Das Diretas Já à resistência contra os retrocessos do Golpe de 2016

Márcio Araújo, funcionário da Câmara há mais de três décadas, hoje é o nosso personagem no projeto “PT na Constituinte:1987-1988”, que vai recuperar a memória do Partido dos Trabalhadores na elaboração da Constituição Cidadã que completa 30 anos no próximo 5 de outubro. “É inegável o protagonismo do PT, para que a classe trabalhadora, os povos tradicionais, as maiorias e minorias oprimidas de todos os segmentos e regiões do País tivessem acesso e voz no Congresso Nacional”, afirma Márcio nessa crônica, na qual ele conta a sua experiência de jovem estudante, militante e funcionário da Liderança do PT no período.

 

Leia abaixo a íntegra da crônica:

Qualquer um que tenha vivido as emoções das Diretas Já em 1984 é levado a comparar aquela campanha com as manifestações de resistência destes tempos atuais de golpe contra a democracia.

A memória de minha experiência nas manifestações pelas Diretas está guardada naquela área do cérebro comandada pelo sentimento da esperança, aquele lugar de onde emanam as sensações de confiança em ter lutado nas fileiras certas da História.

Aprovado em concurso e nomeado servidor da Câmara dos Deputados em abril de 1984, no auge da campanha, eu cursava meu último semestre na UnB e ainda atuava no movimento estudantil. Passei a dividir minhas energias entre as manifestações do lado de fora do Congresso Nacional e o trabalho no antigo Departamento de Publicações, por onde passei alguns meses antes de ser lotado, a convite do então líder Djalma Bom (PT-SP), para um período de 11 anos na Liderança do PT.

Com a ditadura militar nos estertores, nossa tarefa era dar o empurrão que faltava para reconquistar a democracia, eleitoral, pelo menos. Acabamos perdendo a votação da Emenda Dante de Oliveira, que restabelecia eleições diretas para presidente da República, mas aquela campanha já havia cristalizado na sociedade a imagem da derrota irreversível do regime e o futuro era a juventude nas ruas exigindo liberdade.

Participei como militante de todas as lutas pela redemocratização e por avanços sociais, como a campanha pela Constituinte e a mobilização que se seguiu para garantir liberdades e direitos na Constituição de 1988, as campanhas eleitorais de Lula e do PT nos estados e no Distrito Federal.

Nessa quadra histórica, dei minha modesta contribuição às lutas progressistas, que tiveram inegável protagonismo do PT, para que a classe trabalhadora, os povos tradicionais, as maiorias e minorias oprimidas de todos os segmentos e regiões do País tivessem acesso e voz no Congresso Nacional. O PT mudou a forma de interação entre sociedade e Legislativo. Isso não é uma opinião, é um fato histórico que pude presenciar porque participei de alguma forma dos acontecimentos ou os vi bem de perto.

Chego a estes tempos duros de hoje ciente de que a História não é linear, ela está sujeita a idas e vindas, a períodos de avanços como o de 1984-2014, seguidos de retrocessos como esse que se abateu sobre o Brasil desde os preparativos do Golpe de 2016.

Apesar disso, não perco a esperança de que possamos retomar logo a iniciativa política e a mobilização social, desde que consigamos a indispensável unidade das forças progressistas. Não é preciso ir longe na História para saber que esse é o caminho para resgatar o Brasil com justiça social e desenvolvimento.

  • Márcio Araújo é servidor concursado, lotado na Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
  • Foto: Gustavo Bezerra

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