A Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a acompanhar e promover estratégia nacional para enfrentar as queimadas promoveu, nessa quinta-feira (29), audiência virtual com artistas e personalidades em defesa do meio ambiente. Na ocasião, os artistas receberam e assinaram a “Carta da Comissão” que pede que eles emprestem suas vozes e sua arte ao Pantanal.
Coordenada pela deputada Professora Rosa Neide (PT-MT), a reunião contou com participação de atores, atrizes, cantores, cantoras, produtores culturais e jornalistas, além dos deputados que compõe a Comissão.
O deputado Nilto Tatto (PT-SP) relatou que há 40 anos milita na causa ambiental, mas que nunca viu uma articulação política e econômica tão forte e proposital pela destruição do meio ambiente, como a que está sendo comandada pelo atual governo federal. “Vamos precisar muito do apoio de vocês (artistas), nos enfretamentos que essa Comissão fará. Além dos incêndios nós apontaremos as atividades que vem desequilibrando o Pantanal como: os agrotóxicos, o desmatamento das nascentes, os projetos de construção de pequenas hidrelétricas (PCHs), e a hidrovia. Atividades que destruirão o bioma de forma irreversível”, disse.
“A classe artística tem um poder de mobilização muito forte, por isso é fundamental que tenhamos artistas de renome nacional apoiando a causa da preservação do Pantanal”, pontua o deputado Vander Loubet (PT-MS).
Legislação integrada
O objetivo da carta em defesa do Pantanal é que a mobilização de artistas repercuta na sociedade, de modo que os parlamentares tenham mais força para aprovar leis e, por fim reivindicar por parte do Executivo Federal que se cumpram as políticas públicas de preservação ambiental – em especial nas áreas que têm sido palco de muitos desastres, como o Pantanal e a Floresta Amazônica. O documento pode, inclusive, servir de exemplo e jogar luz em outras áreas que vêm sofrendo ameaças, como os manguezais.
No que diz respeito ao Pantanal, a Comissão pontuou o quadro desolador provocado pelas queimadas em 2020. Cerca de 27% da vegetação do bioma já foi atingida pelo fogo, de janeiro até agora, algo que corresponde a 4,1 milhões de hectares ou o equivalente à área do Estado do Rio de Janeiro.
O cenário é tão alarmante que pesquisadores de diversas entidades estimam que sejam necessários ao menos quatro anos para que o Pantanal consiga se recuperar. Isso desde que o problema não venha a se repetir com a mesma intensidade nos próximos anos.
Para garantir que o quadro não se repita, uma das alternativas sugeridas é a criação de leis integradas entre os dois estados que abrigam esse importante bioma – Mato Grosso do Sul e Mato Grosso – sem excluir o diálogo com os países vizinhos Bolívia e Paraguai, detentores de outra parte do Pantanal.
“Conheço o trabalho feito na Assembleia de Mato Grosso do Sul e tive a oportunidade de participar de uma audiência com deputados da Assembleia de Mato Grosso. Tenho certeza que é plenamente viável que os legislativos possam dialogar para formular uma legislação ambiental conjunta para atender aos problemas que temos visto no Pantanal”, defende o deputado Vander.
Responsáveis pelos incêndios
Em uma fala contundente a atriz Lucélia Santos destacou que os responsáveis pelos incêndios no Pantanal têm nome e sobrenome. “Todo o sistema protetor do meio ambiente está sendo desmontado de forma irreversível em nosso País”, denunciou.
O ator Marcos Palmeira criticou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Temos um ministro que odeia o Meio Ambiente. Muito difícil isso. Muito triste. Estamos com olhar na economia totalmente furado. Será que vamos perder a chance de ser o País do futuro? O País que poderia ser vanguarda na produção de alimentos saudáveis? Que se desenvolve com respeito ao meio ambiente?”, questionou.
O artista destacou a necessidade da classe artística se unir aos políticos sérios e comprometidos. “É a união da política com a sociedade civil que pode produzir uma economia cada vez mais verde. Um Brasil mais sustentável. Precisamos construir a mudança na sociedade, para salvar o Pantanal, nosso meio ambiente e os povos indígenas”, afirmou Marcos Palmeiras.
