Petistas protestam contra avanço na Câmara de PEC que retira direitos de povos indígenas

NILTO TATO 02 06 15

Parlamentares da Bancada do PT se revezaram na tribuna da Câmara nesta quarta-feira (28) para criticar e lamentar a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC 215/00), que transfere do Executivo para o Legislativo a prerrogativa de demarcação das terras indígenas e quilombolas. O deputado Nilto Tatto (PT-SP), que participou da comissão especial que analisou a matéria, disse que é preciso alertar a população para o que está acontecendo na Câmara. “Há um conjunto de projetos legislativos tramitando aqui na Casa que representam grande ameaça ao projeto de sociedade que começamos a construir na redemocratização do País”, alertou.

Um deles, segundo Nilto Tatto, é a PEC 215, que ameaça terras indígenas, territórios quilombolas e Unidades de Conservação. “Essa é a chamada de PEC da Morte porque ameaça o acesso a terra, que é a condição fundamental para que indígenas e populações tradicionais vivam com dignidade e mantenham viva sua cultura”, afirmou.

Nilto Tatto lembrou que nas últimas décadas o País avançou ao reconhecer que a diversidade cultural é uma riqueza do Brasil. “Vínhamos em uma trajetória de acabar com a guerra contra o diferente. A sociedade decidiu construir um Brasil em que todos têm direitos; um País que contempla a diversidade cultural e étnica. A Constituição brasileira, assim, garantiu o direito dos povos indígenas a terra e à sua própria vida”, afirmou. Agora, continuou o deputado, o que está acontecendo é que uma minoria da sociedade, que construiu uma maioria momentânea nesta Casa, “quer parar os processos de demarcação de terras indígenas”, criticou.

O deputado Paulão (PT-AL) também foi à tribuna afirmar que a PEC 215 é um equívoco, “pois beneficia a bancada ruralista em detrimento dos interesses de comunidades indígenas e quilombolas”. O texto aprovado, segundo Paulão, é um retrocesso no Estado Democrático de Direito. “Não podemos deixar que índios e quilombolas sejam mais uma vez espoliados, massacrados por leis injustas que não representam os interesses da sociedade civil, mas os interesses de latifundiários”, frisou.

O deputado Valmir Assunção (PT-BA) destacou que a aprovação da PEC 215 é um ataque aos direitos dos povos indígenas ao seu território. “A tentativa de se retirar do Executivo a demarcação de terras indígenas é apenas um pretexto para que se entrave cada vez mais o processo de demarcação, tal como já fazem com a reforma agrária”, criticou. Na avaliação do deputado Assunção, “é notória a intenção do agronegócio e do latifúndio de avançar sobre as terras demarcadas, sobre o direito dos povos indígenas”.

A ofensiva contra os territórios indígenas, como a PEC 215 e tantos outros que atacam o direito à consulta prévia e precarizam a Funai, segundo Valmir Assunção, são para “mercantilizar as terras demarcadas e as que estão no processo de reconhecimento como territórios indígenas”.

Violência – Valmir Assunção fez questão de citar dados do relatório ‘Violência contra os Povos Indígenas do Brasil’, produzido pelo Conselho Indigenista Missionário referente a 2014. O documento aponta um aumento dos casos de violência e violações contra integrantes das comunidades indígenas. No ano passado, 138 índios foram assassinados, contra 97 casos no ano anterior. Um dos dados mais alarmantes é o número de suicídios, que chegou a 135, ante 73 ocorrências em 2013. Nos casos de suicídio, há o entendimento de que, em grande medida, as ocorrências estão relacionadas à falta de perspectivas para os índios que precisam da terra para viver e trabalhar, em harmonia com suas culturas. Os 135 casos de 2014 configuram o maior número em 29 anos, com predomínio de ocorrências no Mato Grosso do Sul, com 48 suicídios, sem dúvidas, entre os Guarani-Kaiowá – estes cada dia mais atacados pelo latifúndio local.

Apoio – O deputado João Daniel (PT-SE) também repudiou a aprovação da PEC e reafirmou o seu total apoio aos povos indígenas do Brasil. “Manifesto o meu apoio em nome do povo de Xocó, em Sergipe, que ontem fez uma grande manifestação na Rota do Sertão cobrando uma posição da bancada federal de Sergipe sobre a PEC 215, à qual somos contrários”. E continuou: “É vergonhoso a aprovação dessa PEC que levará a conflitos, à tristeza e ao fim do sonho de tantos indígenas brasileiros que querem suas áreas demarcadas”. O deputado Zé Geraldo (PT-PA) também criticou a aprovação da PEC e declarou o seu apoio aos povos indígenas e quilombolas.

Mobilização – O deputado Paulão, também na tribuna, informou que povos indígenas de vários estados estão mobilizados contra a PEC 215, que ainda será votada em dois turnos pelo plenário da Câmara. Em Alagoas, segundo ele, desde o início da semana estão ocorrendo bloqueios em rodovias por conta de manifestações nos municípios de Delmiro Gouveia, Novo Lino e Joaquim Gomes.

O líder indígena Júnior Xucuru, que acompanhou as mobilizações contrárias à votação e a aprovação da PEC 215 na comissão especial, na noite de terça-feira (27), informou que as etnias em todo o País estão mobilizadas em protesto contra a aprovação da PEC. “Já entramos em contato com todas as etnias do Brasil, que são mais de 305. A partir de hoje (ontem), está declarada a guerra ao agronegócio e aos não-indígenas. E vamos para a luta. Se for para morrer, nós vamos morrer todo mundo junto”, afirmou.

Vânia Rodrigues

Foto: Gustavo Bezerra

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