Entrevistado na noite de segunda-feira (16) por jornalistas da bancada do Roda Viva, da TV Cultura, Michel Temer (MDB) admitiu que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe. “Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe”, disse o emedebista, que assumiu a Presidência após a queda de Dilma em 2016. Temer não se preocupou em usar o termo “golpe” mais de uma vez durante a entrevista, algo que nunca tinha feito, e ainda revelou que tentou impedir o avanço do processo do impeachment após um telefonema do ex-presidente Lula. “Eu não era adepto do golpe, apenas assumi a Presidência da República pela via constitucional e eleitoral depois do impedimento”, alegando isenção no processo do golpe.
Durante a entrevista, Temer disse que nunca imaginou que viraria presidente por conta de um processo de impeachment de Dilma. Logo em seguida, foi questionado por Ricardo Noblat sobre ter conspirado de algum jeito para o golpe. “Nem um pouquinho? ”, perguntou o jornalista. Temer voltou a dizer que não. O emedebista observou ainda que, se Lula tivesse assumido como ministro da Casa Civil de Dilma na época, o impeachment poderia não ter acontecido. “Ele tinha bom contato com o Congresso”, afirmou.
A ex-presidenta Dilma Rousseff se manifestou sobre a fala de Temer. “Michel Temer cometeu ontem novo ato de sincericídio, no Roda Viva. Admitiu que eu sofri um golpe de Estado e disse que se Lula tivesse ido para o meu governo não teria havido o impeachment. Temer não disse, contudo, que o Golpe de 2016 foi para enquadrar o Brasil no neoliberalismo. E, claro, negou ter participado diretamente do golpe. Nenhuma menção dele a seus dois auxiliares mais próximos: Moreira Franco e e Eliseu Padilha. A Ponte para o Futuro é a matriz do programa de governo de Bolsonaro”, disse a presidenta em nota.
Diante da confissão admitida pelo ex-presidente, a presidenta do PT, Glesi Hoffmann (PR) usou o Twitter para comentar sobre o caso, destacando que a fala de Temer foi um complemento dos erros presentes no Executivo. “No Roda Viva, Temer confessa que o impeachment contra Dilma foi golpe e que a ida de Lula para o governo salvaria o mandato, mas ainda finge que não foi um dos mentores. Temer acabou completando um pedaço da história, ficando evidentes o erro do STF e atuação política da Lava Jato”, criticou.
O líder da Bancada do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), também usou a rede social para comentar sobre a entrevista. “Tese da Lava Jato usada para divulgar áudio da presidenta da República caiu por terra. Moro e Dallagnol são dois golpistas iguais a Temer”, escreveu.
“Temer admitiu! Finalmente”, exclamou a deputada Margarida Salomão (PT-MG), em seu Twitter. Indo na mesma linha o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) escreveu em seu Twitter que “Temer admite que houve golpe contra Dilma e o povo brasileiro”.
Foi Golpe
“Acabou a falsa polêmica, foi golpe. Até o maior beneficiário e participante admitiu ontem no Roda Viva, ‘Dilma sofreu golpe’ segundo Michel Temer”, afirmaram os petistas Zeca Dirceu (PR) e Padre João (MG).
Para Zé Neto (PT-BA), o golpe provocou aumento da desigualdade no País. “Um golpe que resultou no aumento do desemprego, da fome e da miséria”. “Depois de ter ajudado a destituir uma presidenta legitimamente eleita, sem crime de responsabilidade, o golpista Temer, tardiamente, admitiu o GOLPE. Mas, como golpista que é, nega sua participação num dos maiores crimes já cometidos à democracia brasileira”, denuncia Waldenor Pereira (PT-BA).
Reginaldo Lopes (PT-MG) ressaltou outra fala de Temer em que admitiu que se o ex-presidente Lula tivesse sido nomeado ministro, o golpe não teria acontecido. “Mais do que admitir que a movimentação que o levou à Presidência foi um golpe, Michel Temer também concordou que se Lula fosse ministro não haveria impeachment”.
Sem novidades
“Surpreendendo um total de zero pessoa, Michel Temer finalmente admite que o processo de impedimento contra a ex-presidenta Dilma foi, de fato, um golpe. Um atropelamento brutal do processo democrático, com nome, sobrenome, partido e interesses”, afirmou o deputado Joseildo Ramos (PT-BA).
O deputado Odair Cunha (PT-MG) escreveu que Temer só admitiu o que a população já sabia. “Em entrevista ao Roda Viva, Temer admitiu aquilo que a população mais carente, os trabalhadores, aqueles que tiveram acesso à universidade pública e quem teve a vida melhorada nos últimos anos pelos governos do PT já sabia: foi golpe”.
Para a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), Temer assume “sem querer” que foi golpe. “Foi assim que Michel Temer assumiu, sem querer, durante entrevista ao programa Roda Viva, que o afastamento, em 2016, foi golpe”. Já o para o deputado Rubens Otoni (PT-GO), além de admitir o golpe, Temer confirma veracidade dos diálogos divulgados pelo The Intercept. “Para aqueles que precisam que alguém ‘desenhe’, Temer no Roda Viva não vacilou. Confirmou o golpe e de quebra também os diálogos divulgados pelo Intercept”.
Para a deputada Marília Arraes (PT-PE), a ex-presidenta Dilma Rousseff sofreu um golpe. “Aquilo que todos nós vínhamos denunciando desde o início, foi escancarado, ontem, nas declarações de um dos beneficiários diretos desse verdadeiro atentado contra a democracia, o ex-presidente Michel Temer. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Temer usou – pelo menos duas vezes – o termo golpe para se referir à perseguição político-jurídica e midiática que culminou com o impeachment de Dilma. Se alguém ainda insistia em ‘não enxergar’ a verdade, não tem mais nenhuma desculpa! Afinal, os próprios articuladores do golpe deixaram de lado meias-palavras e admitem, com ares menosprezo e triunfo, a sua existência!”, criticou a parlamentar.
Veja o vídeo de Temer:
No Roda Viva, Temer confessa que impeachment contra Dilma foi golpe e que ida de Lula para o governo salvaria mandato, mas ainda finge que não foi um dos mentores. Temer acabou completando um pedaço da história, ficando evidentes o erro do STF e atuação política da Lava Jato. pic.twitter.com/kxoJOWDAyP
— Gleisi Lula Hoffmann (@gleisi) September 17, 2019
Tuanny Carvalho com Agência PT Notícias
Foto – Roberto Stuckert Filho