Lideranças palestinas e especialistas denunciam na Câmara o genocídio do povo palestino

Israel está fazendo de tudo para expulsar os palestinos de suas terras para que eles abdiquem do sonho da criação do seu Estado Nacional. Fotos: Gabriel Paiva

Representantes de entidades ligadas à causa palestina e especialistas no tema afirmaram nesta terça-feira (7/11), na Câmara dos Deputados, que está em curso na Faixa de Gaza “um verdadeiro genocídio praticado pelo Estado de Israel”. Segundo eles, o objetivo do atual massacre é promover uma “limpeza étnica” na região a fim de viabilizar a anexação total dos territórios atualmente sob a administração do povo palestino. As declarações aconteceram durante a audiência pública da Comissão de Legislação Participativa que debateu o “Conflito Israel-Palestina”, por iniciativa do deputado João Daniel (PT-SE).

Ao contextualizar a opressão sofrida pelo povo palestino desde a criação do Estado de Israel, em 1948, a historiadora e diretora do Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo (USP), Arlene Clemesha, ressaltou que o atual ataque à Faixa de Gaza difere de outros porque explicita os desejos colonialistas do atual governo de extrema direita do primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

“Estamos nesse momento, após um mês de conflito, assistindo uma mudança de paradigma. Se antes existia simbolicamente o paradigma de uma solução possível pelo diálogo, agora mudamos para o paradigma da criminalização dos palestinos, dos crimes de guerra e de crimes contra a humanidade como o caso do genocídio. Percebemos que o objetivo declarado do Estado de Israel é expulsar a população de Gaza.

O vice-chefe da Missão Diplomática da Embaixada do Estado da Palestina no Brasil, Ahmed al Assad, ressaltou que a guerra declarada por Israel é parte do plano para tentar enterrar de uma vez por todas o sonho da criação de um Estado Palestino na região.

“Israel está fazendo de tudo para expulsar os palestinos de suas terras para que eles abdiquem do sonho da criação do seu Estado Nacional. Por isso, Israel promove assassinatos, execuções, aprisionamentos de lideranças políticas, roubo de terras via assentamentos judeus em território palestino e perseguição à liberdade de expressão”, criticou.

Limpeza Étnica

O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, destacou que está ocorrendo na Faixa de Gaza uma verdadeira “limpeza étnica”. “Esse é o primeiro genocídio televisionado na história humana. Esse genocídio não pode ser contemporizado porque não é uma questão de ser de esquerda ou de direita, ou refletir posicionamento político, opção ideológica ou religiosa. Genocídio é genocídio. Todos devem repudiar e adotar ações concretas para que o genocídio não continue”, observou.

O líder palestino fez questão de revelar os números de pessoas atingidas na Faixa de Gaza pelos ataques de Israel. Segundo ele, até ontem foram 10.165 pessoas mortas e 1.950 desaparecidas. “A maioria desses desaparecidos estão sob escombros e, infelizmente, devem aumentar a estatística dos mortos”, lamentou. Dentre esses mortos, Ualid Rabah ressaltou que 4.008 eram crianças. “A depender do dia, a cada 10 a 15 minutos morre criança. Isso sem falar dos mais de 27 mil feridos, muitos mutilados ou em estado grave, que não têm atendimento porque os hospitais também foram bombardeados. Isso tem nome, é genocídio! ”, informou Rabah.

Faixa de Gaza: prisão a céu aberto ou campo de concentração?

Além da chuva de mísseis e dos ataques da artilharia das forças armadas israelenses, lideranças palestinas e especialistas denunciaram as violações aos direitos humanos dos palestinos praticadas pelo governo de Netanyahu. O presidente da Federação Palestina no Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, disse que Israel trata a Faixa de Gaza como uma “prisão a céu aberto” e um “campo de concentração”.

