Especialistas que debateram “A Retomada da Atividade Econômica Pós-Período de Isolamento Social”, durante seminário virtual promovido pela Comissão Externa de Ações contra o Coronavírus da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (14), defenderam que o relaxamento do isolamento social não pode ocorrer no País enquanto crescem os índices de contágio pela Covid-19. Segundo eles, a retomada das atividades econômicas só pode ser pensada após o início da queda dos casos, e ainda assim com medidas severas de controle para evitar uma nova onda de contaminação.
Durante o debate, a presidenta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima, citou pesquisa feita por especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que aponta que flexibilizar o distanciamento social no estado nesse momento não ajudaria a melhorar a economia. Segundo o estudo, com o “distanciamento estendido” – adotado pelo governo de Minas – a queda do PIB Estadual seria de – 1%. No caso da abolição das regras de distanciamento social, o PIB despencaria – 4%.
“Temos que adotar medidas de distanciamento social para reduzirmos de forma sustentada os casos nessa pandemia, preservando o Sistema de Saúde e realizando cada vez mais as testagens. A saúde também é um fator de desenvolvimento econômico. Sair do isolamento sem a observância de parâmetros claros nos levará a uma segunda onda de contágio. Precisamos que o Estado auxilie os mais carentes, para que esse isolamento realmente ocorra”, defendeu.
Já a pesquisadora da Universidade de Harvard, a estatística brasileira Márcia Castro, ressaltou que uma futura retomada da atividade econômica pós-pandemia deve ser feita com muito cuidado, e utilizando métodos de identificação de locais e de populações situadas no grupo de risco. Ela ainda defendeu que esse trabalho seja realizado pelos agentes comunitários de saúde em todo o Brasil, após treinamento específico.
“Em Boston, nos Estados Unidos, estão criando os “detetives da Covid-19”, para identificar pessoas do grupo de risco e assim realizarem o isolamento vertical e para registrar locais de risco de propagação do contágio. No Brasil não precisamos inventar nada, basta usarmos os nosso agentes comunitários de saúde. Eles sabem onde estão os grupos de risco, as áreas mais vulneráveis e onde não tem água, condição mínima para a higienização contra o vírus”, lembrou.
Segundo ela, após treinamento específico sobre formas de prevenção ao vírus e de utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), esses agentes poderiam sair às ruas – também com EPI’s – para identificar caso de coronavírus e pessoas vulneráveis para serem testadas ou mesmo colocadas em quarentena em locais seguros. Para que esse plano dê certo, a pesquisadora lembrou que os governos precisariam utilizar espaços públicos ou realizarem parcerias com a iniciativa privada, para utilizarem espaços como o de hotéis, por exemplo, que nessa fase aguda da pandemia, e mesmo depois, continuarão sendo subutilizados.
Retomada após a pandemia
Até mesmo os palestrantes da iniciativa privada que participaram do seminário concordaram que este não é o momento de relaxar nas medias de isolamento social no País. Segundo o Diretor-Geral do Hospital Sírio Libanês, Paulo Chapchap, mesmo após a queda no número de novos casos, será necessário adotar medidas rígidas para o retorno gradual das atividades econômicas no País. “Teremos que adotar novas medidas de asseio, de higienização, de distanciamento social e de testagem periódica no ambiente de trabalho”, apontou.
Mesmo o economista confessadamente neoliberal e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, concordou que no atual estágio da Covid-19 no Brasil não há como relaxar no isolamento social. “Enquanto as curvas (de contágio) estiverem apontando para cima, não há como pensar em relaxamento”, disse.
Héber Carvalho