A Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara Federal recebeu, nesta quarta-feira (23), John Shipton, pai de Julian Assange, condenado por divulgar – no exercício de sua profissão como jornalista – crimes praticados pelos Estados Unidos (EUA). Durante a audiência pública foi exibido um trailer do documentário “Ithaka – A luta de Assange” que conta a saga de John pela liberdade de seu filho.
Julian Assange é um ativista político que, através do Wikileaks, foi responsável por expor milhares de documentos confidenciais com informações sobre relações internacionais, espionagem e política global, resultando em um julgamento e condenação à extradição para os Estados Unidos. Uma sentença considerada arbitrária e injusta por muitas lideranças internacionais, inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
John Shipton iniciou uma peregrinação para dialogar com diversas figuras públicas acerca da importância da libertação de seu filho. Essa trajetória se transformou em um documentário que visa mostrar a importância do trabalho de Assange, no que se refere à defesa da transparência, do jornalismo e da liberdade de expressão.
Para Shipton, o conhecimento é um direito fundamental para todos. “A amarga determinação dos EUA de arruinar o elemento mais fundamental da Constituição Americana e os elementos dos direitos constitucionais estão sendo violados no caso de Julian. Eu tenho energia e determinação para defender Julian Assange”, destacou.
Ele também agradeceu o apoio do presidente Lula e dos povos latinos na defesa do jornalista. “O presidente Lula persistentemente tem falado e apoiado essa causa. E todos os povos da América Latina, particularmente o Brasil, estão levantando bandeiras para defender a causa de Julian Assange. Juntos nós vamos vencer”, asseverou.
Imprensa
A presidenta da Comissão, deputada Luizianne Lins (PT-CE) defende que todos aqueles que lutam pela liberdade de Assange juntem esforços, inclusive a imprensa brasileira e a internacional. “Nós temos uma avaliação de que Assange é um preso político e ele teve sua prisão política decretada em função da sua condição de jornalista. Objetivamente é preciso que a gente tenha essa dimensão (…) Assange, hoje, é uma das pessoas mais perseguidas do planeta. Julgado e condenado por exercer sua profissão e também por ter um forte compromisso com a verdade”.
Para a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) é preciso evidenciar toda injustiça que está acontecendo com Assange. Ela também reforçou a atuação do presidente Lula em defesa do jornalista, cobrando inclusive a própria imprensa. “Como que a imprensa se cala diante de um crime como esse que estão cometendo com o Assange? É realmente um crime contra a opinião, contra a liberdade de imprensa e contra a liberdade de expressão. Saiba que tem a nossa solidariedade e nós estamos juntos nessa caminhada. O senhor e o Assange não estão sozinhos”, garantiu Gleisi.
Liberdade
“Não existe democracia sem liberdade de imprensa, sem liberdade de expressão e sem comunicação democrática”, afirmou a deputada Jack Rocha (PT-ES), vice-presidente da CDHMIR e autora do requerimento.
Ela defendeu o trabalho jornalístico de Assange e lembrou quando o ex-juiz Sergio Moro grampeou, sem autorização, uma conversa entre a presidenta Dilma Rousseff e Lula. “Estamos aqui para defender o trabalho jornalístico que revelou ao mundo os crimes praticados e as atitudes nocivas aos Direitos Humanos, os crimes de guerra, a ingerência e espionagem montada contra diversos países pelo staff do poder estadunidense, como aconteceu aqui no Brasil, quando grampearam a presidenta Dilma”, apontou Jack.
Ataques aos direitos
Para Jack Rocha, a prisão e extradição de Julian Assange ataca o direito de se informar, tendo como parâmetro a verdade dos fatos. “A humanidade assiste e testemunha um crime ao manter Assange na prisão. Ele é herói dos tempos atuais (…) essa prisão, ou extradição, é um ataque de direitos, é uma transgressão às liberdades fundamentais, ao processo democrático, que demonstra cabalmente a fragilidade em que se encontram as estruturas democráticas de diversos países”.
“Qualquer injustiça que aconteça em qualquer canto do mundo, é uma injustiça que nos atinge, qualquer violação de direitos que aconteça ‘em qualquer pedaço de qualquer lugar’, como diz a canção, nos atinge também”, disse a deputada Erika Kokay (PT-DF). Para ela a liberdade de Assange envolve a liberdade do exercício profissional, a liberdade de expressão e o direito à informação.
Império
Para o deputado Jilmar Tatto (PT-SP) os EUA é “um país imperialista, autoritário, antidemocrático e posa como uma democracia ocidental”. Ele destacou a coragem do jornalista em denunciar o superpoderoso governo americano. “Ele teve a coragem de denunciar e dizer como as tropas americanas e o governo americano estava agindo em relação a outros países”.
O deputado espera que os EUA parem de perseguir Assange e deixe ele livre. “Livre para pensar, livre para agir e livre para denunciar inclusive os desmandos de países autoritários como são os EUA”.
“Assange é um homem de coragem que denunciou as arbitrariedades cometidas pelo império, portanto, nós temos a obrigação moral, com dignidade, como homens e mulheres, esse compromisso de fazer essa defesa”, afirmou o deputado João Daniel (PT-SE).
Os deputados Padre João (PT-MG), Luiz Couto (PT-PB) e Miguel Ângelo (PT-MG) também participaram da reunião. Eles prestaram solidariedade ao John Shipton e a Assange, além de se colocarem à disposição na luta pela liberdade do jornalista.
Lorena Vale