O Brasil não precisa de mais armas

Em artigo, a deputada Margarida Salomão (PT-MG) discorre sobre o assassinato em massa ocorrido em Las Vegas, no início da semana, enquanto que, no Brasil, esforços da bancada da bala ressuscitaram propostas que modificam as regras do porte de armas.  Um deles, o Projeto de Lei 3.722/2012, do deputado federal Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), na prática, revoga o Estatuto do Desarmamento.

Leia a íntegra;

 

O Brasil não precisa de mais armas

Margarida Salomão

Uma sentença sintetiza com precisão o sentimento que prevalece nos Estados Unidos, após o mais recente assassinato em massa, ocorrido na última segunda feira (2). “Há quem diga que ainda é cedo para falar sobre o controle das armas de fogo. Para as vítimas de Las Vegas, é tarde demais”.

Os dados que ilustram a cultura da violência nos Estados Unidos em muito ultrapassam os 59 mortos e mais de 500 feridos de Las Vegas. Apenas em 2017, houve pelo menos 273 tiroteios em massa no país, resultando em 11,6 mil mortos. Para se ter ideia, esse número é quatro vezes superior ao total de vítimas do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.

De nós, brasileiros e brasileiras, o momento exige solidariedade mas também um senso de alerta. Vivemos dias em que a insensatez se põe em marcha, avançando com celeridade e determinação. Na Câmara, esforços da bancada da bala ressuscitaram propostas que modificam as regras do porte de armas.

Os principais esforços concentram-se em torno do Projeto de Lei 3.722/2012, do deputado federal Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC). Na prática, a proposta revoga o Estatuto do Desarmamento, instituindo um “Estatuto de Controle de Armas de Fogo”, com regras significativamente mais brandas.

Entre as alterações previstas, estão a redução da idade mínima para a posse e o porte de armas, o fim da exigência de “ficha limpa” para a concessão do benefício, a ampliação do volume de munição que pode ser comprada, bem como o fim da necessidade de autorização formal para o transporte das armas entre residência e local de trabalho – o que, na prática, torna legal o porte de armas nas ruas.

Que esperar de mudanças como essas senão a ampliação do clima de guerra civil presente nas periferias de tantas grandes cidades brasileiras? Ressalte-se que, segundo o Mapa da Violência, houve no Brasil 123 mortes diárias, mortes a tiros – contra 42 nos Estados Unidos. Isso com controle de armas. Imagine a matança com a desregulamentação …

Pois se não há tiroteios em massa, como no caso americano, por aqui prosperam outras formas de violência: a guerra não declarada que vitimiza  negros e negras pobres, o ineficaz combate ao tráfico nos morros, os inúmeros casos de agressão e tortura a crianças e adolescentes infratores, os assustadores episódios de violência contra mulheres.

Decididamente, o Brasil não precisa de mais armas.

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