“O desmonte que vem tendo no Ibama e no ICMbio vem enfraquecendo a proteção aos biomas do País, principalmente o Cerrado”, disse o diretor presidente da Fundação MAIS Cerrado, Bruno Mello. Ele participou da 9ª audiência pública da Comissão Externa destinada a acompanhar e promover estratégia nacional para enfrentar as queimadas em biomas brasileiros. A atividade foi coordenada pela deputada federal Professora Rosa Neide (PT-MT) e pelo deputado Professor Israel Batista (PV-DF), nessa quinta-feira (20).
Bruno Mello cobrou que o Congresso Nacional valorize o Cerrado. “O bioma passa por abandono. Não é um bioma considerado patrimônio nacional, não temos legislação de proteção”, afirmou. O diretor disse ainda que atualmente o Cerrado sofre forte desmatamento e queimadas na região de fronteira que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (MATOPIBA).
A professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Mercedes Bustamante corroborou a fala de Bruno Mello ao afirmar que para se reduzir os incêndios no Cerrado é necessário combater o desmatamento no bioma. “Somente em março deste ano foram desmatados mais de 600 mil km2 na região do MATOPIBA”, denunciou.
Além do desmatamento para expansão do agronegócio em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Tocantins, Piauí e Maranhão, a fronteira do MATOPIBA “também registra a expansão de carvoarias”, informou Bruno Mello, que também cobrou que os estados criem brigadas permanentes para atuarem no combate aos incêndios em Áreas de Proteção Permanente e parques estaduais, nos meses mais críticos: julho, agosto e setembro.
O coordenador de Operações da Rede Contra Fogo, Ivan Diniz, que atua na Chapada dos Veadeiros em Goiás, citou o trabalho das Brigadas formadas por voluntários da sociedade civil. Ele destacou que o trabalho de voluntários tem sido cada vez mais fundamental, devido ao desmonte promovido pelo governo federal em órgãos como Ibama e ICMbio.
“Nossa Rede já formou uma centena de brigadistas da região da Chapada. Atuamos no apoio ao Ibama e ICMbio no parque da Chapada e fora dele. Temos ainda a Rede Nacional das Brigadas Voluntárias com 15 brigadas formadas no País para apoiar no combate ao fogo nas unidades de conservação”, disse.
Ciência
A professora Mercedes Bustamante destacou que o Cerrado é a savana que possui a maior biodiversidade biológica do Planeta. Ela informou que o bioma compreende um quarto do território brasileiro e que além de formações savanicas, possui florestas e formações campestres. “São 12 mil espécies diferentes de plantas que convivem com o fogo. O fogo por eventos naturais faz parte da evolução do Cerrado, porém a repetição constante de incêndios tem dificultado a recuperação do bioma e produzido perdas biológicas”, alertou.
A professora da Universidade Estadual Paulista (UNESP) Alessandra Tomaselli Fidelis confirmou as palavras de Mercedes, ao afirmar que o fogo em alguns sistemas é importante para processos ecológicos e evolutivos das vegetações, como é o caso do Cerrado, mas a frequência acelerada de incêndios e as mudanças na paisagem provocadas pelo homem, tem impactado negativamente no que o bioma tem de mais rico, que são as plantas pequenas e os arbustos. “O estrato mais rasteiro que tem mais biodiversidade e é o mais rico em espécies vegetais do mundo, tem sido impactado pelo desmatamento, fogo constante e introdução de vegetação exótica para formação de pastos destinados à pecuária”, criticou.
Ação
Ambas as pesquisadoras e os representantes das ONGs sugeriram que a Comissão deve agir no sentido de indicar ao governo federal e governos dos Estados, a necessidade de investimento no manejo integrado do fogo para combater o acúmulo de biomassa no Cerrado, e assim evitar incêndios de grandes proporções, principalmente em parques, áreas de savana e campos.
As pesquisadoras frisaram ainda que todos os estudos feitos pelas universidades públicas do País no bioma Cerrado são financiados com recursos públicos, por meio de bolsas expedidas pelo CNPq e outros órgãos. Nesse sentido lamentaram os cortes de verbas efetuados pelo governo federal. “Nossas pesquisas são financiadas com dinheiro público. É fundamental a manutenção desse financiamento para continuarmos produzindo dados científicos que auxiliem na tomada de decisões por parte das autoridades não somente em relação ao Cerrado, mas a outros biomas”, disse Alessandra Fidelis.
A audiência contou ainda com participação da coordenadora geral da Rede Cerrado, Maria do Socorro Teixeira Lima, e dos deputados Célio Moura (PT-TO), Merlong Solano (PT-PI), Nilto Tatto (PT-SP), Paulo Teixeira (PT-SP), Vander Loubet (PT-MS) e outros sete parlamentares dos seguintes partidos: PDT, PSB, PSOL, PSL e Solidariedade.
Assessoria de Comunicação