A utilização do jornalismo sensacionalista e da música de uma cantora gospel reascendeu de forma mentirosa e desrespeitosa relatos sobre o Marajó, no estado do Pará.
As notícias falsas ganharam fôlego a partir de um vídeo da música “Evangelho de Fariseus”, no qual a cantora gospel Aymeê viralizou na internet e reacendeu a discussão sobre as supostas violações de direitos humanos no arquipélago. A apresentação foi na semifinal do primeiro reality show gospel do Brasil, e a canção denuncia a exploração sexual infantil na Ilha do Marajó, e também a falta de posicionamento de líderes religiosos em relação aos relatos do que estaria acontecendo por lá. Na realidade, esta pauta está sendo utilizada para disseminar desinformação sobre o tema.
Nas redes sociais, internautas da extrema-direita resgataram um discurso de 2022 da ex-ministra do governo de Jair Bolsonaro, Damares Alves, em campanha para uma vaga no Senado e do seu candidato à Presidência da República, utilizando-se de um programa de governo, montado sem participação da comunidade e de nenhum resultado efetivo, para disseminar uma campanha negativa contra o Arquipélago.
Visita técnica
O referido programa com o nome de “Abrace o Marajó” foi objeto de inúmeras críticas da Comunidade. Inclusive, com a vinda de Dom Evaristo Splenger, Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e Bispo da Prelazia do Marajó, à época, que em reunião com a Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional de Amazônia (Cindra), resultou no requerimento aprovado em junho de 2022 e na visita técnica realizada nos dias 08 e 09 de dezembro de 2022, na qual se ouviu entidades sindicais e populares do Arquipélago e autoridades estaduais, municipais e federais, ligadas às questões dos direitos humanos e das desigualdades regionais.
As reuniões objetivaram discutir os problemas reais da Ilha do Marajó, e a revogação do decreto que criou o Programa “Abrace o Marajó”, por violar direitos dos povos tradicionais do Marajó, bem como impor interesses econômicos em detrimento da participação da população por meio de conselhos populares e consultas prévias, a ser aprovada no PDL (documento de revogação) apresentado por mim e pela deputada Vivi Reis.
Direitos Humanos
Essas ações resultaram em um relatório entregue ao ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, em 31 de janeiro de 2023.
O ministro Silvio Almeida destacou que daria prioridade as propostas contidas no relatório, que a sua pasta vinha recebendo várias denúncias dos desmandos feitos na região durante o Governo Bolsonaro, e que os novos dados iriam auxiliar nas ações que vêm se desenvolvendo na sua gestão, com relação aos desmandos que já estavam sendo analisados.
O ministro, diante das fake news que vêm sendo divulgadas, afirma que desde maio de 2023 a região é amparada pelo Programa “Cidadania Marajó”, que tem o objetivo de combater situações de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes e promover direitos humanos e a garantia de acesso a políticas públicas, aportando recursos para as ações.
Observatório do Marajó
Nos associamos às manifestações que vêm sendo apresentadas por ONGs, como o Observatório do Marajó e a Cojovem (Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável), que destacam que “afirmações querem desarticular trabalho feito na região”.
Organizações como o Observatório do Marajó e a Cojovem, disseram que a associação do arquipélago à exploração sexual infantil é uma estratégia adotada por grupos que hoje não estão presentes por lá e que têm outros interesses, que não o bem-estar da população.
Através da ONG Observatório do Marajó, sabemos que essa onda de desinformação que toma as redes sociais é alvo de repúdio por parte de organizações que atuam na Ilha do Marajó.
Identificação de redes de desinformação
Parabenizamos a Advocacia-Geral da União – AGU, que pelo Ministro Jorge Messias, determinou que se atue imediatamente na identificação de redes de desinformação, que criam desordem informacional sobre a Ilha de Marajó, afirmando que “o governo federal está empenhado em apurar denúncias sérias para desarticular redes de tráfico humano e exploração sexual e infantil em todo o território nacional”.
O povo marajoara merece respeito e todas as demandas apresentadas em nosso relatório devem ser consideradas, dada as dificuldades diárias que vive a comunidade, em relação a transportes, saúde, educação e emprego.
Aproveito para destacar o apoio que tivemos em nosso trabalho dado pela CNBB, em especial da Prelazia do Marajó, das organizações locais, dos prefeitos da região, inclusive do prefeito de Belém, de parlamentares, do governo estadual e dos órgãos da Justiça, fundamentais para nossa missão.
João Daniel é deputado Federal pelo PT em Sergipe e presidente Estadual do partido em Sergipe