O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), desafiou hoje (6) o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a explicar suspeitas que pairam sobre sua participação numa tramoia envolvendo graves irregularidades na renegociação do acordo entre Brasil e Paraguai acerca da comercialização de energia gerada pela usina de Itaipu.
O nome do filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) surge no contexto de denúncias da imprensa paraguaia, que semana passada revelou acordo secreto firmado em maio entre os dois governos o qual excluía uma cláusula em que o país vizinho abria mão de vender energia excedente a que tem direito para beneficiar a empresa brasileira Léros Comercializadora, que seria ligada à família Bolsonaro.
Denúncias gravíssimas
Para Pimenta, as denúncias são “extremamente graves”, já que Eduardo Bolsonaro – cotado pelo próprio pai para ser indicado ao cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos – poderia ter agido como “lobista internacional” para favorecer uma empresa brasileira. O deputado do PSL, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, já demonstrou publicamente ter relações com membros da elite do país vizinho.
Segundo jornais paraguaios, houve pressão de lobistas da Léros para que se retirasse do acordo cláusula que possibilitaria que a empresa estatal paraguaia ANDE (Administración Nacional de Eletricidad) pudesse comercializar o excedente de energia no mercado livre de energia do Brasil.
Família Bolsonaro e PSL
O advogado paraguaio José Rodriguez Gonzalez atuou nas negociações a cargo do vice-presidente paraguaio Hugo Velázquez e em nome dele intermediou negócios com a ANDE e a Léros. Em mensagens divulgadas pela imprensa paraguaia, González informou que o grupo Léros é ligado à família do presidente Jair Bolsonaro e que em uma das reuniões estava Alexandre Giordano, suplente do senador de Major Olímpio (PSL-SP). Giordano fez as negociações em nome da Léros.
Pimenta leu uma série de perguntas dirigidas a Eduardo Bolsonaro, entre elas que esclareça se Alexandre Giordano tem autorização para “negociar em nome do Brasil acordos internacionais”.
Pimenta indagou também ao deputado do PSL se ele tinha conhecimento do teor do acordo assinado, lembrando de sua amizade com Félix Ugarte, filho do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez. Essa amizade foi postada pelo próprio Eduardo Bolsonaro em seu perfil do Facebook, em novembro passado. E o deputado ainda recebeu a comitiva de Abdo em sua visita a Brasília, em março.
“As paredes do Itamaraty dizem que o senhor é o verdadeiro chanceler. Os jornais dizem o mesmo”, ironizou Pimenta.
Abaixo, alguns dos questionamentos formulados por Paulo Pimenta ao deputado do PSL:
- O senhor participou de alguma reunião com o ministro da Fazenda (Paraguai), Benigno Lopes, ou o ministro da Indústria e Comércio, Gustavo Leite, em que tenham sido abordadas as negociações de Itaipu?
- O senhor conheceu Alexandre Giordano, Kleber Ferreira ou José Rodriguez Gonzalez: Sabe se algum deles esteve na recepção do dia 12 de março no Itamaraty por conta da visita do presidente Paraguaio ao Brasil?
- Além da recepção no Itamaraty o senhor participou de algum outro encontro com membros da delegação paraguaia?
- O senhor teve algum contato ou conhece os proprietários ou diretores da Léros Comercializadora?
- Qual o interesse do mercado brasileiro em comercializar energia direta com o Paraguai?
- Por que o acordo foi negociado sigilosamente entre os dois países?
- Quais foram as autoridades brasileiras que participaram da tal negociação?
- Qual a relação da família Bolsonaro com a empresa Léros?
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