A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) e o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) repudiaram em plenário, nesta terça-feira (12) a atitude do médico anestesista do Rio de Janeiro que foi preso em flagrante por estuprar uma paciente durante uma cesariana. “É com constrangimento, é com muita dor — de mulher, de mãe, de esposa, de avó, de bisavó — que eu levanto a minha voz nesta tribuna, neste dia, para manifestar o meu repúdio a esse médico anestesista que ultrapassou todos os limites da covardia de um ato que, por si só, já é monstruoso: o estupro. É nojento, é peçonhento, agride a dignidade do esposo, da família, da mulher”, lamentou Benedita.
Na avaliação da deputada, é desumano esconder-se por trás de um diploma de médico anestesista para praticar “a sua perversão de forma extremamente covarde”. Ela disse que quando viu essa situação, ficou muito abalada. “Eu não me canso de dizer — e digo isto não para mostrar porque é uma coisa triste —: estupro é uma coisa terrível. Ela contou que foi estuprada aos 7 anos de idade. “Isso deixa marcas horríveis! E ele fazia isto quiçá com outras também: sedar ao ponto de elas ficarem dopadas, e ele praticar essa ação terrível. Eu não poderia me calar no dia de hoje”, desabafou, indignada.
“É preciso ser mãe para saber o que é isso! Agora, para nós termos um filho, para nós parirmos, somos violentadas com um estupro desse tamanho. É preciso isso para nós mulheres criticarmos, dizermos que nós precisamos de segurança, porque a violência contra as mulheres aumenta cada dia mais?”, indagou.
Benedita revelou que não sabia se conseguiria fazer este discurso hoje. “Isso é uma violência extrema! Eu fico me imaginando, me colocando naquele lugar. E nós estamos vendo que isso vem crescendo, crescendo, crescendo no País. A violência às mulheres negras, os abusos, os estupros, os feminicídios acontecem de roldão, e parece que nada, nada vem em nosso socorro. É preciso que nós não sejamos indiferentes”, pediu.
“Que Brasil é este? Que mundo é este, em que nós temos que viver com essas atrocidades?”, indagou, ao pedir, principalmente aos homens, que olhem para as suas filhas, suas esposas, suas namoradas, suas irmãs, suas primas. “Olhem para essas mulheres. E vamos dar um basta a este escárnio que se faz do machismo, do racismo, que transforma essas vítimas — a cada dia, são vítimas — em culpadas pela violência por que são acometidas”, conclui.
Moção de aplauso
O deputado Alexandre Padilha anunciou que protocolou hoje, junto à Comissão de Seguridade Social e Família, uma moção de apoio e aplausos à atitude heroica da equipe de enfermagem da maternidade Heloneida Studart, no Rio de Janeiro, “onde vimos uma cena de estupro feito por um médico, alguém que se diz médico, se apresenta como médico e que, na sensação de impunidade, na sensação do poder médico, na sensação da virilidade do homem que nunca é questionado pelas mulheres, na sensação de muitas vezes questionarem ou tentarem culpar as vítimas em vez de apontarem o criminoso que estupra uma mulher”.
Para o deputado Padilha, a atitude desse anestesista foi absurda “e só foi desvendada e provada pela atitude heroica da equipe de enfermagem dessa maternidade”. Ele, que foi ministro da Saúde nos governos do PT, relembrou de ter participado da inauguração dessa maternidade.
“Inclusive é uma maternidade construída nos moldes daquilo que nós chamamos de Rede Cegonha, com centro de parto normal, local para a garantia do direito a um acompanhante. Aliás, o direito ao acompanhante daquela gestante foi garantido. Ele estava na sala de parto. E o criminoso que estuprou aquela gestante aguardou exatamente o momento da saída do pai com o bebê que havia nascido, para praticar o ato criminoso”, criticou.
Mais uma vez, Padilha afirmou que foi graças à atitude heroica da equipe de enfermagem que foi possível ter provas claras: “não só o vídeo, mas também o material recolhido, as gases que o criminoso utilizou para limpar a boca da gestante que foi estuprada, que certamente vão fazer parte das provas do crime cometido por esse criminoso, que precisa ser condenado pela Justiça”.
Cassação
Alexandre Padilha também defendeu que o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro casse o registro desse anestesista. “É preciso abrir, de imediato, uma ouvidoria ativa, que também é responsabilidade do Ministério da Saúde, para se recolherem outros casos de violência sexual e de violência obstétrica, que, infelizmente, ainda acontecem no serviço de saúde do nosso País”, lamentou.
Vânia Rodrigues