Estatísticas mostram que a participação popular em eleições tende a diminuir quanto mais escândalos de corrupção eclodirem no período. Nas eleições de 2018, por exemplo, no auge da perseguição contra o ex-presidente Lula, o número de votos nulos foi o mais elevado desde 1989. Ainda que posteriormente Lula tenha sido inocentado de todas as acusações, naquela ocasião, a soma de nulos às abstenções e aos votos em branco no segundo turno, totalizou 42 milhões de eleitores, ou seja, 30% do universo de votantes.
A lógica é simples: o povo tende a se desinteressar do processo eleitoral quando é convencido de que “todos os políticos são iguais”; “que nada muda através do voto”, ou que suas necessidades e desejos não são sequer considerados, que dirá atendidos. Desiludidos com a democracia representativa, muitos afirmam que não se interessam pela política. É importante notar, quem são os expoentes destas ideias propagadas pela mídia e nas redes sociais, que, ao fundo e a cabo, distanciam o povo das decisões que afetarão direta e indiretamente suas próprias vidas.
É exatamente este efeito que um (des)governo, como o de Jair Bolsonaro causa na população. Para se ter uma ideia, está se aproximando o prazo final para a emissão e regularização dos títulos de eleitor, mas até o mês passado, o número de adolescentes em posse do documento era o menor da história, o que pode vir a beneficiar o próprio Bolsonaro. Ele mesmo já disse inúmeras vezes, inclusive em vídeos nas redes sociais, que não seria possível mudar nada no através do voto.
Em ano eleitoral, a mensagem do presidente da República é exatamente o oposto do que se espera de um democrata, que pela liturgia do cargo, deveria conclamar a população à participar do processo eleitoral. Peguemos Lula como exemplo. Em entrevista recente ao podcast Podpah, o ex-presidente bradou: “Você pode ficar falando que todo político é ladrão, mas se você estiver pensando no País, então seja você o político porreta que você quer.” “Quanto mais politizado você for, mais porreta você será”. Percebem a diferença? Enquanto um convida o povo a participar, outro quer exclui-lo.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)