Um escândalo envolvendo candidaturas de laranjas no PSL e embates com o filho de Jair Bolsonaro foram o suficiente para que Gustavo Bebianno fosse exonerado do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência nesta segunda-feira (18). Esse é o primeiro nome rifado do alto escalão do governo, menos de dois meses após ter assumido. O general Floriano Peixoto assume a pasta.
O líder da Bancada do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), e vários parlamentares petistas usaram as suas redes sociais para comentar o episódio e pedir que Bebianno fale tudo o que ele sabe sobre o laranjal do partido e sobre os bastidores da campanha de Bolsonaro. Neste fim de semana, diversas declarações foram atribuídas a Bebianno, como a de que ele estaria arrependido de ter viabilizado a vitória de Bolsonaro. Ele também teria afirmando que vem sofrendo ameaças, inclusive de morte.
Em Twitter e Facebook, Paulo Pimenta pede que Bebianno fale, que conte tudo o que sabe. “Só tem um jeito de você se proteger, é falando tudo, é botando pra fora toda a podridão da campanha, os segredos perversos da família metralha”, pede em vídeo no seu Facebook. E no Twitter, Pimenta destaca que é “um grave precedente” um filho do presidente demitir um ministro por motivos que a República desconhece. “É uma lógica perversa e perigosa onde o privado se sobrepõe ao público e a família adquire status de Estado paralelo. Espero que a verdade venha a tona”.
Pimenta também sugere uma lista de perguntas que as autoridades – Sérgio Moro, ministro da Justiça; Raquel Dodge, procuradora-geral da República; e Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal – têm obrigação de fazer a Bebbiano: O que ele sabe sobre o esquema de laranjas do PSL? Bolsonaro estava informado sobre o esquema? Quem mais do PSL e da campanha estava ciente?
Exoneração não encerra laranjal
Também no Twitter, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) avisa que vai convocar Bebbianno para ele “dizer como foi feita a campanha do Bolsonaro e a relação com as milícias”.
E a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT) afirma que a demissão de Bebianno não encerra o assunto do Laranjal. “Esperamos que Bebianno fale o que sabe sobre as irregularidades da campanha do PSL, porque a demissão não coloca um ponto final no que precisa ser investigado”, afirma.
Na avaliação da deputada Margarida Salomão (PT-MG) o fato de o porta-voz da Presidência da República argumentar que a exoneração de Bebianno é uma “decisão de foro íntimo” do presidente, revela que “Bolsonaro é tão covarde que não tem sequer coragem de confirmar que a demissão é motivada pelas acusações de crime eleitoral e desvio de recursos”. E ironiza em outro tuíte: “Descobrimos que o foro íntimo de Bolsonaro é laranja”.
Margarida Salomão ainda destaca que o pior é que a mesma decisão (demissão) “não se aplica ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, que sofre das mesmas acusações”.
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) destaca que “este é o padrão do governo Bolsonaro: confusão, intrigas e uso da máquina pública para proteger seus aliados”. E ironiza: “O partido que ia acabar com a corrupção virou o Partido só Laranja (PSL) e se afunda, cada dia mais, nos esquemas que armou”.
Já o deputado Helder Salomão (PT-ES) deixa uma pergunta no ar: “Será que Bebianno vai falar tudo que sabe?”, e frisa que são 45 dias de governo e “já tem ministro caindo por envolvimento no laranjal do PSL”.
O deputado Valmir Assunção (PT-BA) destaca a demissão de Bebbiano “e a certeza de um governo mergulhado em laranjas adoçadas a milícias”. E o deputado Assis Carvalho (PT-PI) afirma que é “a primeira queda no laranjal”
O escândalo das candidaturas laranjas
Bebianno é pivô em meio à escândalos com candidaturas laranjas, que utilizaram mulheres apenas para cumprir a cota eleitoral e direcionar a verba pública de campanha para fins ainda não esclarecidos. Durante as eleições, ele presidiu o PSL, partido de Bolsonaro, e era responsável formal por autorizar repasses dos fundos partidários e eleitoral a candidatos da legenda.
As primeiras denúncias ocorreram em Minas Gerais e envolvem Marcelo Álvaro Antônio, atual ministro do Turismo. Na época, ele era presidente do PSL no estado e tinha o poder de decisão sobre quais candidaturas seriam lançadas.
Álvaro Antônio está envolvido em um esquema que implica quatro candidaturas laranjas em Minas Gerais, que receberam R$ 279 mil da verba pública que deveria ser utilizada na campanha da legenda. Cerca de R$ 85 mil foram destinados a quatro empresas que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje Ministro do Turismo.
Uma segunda denúncia aponta que Luciano Bivar, atual presidente do PSL e recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, teria criado uma candidata laranja em Pernambuco. O partido de Bolsonaro repassou R$ 400 mil do fundo partidário no dia 3 de outubro, a apenas quatro dias antes da eleição. De acordo com a prestação de contas oficial, 95% do dinheiro foi gasto em uma única gráfica, destinado à impressão de 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos.
Bebianno ainda é apontado como responsável por ter liberado R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada.
Na quarta-feira (13), Carlos Bolsonaro, o filho que cuida das redes sociais presidenciais, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política.
No mesmo dia, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno. Bolsonaro endossou a atitude do filho publicamente.
Vânia Rodrigues, com Agência PT de notícias