Parlamentares do PT ironizaram as explicações dadas nesta terça-feira (14) pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, sobre as relações do governo Bolsonaro com o homem mais rico do planeta, Elon Musk. Durante audiência pública na Câmara, o ministro disse que o bilionário norte-americano tem apenas o interesse de “ajudar o Brasil e a Amazônia” ao oferecer serviços de “internet para escolas isoladas e monitoramento ambiental” na região por meio de sua empresa de satélites, a Starlink. O deputado Leo de Brito (PT-AC) foi um dos autores dos vários requerimentos para a realização do debate com o ministro.
Na reunião, o parlamentar acriano questionou os motivos da relação de proximidade do ministro com o bilionário. “Está clara a relação promíscua entre o governo brasileiro e o bilionário Elon Musk, que inclusive se utilizou do Ministério das Comunicações para pressionar a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que é uma agência governamental autônoma”, afirmou Leo de Brito.
A declaração do parlamentar fez referência a uma reportagem publicada em março pelo site Brasil de Fato, baseado em informações obtidas via Lei de Acesso a Informação (LAI). A matéria revelou que o Ministério das Comunicações do governo Bolsonaro pressionou a Anatel para acelerar a autorização que liberou o oferecimento dos serviços de internet da Starlink no Brasil.
Ao responder os questionamentos do parlamentar petista, o ministro Fábio Faria reconheceu que ele e o ministério fizeram contato direto com Elon Musk com o objetivo de “atrair investimentos para o Brasil”. Segundo ele, como resultado dessa ação o dono de empresas como Starlink, SpaceX e Tesla visitou o Brasil em maio, quando anunciou o fornecimento gratuito de conexão de internet a escolas na Região Amazônica.
“O Elon Musk planeja ter até 40 mil satélites em órbita, e será o único que possuirá equipamento com laser que detecta até o barulho de uma serra elétrica em ação na floresta para combater o desmatamento ilegal. Ele (Elon Musk) tem interesse em ajudar a Amazônia”, disse Fábio Faria sobre o suposto interesse filantrópico do homem mais rico do planeta, e ignorando a realidade atual que mostra o descaso do governo Bolsonaro com a proteção ambiental da região.
“Filantropia”
O deputado Leo de Brito destacou que não acredita nas intenções filantrópicas de Elon Musk. “O que está em jogo é a soberania nacional, porque estamos falando de uma empresa que tem interesse na mineração e em informações sobre a Amazônia. Não tem nada de filantropia, muito menos de bondade com o povo brasileiro”, duvidou.
O parlamentar lembrou, por exemplo, que Elon Musk é um bilionário que já declarou pelo Twitter – rede social que atualmente demonstra interesse em comprar – que apoiou o golpe que derrubou o então presidente eleito da Bolívia, Evo Morales. Na ocasião, Evo foi “substituído” pela então senadora Jeanine Añez, recentemente condenada a 10 anos de prisão pela Justiça do País por conta de sua participação no golpe de Estado em 2019.
“O interesse do Elon Musk na Bolívia, por exemplo, era o lítio – matéria prima da bateria dos carros elétricos da Tesla (empresa do bilionário) – e na Amazônia é o níquel, também usado nessas baterias. Portanto, essa relação do governo brasileiro com Elon Musk precisa ser esclarecida”, reiterou Leo de Brito.
Na mesma linha, o deputado Jorge Solla (PT-BA) lembrou que no mundo capitalista “não existe almoço grátis”.
“É difícil de acreditar que alguém que acumula a fortuna que ele acumulou possa oferecer tanta bondade sem querer nada em troca. Acredito que ele até possa garantir a conectividade de escolas nesses locais (na Amazônia), mas sem contrapartidas? Isso seria muito raro na interlocução de bilionários e países, principalmente no oferecimento de um serviço sem nenhum lucro”, ironizou o parlamentar.
Héber Carvalho