Não é luta partidária
A atriz Letícia Sabatella afirmou que a luta pela preservação ambiental não é partidária. “É pela sobrevivência dos seres vivos”. Ela parabenizou a deputada Rosa Neide pelos trabalhos da Comissão, e afirmou que os artistas em unidade com os parlamentares humanistas formam “uma equação de força, luta e resistência” nesse momento de retrocessos ambientais vivenciados no Brasil.
“Precisamos avançar essa causa para que mais artistas se engajem em defesa do meio ambiente, para que a sociedade se engaje. Não podemos mais aceitar esses retrocessos. As decisões são políticas, por isso a importância da Câmara dos Deputados estar nesta luta em defesa de nossos biomas”, afirmou Sabatella.
Para o ator Thiago Lacerda há uma “negligência proposital” operando no Brasil, o que facilita a destruição em curso. “Estamos juntos para resistir a esse horror que nos cerca. Ninguém solta a mão de ninguém”, disse ao afirmar que além da Carta, os artistas estão à disposição para mais ações em conjunto com a Câmara, visando a defesa do meio ambiente.
União pelo Pantanal
Morador do Pantanal em Mato Grosso do Sul, o cantor e compositor Almir Sater destacou a necessidade da sociedade e dos governos se unirem em prol do bioma. “Todo ano temos queimadas no Pantanal, mas este ano foram as maiores que temos notícia. Temos que diminuir o material orgânico acumulado. Precisamos fazer um debate sério com cientistas, pesquisadores e os pantaneiros que vivem há anos aqui e preservam o bioma”, disse.
Natural de Campo Grande (MS), a cantora e compositora Tetê Espíndola disse emocionada que há 15 anos percorreu os rios do Pantanal, entre Cuiabá (MT) e Corumbá (MS). “Tudo estava preservado, lindo. Este ano fiquei muito chocada e angustiada ao ver tudo destruído pelo fogo, a vegetação devastada e os animais mortos”, afirmou. Após cantar uma canção em homenagem ao bioma, Tetê afirmou ter “esperança de todos se unirem para que esses incêndios não voltem a acontecer”.
A produtora Edmara Barbosa, filha do autor de novelas, Benedito Rui Barbosa, citou que o Pantanal vai demorar muitos anos para se recuperar desses que foram os maiores incêndios de sua história. “Essa tragédia no Pantanal é uma catástrofe. A tragédia é muito maior do que somente o incêndio, que com a volta da chuva está sendo contido. Os animais que não morreram queimados não terão alimento. E os peixes que sobreviveram morrerão com as cinzas que estão sendo levadas aos rios pelas chuvas. A consequência desse pacote é o fim da espécie humana. A transformação da terra em um planeta quente”, alertou.
Edmara informou que irá ao Pantanal promover atividades de cultura e reflorestamento em parceria com as comunidades locais. “Vamos fazer uma força tarefa para reflorestar o pantanal e melhorar as condições de vida das pessoas. Queremos como artistas construir produções nas comunidades, mas deixando um legado de preservação ambiental, reflorestamento e promoção de renda.”, disse.
Campanha
Transmitida pela TV Câmara e pelas redes sociais da Casa e dos parlamentares, o debate contou com intensa participação da sociedade. A deputada Rosa Neide informou que na plataforma e-Democracia, as pessoas pediram para que os artistas continuem em campanha em defesa dos biomas brasileiros. “As pessoas também estão pedindo que as músicas e as novelas tratem do Pantanal e da Amazônia. Apontem para a importância da preservação da natureza, porque a arte e a cultura falam ao coração da maioria dos brasileiros e brasileiras”, disse.
A petista destacou ainda que “as vozes de vocês (artistas) podem fazer a diferença para mostrar que a vida e a natureza não precisam serem destruídas para termos desenvolvimento. Que possamos deixar como legado um País melhor para nossos filhos e netos”, afirmou.
O ator Rainer Cadete, a atriz Thaila Ayla, o cantor Renato Braz, a cantora Preta Ferreira, o jornalista Luis Nassif e a dupla mato-grossense Vera e Zuleica também participaram da audiência.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) fez a leitura da Carta aos artistas. Os deputados Alessandro Molon (PSB-RJ), Marcelo Freixo (PSOL-RJ) Ivan Valente (PSOL-SP), Professor Israel Batista (PV-DF) e Pedro Cunha Lima (PSDB-PB); e os deputados estaduais por Mato Grosso, Valdir Barranco (PT) e Wilson Santos (PSDB) também participaram do evento.
Assessoria Parlamentar