra Dilma, Lula e o PT vão se revelando aos poucos. “Sérgio Moro e seus comparsas agiram politicamente e, na história, merecem a lata do lixo. Fizeram nascer Bolsonaro e o Brasil sofre”, lamentou.
“Gravíssimo”, assim a deputada Erika Kokay (PT-DF) resumiu mais uma atitude “imoral e ilícita” da turma da Lava Jato. “Às vésperas do golpe contra Dilma, Lava Jato rejeitou delação que prenderia Temer em 2019 por corrupção. A justificativa foi que as declarações não atendiam ao “interesse público”. O “interesse público” era derrubar Dilma, tirar o PT e jogar o Brasil no abismo!”, acusou.
Projeto Político
O deputado Helder Salomão (PT-ES), também comentou o “absurdo” em sua conta no Twitter afirmando que os procuradores da Lava Jato contribuíram com o golpe.“Tiraram Lula da disputa eleitoral e ajudaram a eleger Bolsonaro. A ‘maior operação de combate à corrupção’ é, na verdade, um projeto político”, criticou.
O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) reforçou que a “Lava Jato com relação a Lula, Dilma e o PT fizeram política o tempo todo, como nos mostra mais uma vez a nova revelação da Vaza Jato”. O deputado ainda sugeriu que todos a leitura da matéria “imperdível” do El Pais. (Veja a íntegra)
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) enfatizou que os crimes de Temer eram conhecidos pelos procuradores da Lava Jato antes do impeachment da Dilma e deixou uma pergunta para os seus seguidores: “Por que vocês acham que eles ficaram em silêncio?”
“O interesse da Lava Jato era um só: tirar Dilma, e Temer era importante nesse processo do golpe. Depois, as mesmas provas contra ele se tornaram de interesse público”, completou o deputado Odair Cunha (PT-MG).
O deputado Airton Faleiro (PT-PA) disse que todos já sabiam que houve golpe e que, agora, seus principais articulares o admitem publicamente. E provocou: “O que se discute agora é quem coordenou este golpe. A Lava Jato forte na bolsa de apostas”.
E o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) ironizou: “Os procuradores da Lava Jato que ajudaram a derrubar a Dilma deveriam apartar as brigas dentro do PSL”.
Os parlamentares petistas Beto Faro (PA), João Daniel (SE), Luizianne Lins (CE), Nelson Pelegrino (BA), Pedro Uczai (SC) e a Professora Rosa Neide (MT) também criticaram a atitude da turma da Lava Jato em suas redes sócias.
Delação “anexo–bomba”
A delação foi feita pelo empresário José Antunes Sobrinho, sócio da construtora Engevix, que relatou um pagamento de propina para Temer. Conversas no chat “Acordos Engevix” no Telegram mostram que procuradores de Curitiba, Rio e Brasília receberam a delação de Antunes em 4 de abril de 2016. O conteúdo da denúncia, batizada de “anexo-bomba”, dizia que Antunes fez um pagamento de R$1 milhão para atender a interesses de Temer, como compensação por um contrata na usina nuclear de Angra 3, da estatal de energia Eletronuclear.
Segundo o empresário, o pagamento foi entregue a um amigo do ex-presidente, o coronel João Baptista Lima Filho. O dinheiro veio de uma companhia prestadora de serviço do Aeroporto de Brasília, controlado pela Engevix.
No dia seguinte, 5 de abril de 2016, os procuradores comunicaram aos advogados de Antunes que não dariam prosseguimento às negociações da delação. “Pessoal de BSB e Lauro, o Antunes apresentou, neste momento, mais 2 anexos. Eles estão forçando a barra aqui. Informo que a opinião de CWB é contrária ao acordo”, afirmou o procurador Athayde Ribeiro, da força-tarefa de Curitiba. Em resposta, o procurador Lauro Coelho, da força-tarefa do Rio de Janeiro, disse que estava “ciente do teor”.
O contexto da época era de grande tensão. No mesmo dia em que os procuradores de Curitiba receberam a delação contra Temer, o então advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, fazia a defesa de Dilma na comissão do impeachment da Câmara dos Deputados. A suspeita de que Temer era um dos articuladores do golpe passou despercebida na época, algo também endossado pela Lava Jato, que fechou pelo menos 108 acordos de delação naquele mesmo ano.
Vânia Rodrigues, com Revista Fórum