O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan) mostra o quadro da fome nos estados brasileiros. A pesquisa foi realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) entre novembro de 2021 e abril de 2022.
Os dados mostram que os estados do Norte e do Nordeste são os que mais sofrem, em termos proporcionais, com a insegurança alimentar grave. Em Alagoas, 36,7% da população passa fome. No Piauí são 34,3% e no Amapá, 32%.
Em números absolutos, a região Sudeste – a mais populosa do País – tem mais famintos: são 6,8 milhões de pessoas no estado de São Paulo e 2,7 milhões no estado do Rio de Janeiro.
Parlamentares da Bancada do PT usaram suas redes sociais para comentar o resultado da pesquisa e para responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro falta de políticas sociais, que levou o Brasil de volta ao Mapa da Fome.
O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) ressalta que a fome afeta mais os lares com crianças abaixo de 10 anos. “Bolsonaro vai colocar a culpa na pandemia e na guerra quando, na verdade, ele optou pela fome do povo. Os bancos lucraram R$132 bilhões esse ano, é mais do que a verba do Auxílio Brasil”, enfatiza.
3 em cada 10famílias passam fome. Os lares com crianças abaixo de 10anos são os mais impactados. Bolsonaro vai colocar a culpa na pandemia e na guerra quando, na verdade, ele optou pela fome do povo. Os bancos lucraram R$132 bilhões esse ano, é mais do q a verba do Auxílio Brasil
— Alexandre Padilha (@padilhando) September 14, 2022
A deputada Erika Kokay (PT-DF) também cita os dados que revelam que a fome atinge mais os lares com crianças abaixo de 10 anos e destaca que 37,8% dos lares com essas crianças sofrem de insegurança alimentar grave ou com dieta insuficiente.
Na avaliação do deputado Merlong Solano (PT-PI), “tal como no Egito antigo, Bolsonaro atrai as pragas que atormentam a vida de nosso povo: desemprego, inflação alta, sucateamento dos serviços públicos, arrocho salarial, intolerância, armas e fome”. E completou: “Juntas, elas geram infelicidade e morte”.
Tal como no Egito antigo, Bolsonaro atrai as pragas que atormentam a vida de nosso povo: desemprego, inflação alta, sucateamento dos serviços públicos, arrocho salarial, intolerância, armas e fome. Juntas, elas geram infelicidade e morte. https://t.co/cRO5fau3wW
— Merlong Solano (@MerlongSolano) September 14, 2022
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) afirmou que após debochar e negar que no Brasil há fome, “a capa do jornal O Globo de hoje apresenta o legado de Bolsonaro: a fome voltou”.
Desigualdades regionais
“Os resultados do estudo refletem as desigualdades regionais registradas no relatório do II Vigisan, e evidenciam diferenças substanciais entre os estados de cada macrorregião do país. Não são espaços homogêneos do ponto de vista das condições de vida. Há diferenças socioeconômicas nas regiões que pedem políticas públicas direcionadas para cada estado que as compõem”, aponta Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan.
Distribuição percentual da Segurança Alimentar e dos níveis de Insegurança Alimentar / Reprodução/2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan)
Renda insuficiente e endividamento
As famílias com renda inferior a meio salário-mínimo por pessoa estão mais sujeitas à insegurança alimentar moderada e grave. Essa é a situação de 76,5% dos domicílios desse perfil de renda em Sergipe e em 72% dessas casas no Maranhão. O índice é alto em diversos estados: 67,6% no Pará, 66,1% no Piauí e 65,7% em Santa Catarina.
Além da renda, o endividamento das famílias contribuir para piorar o cenário da fome. Na maioria dos estados do Nordeste, pelo menos 45% das famílias estão endividadas – em Alagoas este índice chega a 57,5%. Os números também são altos no Amazonas (52,6%) e no Distrito Federal (55,6%).
“Mesmo as famílias que recebem o Auxílio Brasil, por estarem endividadas, não conseguem utilizá-lo somente para a compra de alimentos. O recurso precisa ser utilizado para pagar outras necessidades básicas, como aluguel, transporte, luz e água”, afirma Ana Maria Segall, pesquisadora da Rede Penssan e da Fiocruz.
A fome afeta a infância
A insegurança alimentar apresenta, ainda, outra face cruel no Brasil. Nas casas em que há crianças com menos de 10 anos, a fome é maior. Em domicílios com moradores nesta faixa de idade, a proporção de insegurança alimentar moderada ou grave está acima de 40% em todos os estados da região Norte e a sete dos nove estados do Nordeste.
A pesquisa foi apresentada ao público em junho, com a divulgação de dados nacionais e das macrorregiões do Brasil. Naquele momento, foi revelado que 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer, e apenas 4 entre 10 famílias conseguem acesso pleno a alimentos. Em números absolutos, são 125,2 milhões em insegurança alimentar – leve, moderada ou grave.
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