A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), manifestou hoje (19) a expectativa de que um futuro governo de oposição, diante do valor estratégico da Eletrobras, reestatizará a empresa, caso o Congresso aprove a antinacional privatização da holding, que é o maior complexo de geração de energia elétrica da América Latina.
“O plenário voltará a discutir esse tema, quando nós, de novo, reestatizarmos a Eletrobras, se ela for privatizada aqui. Porque essa (a reestatização) é a única saída”, afirmou a presidenta do PT em discurso.
Segundo Gleisi, a privatização da Eletrobras, em apreciação na Câmara dos Deputados com apoio do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, é mais um crime contra o Brasil e o povo brasileiro praticado pelo atual governo, sob o falso argumento de que não há recursos para investir no setor.
Segundo Gleisi, a partir de 2023, quando for quitada a dívida da hidrelétrica da Itaipu Binacional, haverá “um enorme superavit” que poderá ser investido em todo o sistema elétrico brasileiro para “darmos segurança energética e para desenvolvermos o País”, mas mesmo assim o lucro astronômico da Eletrobras poderia ser injetado no sistema.
Segurança energética
Gleisi frisou que a empresa é extremamente lucrativa – nos últimos três anos, teve R$ 30 bilhões de lucro, afora outros R$ 15 bilhões em reservas – e foi construída com o sangue e suor dos brasileiros, graças a investimentos realizados pelo Estado. Os investimentos foram amortizados, via tarifa.
“Agora que o investimento está pago, a iniciativa privada quer tocar. Por quê? Porque agora está dando lucro. Os senhores acham que vão investir o lucro para melhorar a vida do povo?”, indagou Gleisi, lembrando que os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha só estão hoje em patamares altíssimos porque a Petrobras foi colocada refém de interesses privados.
Neoliberais abutres
“Aos defensores do mercado, da iniciativa privada, eu queria fazer uma pergunta: se a iniciativa privada é tão boa, por que não investiu, no início, no sistema elétrico brasileiro, não construiu usinas, não construiu linhas de transmissão?”, provocou Gleisi.
A Eletrobras é peça central para a segurança energética do País e está sendo ofertada a preço de banana, com atropelamento de todos os processos legislativos, denunciou a presidenta do PT. Ela assinalou que na Câmara não houve audiências públicas e nem foram ouvidos especialistas, membros da sociedade civil, consumidores e tampouco operadores do sistema.
Ganância privada
Ela rebateu a tese de que não há dinheiro para investir no sistema, citando o lucro da Eletrobras, e denunciou que do governo golpista Michel Temer até o atual, deliberadamente deixou-se de investir na Eletrobras para tentar justificar a entrega da empresa a grupos privados.
Gleisi frisou que a iniciativa privada quer se aproveitar de uma oportunidade antinacional para garfar a empresa. Ela criticou os neoliberais pelo uso do mantra privatização, como se fosse a panaceia para os males do Brasil, embora a realidade comprove o contrário.
Citou que o Banco do Brasil, a Petrobras e outras empresas gigantes do setor público foram criadas pelo Estado, não por empresários. “Por que a iniciativa privada, no caso da Petrobras, não estruturou a cadeia da indústria de petróleo e gás? Por que o primeiro Banco do Brasil não foi da iniciativa privada?”, perguntou. E respondeu: Porque a iniciativa privada não tem condições de fazer os grandes investimentos”
EUA e investimentos públicos
Ela cutucou os neoliberais brasileiros por insistirem em atacar o Estado enquanto que nos Estados Unidos – a meca capitalista do planeta – o Estado tem investido trilhões para a consolidação da economia do país e no combate à miséria e desigualdades sociais, com investimentos em infraestrutura e nas áreas sociais.
“Onde está a iniciativa privada norte-americana? Por que o Estado está lá socorrendo as pessoas? Então, vamos parar com esse papo atrasado de que a iniciativa privada é mais eficiente. Sem Estado não existe iniciativa privada. Quando as empresas têm problema, é para o crédito subsidiado que elas correm”, afirmou Gleisi Hoffmann.
Reestatizações no Reino Unido
Ela lembrou que no Reino Unido, que foi referência do neoliberalismo e de privatizações, está havendo um movimento inverso, com a reestatização de empresas que foram entregues à iniciativa privada.
“Então, liberais tupiniquins que não estão vendo o que está acontecendo no mundo — nós estamos voltando a ter o papel pesado do Estado na economia —, comecem a olhar, porque é isso que nós precisamos aqui no Brasil, e parar de criminalizar o Estado brasileiro”, sublinhou a presidenta do PT.
Ela fez questão de frisar que as grandes usinas hidrelétricas construídas no Brasil foram investimentos do Estado, assim como estradas, portos e aeroportos. Ela criticou o oportunismo da iniciativa privada, que “chega quando tudo está pronto, quando a infraestrutura pesada está colocada” graças aos impostos pagos pelo povo brasileiro.
Gleisi lembrou que a Eletrobras era empresa 100% pública até o governo neoliberal Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre 1995 e 2002, quando abriu-se o capital da empresa. Porém, o governo federal manteve o controle da Eletrobras. A justificativa para abrir o capital era de que assim os problemas seriam resolvidos, mas não houve investimentos e em 2001 o Brasil passou pelo maior apagão de energia da história em períodos de paz.
Governos do PT
Gleisi lembrou que o sistema elétrico brasileiro foi recuperado a partir de 2003, com o governo do ex-presidente Lula, que tirou a Eletrobras do Plano Nacional de Desestatização e começou a realizar pesados investimentos no setor. “Fizemos o Programa Luz para Todos, para levar a luz ao Nordeste, Norte, ao setor agrário, que não tinha, para o interior do País. E 17 milhões de pessoas saíram da escuridão”, observou Gleisi.
Foi também nos governos do PT (2003 até o golpe de 2016) que foram construídas as usinas hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio, Jirau e Teles Pires, bem como adotado o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas. Entraram em operação 57 mil megawatts de energia e, em 2016, 18 mil megawatts estavam prontos para entrar. Tudo graças a investimentos públicos.
Linha de transmissão
Gleisi Hoffmann informou que nos governos do PT foram construídos 30 mil quilômetros de linha de transmissão. “Foi o Estado brasileiro que o fez. Não foi a iniciativa privada”, salientou, criticando a iniciativa privada, com o apoio da base bolsonarista no Congresso, por querer meter as mãos, por quantia irrisória, na Eletrobras, empresa que foi totalmente amortizada.
Gleisi lembrou que o apagão no ano passado no Amapá foi provocado por uma empresa privada espanhola que não fez os investimentos necessários para a manutenção do sistema. Quem socorreu o Amapá foi justamente a Eletrobras, que agora os neoliberais querem entregar à iniciativa privada.
Gleisi advertiu que o sistema de geração de energia no Brasil é preponderantemente hídrico, portanto, está se privatizando a vazão dos rios. “O sistema elétrico é tão estratégico que, nos Estados Unidos, quem toma conta das usinas geradoras de energia é o Exército americano”, disse a parlamentar.
Veja o discurso da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann:
https://www.facebook.com/ptnacamara/videos/2033971363411857
Redação PT na Câmara