O líder do PT, deputado Bohn Gass (RS), anunciou no início da sessão deliberativa desta terça-feira (23) que a Oposição vai obstruir as votações da Casa por causa da crise da Covid-19 e dos valores irrisórios que o governo vai pagar de auxílio emergencial. “Frente à gravidade que o País está vivendo, o colapso total – nós passamos a ser o epicentro do mundo na quantidade de mortos, do menor índice de vacinação – esta Casa tem que parar, não podemos votar absolutamente nada que não seja o que for estritamente acordado sobre o tema da Covid-19”, afirmou o petista.
Bohn Gass citou a total ausência do governo Bolsonaro na busca de solução para a pandemia, de agir contra a vacinação para o povo brasileiro. “Por isso, é correta a reunião do Colégio de Líderes convocadas para amanhã (24). Precisamos decidir as ações que nós vamos fazer junto com os governadores, junto com a sociedade nas ações do combate ao coronavírus e na aprovação de uma renda emergencial”, destacou.
O líder do PT aproveitou para defender um benefício emergencial no valor de R$ 600. “O auxílio proposto pelo governo Bolsonaro é pífio na proteção ao mundo do trabalho pelo desemprego que está posto e também pelo preço exagerado que estão os remédios, os combustíveis e a comida”, argumentou.
Ele se refere à medida provisória (MP 1039/2021) que estabelece uma nova rodada do auxílio emergencial, com valor reduzido e que varia entre R$ 150 e R$ 375, por apenas mais quatro meses. Reduziu também o número de beneficiados, apenas 45,6 milhões de pessoas irão receber o benefício, 22,6 milhões a menos que no ano passado.
Em busca de solução
O líder da Minoria no Congresso, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), reforçou a necessidade do Parlamento, nesse momento de agravamento da pandemia, ter uma pauta exclusiva de temas voltados para ajudar o País a sair da crise sanitária e financeira. “Eu defendi que nós paralisemos a Câmara, e continuo defendendo. Nós queremos fazer uma obstrução e queremos conversar com os líderes, com os parlamentares da base do governo. Isso é necessário porque o governo não comprou vacina na hora certa”, argumentou, ao acrescentar que o Brasil, hoje, virou o foco mundial da Covid, “com a irresponsabilidade do governo”.
Arlindo explicou que a sua proposta não é para que a Câmara paralise a agenda para votar projeto deste ou daquele parlamentar. “Isso pode até acontecer, mas não se trata disso. Nós queremos parar e arrumar solução. Não se trata de fazer um grupo para discutir com o governo e o Supremo Tribunal Federal. Não! A Câmara é um poder, e temos que exercê-lo, em defesa da vida, da saúde, da dignidade do povo brasileiro. Portanto, neste momento, temos que trabalhar pela aquisição de vacina, pelo isolamento e pelo auxílio emergencial”, afirmou.
CPI da pandemia
O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) reforçou que a Câmara dos Deputados não pode mais se omitir, diante da irresponsabilidade, da falta de interesse e disposição do governo Bolsonaro em tomar medidas para solucionar a pandemia e salvar vidas. “A Câmara tem que imediatamente instalar uma CPI para investigar a ação do governo durante a pandemia”, defendeu, ao citar que o PT apresentou dois pedidos de CPI neste sentido. Um de iniciativa da deputada Gleisi Hoffmann (PR) e outro pelo deputado Rogério Correia (MG).
“Quero pedir a todos os parlamentares que assinem essa CPI, para que possamos de fato apurar o que o governo fez e está fazendo. Não adianta os presidentes da Câmara do Senado fazerem reunião com o presidente da República para discutir um comitê de crise. Agora, cabe aos governadores, prefeitos e ao Congresso Nacional encaminharem, porque este governo já demonstrou ser incapaz de cuidar do povo brasileiro”, reforçou.
Zarattini afirmou que o governo Bolsonaro tem que pagar pelo que está fazendo, e os crimes cometidos pelo governo devem ser devidamente apurados. “Evidentemente, ele tomou medidas que não levavam a nada e queria, sim, favorecer a disseminação do vírus, com aquela ideia da imunidade de rebanho. Um absurdo! Precisamos da CPI. O PT vai batalhar por essa CPI. Nós queremos investigar o que aconteceu e vamos obstruir tudo o que não for votação referente ao combate à Covid-19”, assegurou.
Ao concordar com a necessidade de apuração das ações do governo em relação à pandemia, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) afirmou que “Bolsonaro não cometeu crime apenas por negligência, por irresponsabilidade, por omissão, por incompetência. O presidente Bolsonaro está cometendo crime deliberadamente. Ele desafiou a ciência em vários momentos. Alguns outros governantes como, por exemplo, Boris Johnson [Primeiro-Ministro do Reino Unido], até pensou em fazer a imunidade de rebanho, mas em 30 dias recuou. O governo Bolsonaro continua na mesma tese”, lamentou.
Reginaldo Lopes afirmou que Bolsonaro tem que ser processado por crime de responsabilidade. “Está completando 1 ano que nós questionamos no Supremo Tribunal Federal que o presidente Bolsonaro deveria ser afastado da Presidência da República por 180 dias. Agora, só temos esse caminho. Não temos mais nenhum outro caminho a não ser o imediato afastamento do presidente da República. Ele não tem a mínima condição de conduzir o País, que está entrando em um colapso, um caos sanitário total, sem nenhum tipo de planejamento federativo”, afirmou.
O deputado do PT mineiro indagou ainda se o Parlamento vai ficar assistindo esse caos como se não fosse com ele? “A Câmara e o Senado precisam encontrar um caminho. É um absurdo que as pautas colocadas para o debate não sejam voltadas para encontrar um caminho para resolver a questão da pandemia, para dar previsibilidade às pessoas”, completou.
Mercado X Povo
Para o deputado Padre João (PT-MG) diante da grave situação do País e da irresponsabilidade do presidente Bolsonaro, a Câmara tem que parar. “Nós não podemos permitir que esta Casa vote projetos que agradem ao mercado e continue colocando o nosso povo, sobretudo a população mais vulnerável, na boca do leão, diante de um vírus, de fato, letal. Então, temos que dar um basta nisso”, afirmou e continuou: “Precisamos de um plano de vacinação acelerada e urgente. Estamos entrando na Semana Santa com 300 mil mortos. E, se continuarmos dessa maneira, vamos encerrar o ano com mais de 500 mil mortos”, alertou.
Na mesma linha, a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT) afirmou que o Parlamento não pode ficar omisso à situação do País. “Quem vem aqui fazer discurso e afirmar que não precisa de lockdown, não precisa de auxílio emergencial de R$ 600 para que a família possa comprar comida é porque não sentiu essa dor ainda. Estou vendo aqui que, no Mato Grosso, 34 municípios, a partir de amanhã, não têm mais oxigênio. Imaginemos um familiar nosso se debatendo nos últimos momentos de vida porque não tem oxigênio? Não podemos ficar alheios a essa situação que se repete pelo Brasil”, denunciou.
Vânia Rodrigues