Ao contrário do que bradam os governistas, as propostas de flexibilização do porte e posse de armas, adotadas pelo governo Bolsonaro, não garantem à população a capacidade de se defender, mas ao contrário, promovem o aumento da violência e de óbitos. Não é apenas porque o preço destes equipamentos os torna inacessíveis para a parcela mais pobre da população, mas porque uma arma serve justamente para este fim: produzir a morte.
No ano passado, protocolei um Projeto visando proibir o uso destes artefatos pelos chamados CAC’s (Colecionadores, Atiradores e Caçadores), além de acabar com os clubes de tiro. A medida gerou polêmica entre os amantes das armas, que defendem o direito de andar por aí com um equipamento que causa a morte de seres humanos e de animais. Dito e feito: casos noticiados recentemente pela imprensa apontam que criminosos registrados como CAC’s tem adquirido armas e munições para repassá-las ao crime organizado.
Longe de ser uma medida radical, a proibição das armas e dos clubes de tiro tem como único objetivo proteger a vida, já que sabemos quem são as vítimas preferenciais destes artefatos. Apenas em 2020, 50 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, sendo 80% delas (45 mil) por armas de fogo. Destas, a grande maioria foram negros (76,2%) e jovens (54,3%). O aumento do número de armas circulando no País, também se reflete no aumento de mortes produzidas por autoridades policiais, sempre tendo como vítimas preferenciais jovens negros e periféricos.
Além disso, desde o meu primeiro mandato como parlamentar, encampei a luta contra o PL da Caça, sabendo o que a prática representa para diversas espécies de animais, inclusive ameaçados de extinção e para os povos do campo e das florestas. Cada vez mais armados, jagunços de grandes latifundiários, avançam sobre comunidades tradicionais ou de pequenos produtores rurais, como vimos recentemente no caso de um menino de 9 anos, assassinado dentro de sua casa, no interior de Pernambuco. Usam as armas não para se proteger, mas para caçar, sejam animais, ou seres humanos fragilizados.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)