Parlamentares da Bancada do PT comemoraram na sessão virtual, desta terça-feira (27), os ventos que na América Latina começam a soprar em defesa do povo, e criticaram o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que defende mudanças na Constituição brasileira por considerá-la cheia de direitos e com poucos deveres. “É impressionante que, no momento em que o povo chileno está nas ruas lutando e comemorando uma Constituição que eles vão construir para ter mais direitos, temos aqui no Brasil a fala absurda do líder do governo Bolsonaro – não poderia ser diferente -se aproveitando deste momento para dizer que temos de ter uma nova Constituição para ter menos direitos”, protestou o deputado Jorge Solla (PT-BA).
O parlamentar do PT baiano parabenizou os chilenos pelos 78% de votação a favor de mudar a Constituição e chamou a atenção para a decisão de se fazer, no Chile, uma assembleia nacional exclusiva com 50% de mulheres na representação. “O que eles querem são mais direitos! O que eles querem é ter um sistema de saúde público semelhante ao Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. O que eles querem é ter mais direitos trabalhistas, mais direitos previdenciários, maior distribuição de renda, menor concentração da renda, num País dos mais desiguais”, afirmou.
Golpe
Jorge Solla lembrou ao líder Ricardo Barros, que a Constituinte de 1988 enterrou a ditadura brasileira. “Não é possível que V.Exa. queira exumar esse cadáver e ressuscitar a ditadura, quando o Chile está abandonando os resquícios da mais sangrenta ditadura que houve no Cone Sul”. O petista foi taxativo: “Nós não podemos permitir que vocês continuem. Desde que tiraram a presidente Dilma do poder, com aquele golpe de Estado de 2016, vocês têm tirado da Constituição os direitos trabalhistas, os direitos previdenciários. Com a Emenda Constitucional 95 estão tirando, a cada ano, o direito à saúde, à educação, à assistência social. Vocês estão cortando a Constituição, mas vamos resistir e manter a Constituição e os direitos que ainda não foram destruídos por vocês”, assegurou.
A deputada Professora Rosa Neide (PT-MT) também falou dos novos ares de alguns países da América do Sul e desejou que os ventos sopram com mais democracia, com mais direitos. “Vimos a comemoração do Chile, que tem a Constituição da ditadura. Lá o povo está nas ruas comemorando o enterro de um modelo fracassado, um modelo que agora muitos querem trazer para cá, o modelo que o Chile rechaçou: sem empregos, sem casas, sem trabalhos, sem aposentadoria”.
Rosa Neide enfatizou que nesse momento em que os chilenos comemoram a possibilidade de uma nova Constituição, mais democratizada, é estranho ver o líder do governo se aproveitar dessa conjuntura para distorcer e criticar a nossa Constituição, que é fruto de um processo de redemocratização e de lutas por mais direitos. “Sugerir que a nossa Constituição tem direitos demais para eles, da elite, parece que a solução dos problemas passa necessariamente pelo ataque às políticas sociais, pela retirada de mais direitos dos trabalhadores e pela promoção de mais arrocho e mais encargos sobre o povo”, criticou.
Na avaliação da deputada, este governo falar em revisão constitucional cheira a um golpe. “Sobretudo pelo histórico de retiradas, manifestações de desrespeitos à legalidade constitucional: pedidos de intervenção militar, fechamento do Supremo Tribunal Federal, do Congresso, apologia à ditadura e a torturadores, entre outras coisas”, enumerou.
Ela lembrou ainda que o ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, esteve no Chile da ditadura e ajudou a destruir o estado de bem-estar social daquele país, com a retirada do direito previdenciário e com ataques aos direitos do povo chileno. “Lamentavelmente temos aqui no nosso Parlamento porta-vozes de Paulo Guedes, sempre em favor de menos direitos e menos Constituição”, completou.
Chilenos e bolivianos
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) parabenizou o povo chileno e o povo boliviano e afirmou que no Brasil nós devemos nos preparar, sim, “para assegurar a vitória do nosso povo contra os projetos genocidas, os projetos de ódio”. Ela observou que este momento das eleições municipais no Brasil já demonstram “um esvaziamento do que alguns chamam bolsonarismo, essa forma organizada pelos ‘gabinetes do ódio’, pelas milícias digitais ou criminosas de fato que na prática tornam as populações reféns”. Ela defende que esses grupos políticos e milicianos que atuam na política nacional precisam ser derrotados pelo próprio povo brasileiro.
“O projeto deste que foi derrotado no Chile, Paulo Guedes, ou mesmo daqueles que aprovam Pinochet e Bolsonaro, esse projeto no Brasil não trouxe nada de bom”, afirmou Rosário, acrescentando que mesmo com a dificuldade que o Brasil vive durante todo este ano, a política nacional não articulou uma melhor forma de enfrentar, manter e garantir a saúde pública, o emprego e a renda.
E o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), ao cumprimentar o povo chileno, destacou que o Chile foi vítima de uma ditadura implantada em 1973, por Pinochet, “uma das mais sanguinárias que se tem notícia”. Agora 78% da população daquele país votou para fazer uma nova Carta Magna. “O povo chileno está nas ruas desde o ano passado, duramente reprimido, mais de 300 sofreram tiros nos olhos, além dos assassinatos. Portanto, o povo chileno é corajoso. E nós aqui homenageamos para dizer que eles hoje representam mais uma luz, mais uma estrela que se acende no firmamento da esperança, após uma árdua luta”, elogiou.
Chinaglia homenageou também o presidente Salvador Allende, “que não se acovardou”. Ele lembrou que Allende foi democraticamente eleito, encarou o golpe, saiu morto do Palácio, mas deixou uma mensagem de luta, de humanismo. “E o povo chileno hoje, com certeza, honra a tradição de Salvador Allende”, completou.
O deputado do PT de São Paulo fez ainda uma referência ao processo eleitoral da Bolívia. “Não podemos esquecer que a organização dos estados americanos, feita de maneira precipitada e tendenciosa, colocou sob suspeição a vitória à época do candidato do movimento socialista: Evo Morales. Morales sofreu um golpe, renunciou. Agora o povo boliviano, em menos de 1 ano, elege aquele que foi o artífice das mudanças do governo de Evo Morales, Luis Arce, com 55% dos votos. Desejo sucesso a esse novo e grande governo”, finalizou Chinaglia.
Vânia Rodrigues
Foto: Reprodução Brasil de Fato