O ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, ficou irritado nesta terça-feira (5) após ser confrontado por parlamentares de Oposição sobre a atuação de seu filho, conhecido como “Queiroguinha”, na intermediação de pedidos de prefeituras junto ao governo. Parlamentares do PT e do PSB perguntaram durante audiência pública na Câmara se a atuação de Antônio Cristóvão Neto era de conhecimento do ministro e se ele considerava o ato do filho tráfico de influência. Irritado, Queiroga disse que as acusações são uma “perseguição” ao seu filho que é pré-candidato a deputado federal pelo partido de Bolsonaro na Paraíba.
Desde o mês passado pipocam denúncias sobre a atuação do filho de Marcelo Queiroga junto ao Ministério da Saúde. Vários veículos de comunicação divulgaram relatos de prefeitos de municípios da Paraíba, estado pelo qual Queiroguinha é pré-candidato a deputado federal, de que ele tem percorrido cidades do interior com promessas de liberação de recursos para aquisição de aparelhos de raio-X e ambulâncias.
A mais recente notícia sobre a movimentação de Queiroguinha, divulgada nesta segunda-feira (4) pelo jornal O Globo, aponta que o filho de Marcelo Queiroga esteve ao menos 30 vezes no Palácio do Planalto e no Ministério da Saúde. Mais da metade dessas visitas ocorreram neste ano, após Antônio Cristovão Neto ter se filiado ao PL, partido do presidente Bolsonaro. O jornal apurou que Queiroguinha, 23 anos, esteve 18 vezes no Ministério da Saúde no decorrer de um ano e 12 vezes no Palácio do Planalto, sendo que em três no gabinete do presidente.
“Gabinete paralelo”
Ao indagar o ministro sobre o fato, o deputado Leo de Brito (PT-AC) afirmou ser preocupante a atuação de uma pessoa sem cargo no ministério atuar na intermediação de pedidos junto à pasta. O parlamentar ressaltou que essa prática é uma clara demonstração da existência de um “gabinete paralelo” no ministério. “É importante que seja esclarecida a situação do filho de vossa excelência”, disse o petista a Marcelo Queiroga.
Ao invés de responder sobre a atuação de seu filho, o ministro da Saúde chamou as denúncias de “narrativas da imprensa” e para se defender atacou os governos do PT ao repetir o bordão negacionista de Bolsonaro de que no atual governo “não tem corrupção”. Marcelo Queiroga disse ainda que seu filho é perseguido e atacado pela imprensa apenas por ser “conservador”, “de direita” e “aliado do presidente Bolsonaro”. Sobre a peregrinação de Queiroguinha ao Ministério da Saúde, Marcelo Queiroga disse que o filho foi apenas “visitar o pai”.
Retrocessos
Durante a audiência pública que reuniu várias Comissões temáticas da Câmara, parlamentares petistas também questionaram o ministro sobre retrocessos nas áreas de saúde mental e na saúde de pessoas com deficiência. O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) lembrou que recente resolução do governo Bolsonaro extinguiu as coordenações de Saúde Mental e de Atenção às Pessoas com Deficiência do Ministério da Saúde.
“O senhor pode consertar isso por meio de uma Portaria, deixando claro que existe uma coordenadoria de Saúde Mental e de Atenção às Pessoas com Deficiência. O senhor fará essa Portaria ou deixará a estrutura do Ministério da Saúde sem coordenação nessas áreas, o que seria a mesma demonstração de desprezo do presidente Bolsonaro ao assinar essa resolução? ”, indagou.
Na mesma linha, a deputada Erika Kokay (PT-DF) ressaltou que “a extinção das coordenadorias é um retrocesso nítido” nas políticas públicas para estes segmentos da população. A parlamentar acusou ainda o ministério comandado por Marcelo Queiroga de “incentivar práticas atrasadas como choques elétricos e reativação de leitos psiquiátricos”, em desacordo com a legislação atual sobre Saúde Mental no País.
Em resposta aos parlamentares petistas, o ministro da Saúde disse apenas que o governo tem atuado de acordo com a legislação e investido recursos nessas áreas.
Atendimentos pelo SUS
Durante a audiência, o deputado Marcon (PT-RS) reclamou maior atenção do Ministério da Saúde para ampliar o atendimento aos usuários do SUS. “Precisamos agilizar o atendimento das pessoas por especialistas, cirurgias e tratamentos. Não estou reclamando dos profissionais, que prestam um ótimo serviço, mas a dificuldade é conseguir ser atendido pelo sistema (SUS)”, explicou.
Ao responder o parlamentar, Marcelo Queiroga tirou a responsabilidade do atual governo sobre o problema. Segundo ele, estados e municípios também precisam investir em saúde e não apenas o governo federal.
Héber Carvalho