O apagão na cidade de São Paulo e a dificuldade da ENEL (companhia responsável pelo fornecimento de energia elétrica) em atender usuários, identificar e resolver os problemas decorrentes dos fortes ventos da última semana, reacenderam a discussão sobre a privatização de serviços essenciais no estado mais rico da Federação. Entregue à iniciativa privada em 2018, a companhia aumentou a tarifa, teve ganho significativo de usuários, mas reduziu drasticamente a quantidade de funcionários.
O resultado não poderia ser outro
Centenas de milhares de imóveis na capital financeira do País ficaram vários dias sem o fornecimento de energia elétrica, prejudicando famílias inteiras, assim como as empresas que suspenderam suas atividades. Aqueles que possuíam produtos perecíveis, foram ainda mais prejudicados. Depois da privatização, a manutenção do sistema foi precarizada, não houve qualquer melhoria na rede e os sistemas de comunicação e as equipes reduzidas da ENEL foram insuficientes para atender os chamados. Soma-se a incapacidade da empresa, o marasmo da prefeitura e do governo de São Paulo, que não moveram uma palha para atender a população mais necessitada.
A farsa da qualidade do setor privado
Especialistas apontam que no mundo todo, empresas estratégicas que foram privatizadas passaram a cobrar tarifas mais altas, sem qualquer melhoraria no serviço, pelo contrário – cortaram gastos e o atendimento piorou. No entanto, não precisamos ir longe para buscar exemplos do engodo da privatização – além da ENEL, algumas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) também foram privatizadas recentemente, com resultado igualmente catastrófico – o aumento das panes e acidentes vem castigando os usuários do sistema desde então.
E o governo vai privatizar a Sabesp?
É nesse cenário que o governador do estado, o bolsonarista Tarcísio de Freitas, vem tentando empurrar goela abaixo do povo paulista, a privatização da Sabesp. Estamos falando da maior empresa de saneamento da América do Sul, que não dá prejuízos e presta um serviço fundamental para a vida. Se a Sabesp ainda não universalizou o acesso à água tratada, à coleta e tratamento do esgoto, com a privatização é que não vai mesmo, já que os recursos que poderiam ser investidos na rede, serão destinados aos lucros dos investidores. Como nos demais exemplos, a tendência é piorar.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)