Esse último dado foi confirmado em matéria publicada pelo site G1, nesta quarta-feira, com base em pesquisa feita no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência.
O governo Bolsonaro não apenas acabou com a política de ganho real do salário mínimo, implantada pelos governos do PT, como ajudou a achatar os demais salários. De acordo com o levantamento, o salário médio de contratação no país em empregos com carteira assinada foi de R$ 1.926,54 em julho, ou 2,82% a menos do que se pagava em julho de 2021 (R$ 1.982,55). Não se trata de valor corrigido, é o valor que está lá, escrito no contracheque.
Além de nominalmente menor, o salário teve o poder de compra atropelado pela inflação, que somou mais de 12% em um ano. Isso no índice oficial, porque o gás de cozinha, por exemplo, subiu 32% em 12 meses. Hoje, para comprar uma cesta básica, com itens de primeiríssima necessidade, o brasileiro deixa no caixa mais de 60% do salário mínimo.
A combinação de preços inflacionados com achatamento do salário mínimo e do poder de compra das famílias não sustenta o discurso de recuperação econômica propalado pelo ministro Paulo Guedes e aponta para uma desaceleração da economia no segundo semestre. A opinião é do economista Bruno Moretti, da Liderança do PT no Senado.
“Ante um mercado de trabalho com quase 10 milhões de desempregados, 40% de informalidade, inflação ainda muito elevada, você tem baixos salários e queda dos rendimentos, o que mostra que a recuperação econômica não é sustentável”, justifica Moretti.
Governo da precarização
O senador Humberto Costa (PT-PE) lembra que esse desarranjo começou antes da pandemia, e foi agravado pelo modelo econômico excludente do atual governo.
“Não temos mais valorização real do salário mínimo, as condições de trabalho estão cada vez piores, e o caos na economia empurra o emprego formal para uma redução ainda maior do salário de contratação. Isso em um cenário no qual os preços explodiram. Ou seja, a conta da bagunça promovida por Bolsonaro e Paulo Guedes está sendo paga pelos mais pobres e pelos trabalhadores” , destacou Humberto Costa, para quem a precarização do trabalho está mais evidente a cada dia, efeito, segundo ele, da Reforma Trabalhista aprovada após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
Um dos sinais dessa precarização é a geração de empregos com carteira assinada. Em julho, foram criadas 218,9 mil vagas formais, quase 30% menos que no mesmo mês, em 2021, quando 306,5 mil brasileiros conseguiram emprego “fichado”.
“A baixa contratação de trabalhadores é reflexo da ausência de políticas do governo federal para geração de emprego e renda. Somam-se a isso a precarização da legislação advinda da Reforma Trabalhista e a ampliação da terceirização, que contribuem para a redução dos salários e, por consequência, para a queda da massa salarial no Brasil. Principalmente, devido ao aumento gigantesco da informalidade e do trabalho intermitente”, analisa o senador Paulo Paim (PT-RS), que acompanha mês a mês os números do Caged.
Novo Estatuto
A pesquisa identificou ainda que entre os setores que pagam os menores salários de contratação estão comércio, alimentação, agricultura e pecuária. Mas, comparando as ofertas de trabalho, é possível achar salários de início menores até do que os disponíveis 10 anos atrás, em 2012, o que justifica a apreensão de Paulo Paim, autor de projeto de lei que cria o novo Estatuto do Trabalho, exatamente para combater a precarização.
“Precisamos resgatar os direitos dos trabalhadores e investir no ensino técnico para gerar empregos de qualidade e aumentar a renda dos trabalhadores e das trabalhadoras”, defende o senador.