O plenário da Câmara dos Deputados rendeu solenemente, nesta terça-feira (13), homenagem à Marcha das Margaridas, um dos maiores eventos de luta e resistência de mulheres camponesas da América Latina. Rostos sofridos e mãos calejadas pela labuta, trabalhadoras de todo País lotaram as dependências do Congresso Nacional clamando por direitos sociais, democracia e soberania. A sessão solene que marcou o início da 6º edição da Marcha das Margaridas que ocorre em Brasília, foi de iniciativa da deputada Erika Kokay (PT-DF).
Traçando um paralelo entre os cenários políticos que culminaram com a Marcha das Margaridas, a deputada Erika Kokay lembrou que há quatro anos as mulheres das águas, florestas, campos e cidades ovacionaram o ex-presidente Lula, que em 2015, juntamente com a presidenta Dilma, estiveram na abertura da Marcha das Margaridas.
“Naquela época, a Marcha foi um ato contra o golpe que estava em curso naquele momento. Foi um ato em defesa da democracia e em defesa dos direitos. Penso que hoje, a necessidade de lutar pela democracia pelos direitos se consolida e se aprofunda. As Margaridas estão aqui para lutar contra o golpe continuado, contra o fascismo e contra a tentativa de arrancar todos os direitos conquistado com muita dor”, avaliou a petista.
Nessa mesma linha, a presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores e deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que naquele momento histórico da luta das Margaridas, era uma reafirmação e ampliação dos direitos conquistados. Hoje, segundo ela, as trabalhadoras estão na resistência para que os direitos não sejam retirados.
“Em 2015, estávamos em um governo progressista, democrático, popular. Infelizmente neste ano é uma marcha de resistência para manter os direitos conquistados e para enfrentar o desmonte que um governo de extrema direita, autoritário, está fazendo no Brasil. Então a Marcha assume uma importância imensa, uma responsabilidade política grande porque é a voz das mulheres lutando para que a gente possa enfrentar esse estado de desmonte e destruição do governo Bolsonaro”, afirmou Gleisi.
Saudoso do período em que o Brasil era dos brasileiros, o líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), recordou que Brasília, nos governos do PT, era palco de luta por ampliação de direitos e não para manter o pouco que ainda resta.
“Tivemos um período de conquistas, de inclusão, de melhoria de qualidade de vida de nosso povo, de acesso a bens e serviços que sempre tiveram fechados à classe trabalhadora. Hoje o povo se mobiliza para tentar reduzir um pouco o prejuízo naquilo que o governo Bolsonaro representa. É um período de resistência, porque é um período de perdas de direitos, de ataques à nossa soberania, ataques de todas as ordens a tudo aquilo que foi conquistado durante décadas”, lamentou o líder petista.
Para a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), as mulheres do campo e da cidade se reúnem em Brasília em um momento importante pelo simbolismo da Marcha das Margaridas. “Neste momento em que estamos tendo grandes perdas de direitos, vemos o clamor de milhares de mulheres das águas, das florestas, dos campos e cidades que estarão conosco nessa Marcha ecoando pelo mundo afora. São bandeiras contra o fascismo, contra violência, desemprego, em favor do Lula livre, porque essas mulheres reconhecem o presidente Lula como o maior presidente que o Brasil teve”, observou a deputada.
Projeto antipovo
Para a deputada Natalia Bonavides (PT-RN), o resultado do golpe tem sido a implantação de um projeto antipovo que, segundo ela, começou com o governo golpista de Michel Temer, mas que agora se aprofunda e piora muito com o governo Bolsonaro. “Neste momento que o governo age para tirar da classe trabalhadora o direito de estudar, de se aposentar, o direito de se alimentar com segurança, de se organizar e de se manifestar, a Marcha das Margaridas vem para alimentar a esperança”, destacou a parlamentar.
A petista lembrou que as mulheres foram protagonistas na luta contra o golpe praticado contra a presidenta Dilma. “Hoje elas estão em marcha como forma de denunciar todas as canalhices que estão sendo feitas pelo governo Bolsonaro contra a classe trabalhadora como um todo, mas que tem um impacto muito mais forte na vida das mulheres”, reafirmou.
Esperança
Já a deputada Margarida Salomão (PT-MG) lembrou que a marcha leva o nome inspirado em Margarida Alves, uma grande líder da luta rural brasileira.
“Essas mulheres, aqui para nós são uma esperança, uma expressão de indignação, de intolerância com essa brutalidade, essa barbárie que se instalou no Brasil. Estamos juntas para podermos dar um basta a isso tudo”, frisou.
Desafio
Para a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT) a conjuntura é de desafio para a manutenção das políticas públicas conquistadas. “Estamos num momento de luta, de embate de classe. Os poderosos deste País tomaram gosto por agredir mulheres e as mulheres indígenas que também vem marchar num momento que as aldeias estão sendo invadidas, no momento que o discurso de ódio do presidente da República faz com que homens, na área de mineração, queiram tomar as áreas indígenas, mesmo que a legislação brasileira diga outra coisa”, criticou.
A coordenadora da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, classificou de “desafiador” o atual momento político pelo qual passa o País.
“Para a gente é um momento muito desafiador. Estamos vivendo um momento de retrocesso dos direitos da classe trabalhadora sobretudo para as mulheres. Construir a Marcha nessa conjuntura, de fato, é com muita coragem e muita resistência”, explicou.
Mazé também lembrou que o Brasil vivia um período de um governo democrático e popular onde havia a oportunidade de os movimentos sociais dialogar e entregar a pauta política. “Assim era os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma. Nesse atual governo a gente não tem uma pauta para entregar porque a gente entende que não dá para negociar com um governo que quer retirar o direito da classe trabalhadora”, lamentou.
Benildes Rodrigues
Foto – Rogério Tomaz