Dirigentes petistas e de movimentos sociais afirmam que principal tarefa é recuperar a economia e promover justiça social

Deputada Marília Arraes coordenou mesa pela manhã no Seminário do PT. Fotos: Gabriel Paiva

Dirigentes de entidades ligadas ao PT (Instituto Lula e Fundação Perseu Abramo) e ao movimento social e sindical (MST, CUT e IndustriALL-Brasil) afirmaram nesta terça-feira (1º) que um futuro governo Lula terá como tarefa principal tirar o Brasil da atual crise econômica e reduzir os retrocessos sociais pós-golpe de 2016. As declarações ocorreram durante o debate sobre análise de conjuntura do Seminário Resistência, Travessia e Esperança, coordenado pela deputada Marília Arraes (PT-PE). O evento é promovido pelas Lideranças do PT na Câmara e no Senado, em parceria com a Fundação Perseu Abramo e o Instituto Lula.

Na abertura do debate, a petista – que também é 2ª Secretária da Mesa Diretora da Câmara – ressaltou que a discussão seria um importante momento para analisar os retrocesso ocorridos após o golpe de 2016, mas também relembrar os avanços obtidos pelo País durante os 13 anos de governos de Lula e Dilma.

“A iniciativa desse seminário é importante para analisar esse momento conturbado e de incertezas que vivemos desde o golpe parlamentar de 2016, que teve como objetivo tirar o PT do poder e impedir o avanço das políticas sociais para a classe trabalhadora. Tivemos 13 anos de conquistas, mas em metade desse tivemos a destruição de quase tudo a partir do golpe”, relembrou Marília Arraes.

Primeiro palestrante a usar a palavra, o economista e professor universitário Márcio Pochmann, ressaltou que o Brasil precisa adotar medidas para se reinserir nas transformações que ocorrem no mundo. Ele ressaltou que o Brasil precisa aproveitar o deslocamento da hegemonia econômica do Ocidente para o Oriente (dos EUA para a China) para se inserir como protagonista nesse cenário.

“O Brasil, por exemplo, se tornou o 4º maior consumidor de produtos digitais do planeta, custeada com a exportação de produtos primários”, alertou sobre a necessidade de o País aumentar os investimentos em ciência, tecnologia e inovação a partir de 2023. Márcio Pochmann alertou ainda que o Brasil também precisa reverter o processo de desindustrialização do País.

“O Brasil já foi a 6ª potência industrial do planeta na década de 1980, mas a partir da entrada subalterna do país no processo de globalização na década de 1990 perdemos força e hoje somo apenas a 16ª potência”, ressaltou.

Segundo Pochmann, o Brasil também precisa aproveitar a disputa pela hegemonia econômica mundial entre Estados Unidos e China para obter vantagens em prol do desenvolvimento do País.

“Não será fácil o Brasil sair de uma posição periférica. Temos que aproveitar essa disputa entre EUA e China, e atualmente temos uma vantagem em relação a 20, 30 anos atrás, quando os Estados Unidos tinha uma hegemonia quase ditatorial. Temos que utilizar essa polarização ao nosso favor”, defendeu.

Luta de classes

Já o membro da Coordenação Nacional do MST João Pedro Stédile ressaltou que a reconstrução do País também passa pela luta de classes na sociedade. Segundo ele, essa oportunidade precisa ser aproveitada diante da crise que o capitalismo enfrenta, que já não consegue organizar a própria economia e garantir renda e emprego para os trabalhadores.

“No Brasil, a partir do golpe de 2016, por exemplo, foram fechadas 28 mil indústrias, tivemos 1,8 milhões de operários demitidos com inúmeras consequências sociais. Hoje o Brasil não tem mais pirâmide social, temos uma torre Eiffel, onde 1% que detém a riqueza no País, enquanto na base temos mais de 70 milhões que estão jogados na sarjeta”, lembrou.

O dirigente do MST também ressaltou que a reconstrução do Brasil passa pelo enfrentamento à crise ambiental que o País atravessa, com ataques patrocinados por grandes empresas, como a Vale, responsável pelas tragédias de Mariana e Brumadinho. “E a Vale, até hoje não pagou os custos da destruição, e enquanto isso teve um lucro líquido recente de 20 bilhões”, denunciou.

Ao finalizar sua participação, João Pedro Stédile ainda ressaltou que será preciso repensar o atual Estado burguês, surgido a partir da Revolução Francesa (iniciada em 1789). “O mercado financeiro controla esse Estado. Elege um governante ou depois o compra. Esse Estado burguês já não tem mais nada de democrático. Temos que pensar cada vez mais em fortalecer a participação popular”, afirmou ao se referir aos conselhos, observatórios, plebiscitos e referendos.

João Pedro Stédile, do MST, no evento petista

Recuperação do emprego e renda

Ao analisar a conjuntura social do Brasil, o dirigente da Fundação Perseu Abramo Artur Henrique ressaltou o aumento do custo de vida desde o golpe de 2016, principalmente pela população mais pobre. Segundo ele, outro grande retrocesso que deve ser enfrentado de frente em um futuro governo Lula é a recuperação do mercado de trabalho. O ex-dirigente sindical observou que mesmo a tímida recuperação no nível de emprego demonstrado pelos mais recentes levantamentos mostram a desestruturação do setor no País.

“Se fala no aumento do nível de emprego, porém são empregos informais ou praticamente sem nenhum direito. E ainda assim são contratações para empregos de menor renda. Com isso não há dinheiro para o consumo, que ainda tem o poder de compra corroído pela alta inflação”, apontou.

Recuperação Industrial

Outro ponto analisado durante o debate foi a queda da atividade industrial do Brasil, com a consequente queda no número de empregos no setor. Segundo o presidente da IndustriALL – Brasil, Aroldo Oliveira, o Brasil terá que estimular o crescimento da indústria a partir de 2023. Como exemplo da decadência brasileira, Aroldo destacou recente notícia de que o Brasil deixou de ser o principal parceiro comercial da Argentina, sendo substituído recentemente pela China.

“Temos que articular uma política industrial para o Brasil. Precisamos reestimular o setor como ocorreu entre 2003-2014 (no período dos governos do PT), quando foram criados 19 milhões de empregos, entre eles mais de 3 milhões de empregos na indústria”, observou. Ele ressaltou ainda que nos últimos seis anos, após o golpe de 2016, foram fechadas 17 indústrias por dia no Brasil, com uma perda de mais de 1 milhão de empregos.

Ao final do debate o ex-presidente da CUT Vagner Freitas elogiou as Bancadas do PT na Câmara e no Senado pela resistência demonstrada aos retrocessos propostos a partir do golpe de 2016, e mais recentemente pelo governo Bolsonaro. Porém, o sindicalista afirmou que somente com a eleição de um presidente comprometido com os interesses da população a situação do País poderá ser revertida.

“Para a classe trabalhadora ter uma vida melhor precisamos eleger Lula presidente. Essa será a grande resposta aos últimos 6 anos de desmando que ocorreram no País”, finalizou.

Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT. Foto: Alessandro Dantas/PT no Senado

Héber Carvalho

 

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