“A ONU relatou há quatro meses que a Faixa de Gaza era uma espécie de prisão a céu aberto. Porém, a Faixa de Gaza também é um campo de concentração. Primeiro porque estão confinadas a um território apenas pelo delito de serem palestinos. Segundo, estão confinados esperando um extermínio. Apenas alguns milhares são liberados para irem trabalhar em Israel e voltar para casa ganhando cerca de 5 ou 6 vezes menos do que um israelense. No entanto, é o único campo de concentração da história humana que serve para experimentos bélicos, de armamentos, sistemas e munições que depois são exportados para outros países”, denunciou.

A representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) Carima Atiyel denunciou ainda que está em curso uma ação do governo de Israel de utilizar a fome como arma de guerra.

“O direito humano à alimentação é negado ao povo palestino. Em 2007, um documento oficial do governo de Israel, depois suprimido, já previa a restrição das calorias destinadas ao povo palestino. Agora, vejo alguns colegas que trabalham em agências humanitárias em Gaza afirmando que estão passando fome. Se essas pessoas estão passando fome, e muitas delas nem são palestinas, como acreditar na narrativa de Israel de que está entrando alimento em Gaza? Na verdade, a fome está sendo utilizada como instrumento de guerra”, denunciou a especialista sobre o bloqueio total imposto pelo governo de Netanyahu à Faixa de Gaza.

Sionismo

O jornalista e fundador do Portal Opera Mundi, Breno Altman, explicou durante a reunião a estratégia utilizada pelo Estado de Israel para oprimir o povo palestino e, ao mesmo tempo, se livrar da pecha de opressor. Descendente de judeus perseguidos pelo nazismo, Altman explicou que, ao contrário da narrativa de que o sionismo apenas defende o direito de o povo judeu existir em seu próprio território, na verdade esse movimento político defende a supremacia racial como forma de subjugação.

“O sionismo é a doutrina da supremacia étnica. Os judeus não são uma nação, são um grupo étnico e social. Os judeus emigraram na diáspora para distintas nações onde incorporaram suas culturas. O que existe é um envelopamento religioso que tenta dar uma identidade cultural a esse povo. Em 1948, quando fundaram o Estado de Israel, aquela região era habitada por 85% de árabes e apenas 7% de judeus. A partir desse momento o Estado étnico se tornou também colonial, adquirindo e expulsando palestinos de suas terras”, explicou.

O jornalista destacou que essa face de Israel foi ocultada, principalmente após o holocausto, que serviu de álibi para justificar o racismo institucional e o colonialismo do Estado de Israel. Segundo ele, essa estratégia sempre contou com apoio da burguesia norte-americana e europeia, com muitos integrantes de origem judaica e que controlam setores das finanças, da indústria cultural, bélica, tecnológica e da mídia.

“Agora, de certa forma as redes sociais estão furando essa bolha de informação com filmagem ao vivo e fotos do que ocorre em Gaza. Temos que informar com todas as nossas forças o que ocorre em Gaza. O que estamos vendo é um conflito de um Estado racista e colonial contra um povo que luta contra a sua colonização”, afirmou.

O deputado João Daniel, que presidiu a reunião, destacou que a audiência atingiu seu objetivo de denunciar a violência praticada pelo Estado de Israel contra o povo palestino.

“Estamos horrorizados com o que está acontecendo com o povo palestino. Nenhum homem ou mulher, e ninguém no planeta deveria ficar indiferente e sem assumir uma posição firme e forte contra este massacre. Essa audiência pública teve como objetivo se solidarizar e ouvir manifestações que se levantem contra esses horrores que ocorrem na Faixa de Gaza”, afirmou.

Também participaram da audiência pública a doutora em Sociologia e professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Berenice Melo Bento; e o presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal), Ahmed Shehada, além dos deputados petistas Padre João (MG), Marcon (RS), Leonardo Monteiro (MG), Fernando Mineiro (RN), Pedro Uczai (SC) e Nilto Tatto (SP).

 

 

Héber Carvalho

 

 

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