(*) Nilto Tatto
Foi em 1998, ainda na gestão do tucano Mario Covas, que uma empresa privada ganhou a concessão para explorar o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado de São Paulo, incluindo a maior cidade da América do Sul. Esse processo se iniciara alguns anos antes, com o fatiamento da Eletropaulo pelo governo do Estado para entregar a companhia em lotes a iniciativa privada. O serviço nunca fora uma maravilha, é verdade, mas iria piorar muito a partir de 2018, quando a italiana ENEL adquiriu a empresa em um leilão.
Se a desestatização e a aquisição da já privatizada AES Eletropaulo pela ENEL ocorreram em âmbito estadual e antes da gestão de Ricardo Nunes, será que o atual prefeito de São Paulo teria mesmo alguma responsabilidade sobre o caos que a capital paulista vive desde o último dia 10? A resposta, meu caro leitor, é afirmativa: se milhares de paulistanos ficaram ou ainda estão sem luz não foi apenas pela falta de qualidade dos serviços prestados pela ENEL, embora isso seja verdade, mas também pela omissão e pouco caso do chefe do executivo municipal.
Como explicar por exemplo, que uma chuva de menos de uma hora deixe mais famílias sem luz em São Paulo do que o furacão Milton, no Golfo do México? A resposta passa pela incapacidade da ENEL em atender os usuários, claro, mas principalmente pela negligência da prefeitura na poda de árvores; pela ausência de pressão para que a empresa enterre a fiação; pela falta de ações para o aumento da permeabilidade do solo e da cobertura vegetal entre outras medidas de prevenção e enfrentamento das emergências climáticas.
Alguém pode citar alguma iniciativa efetiva da Secretaria de Mudanças Climáticas ou do Centro de Emergências da prefeitura? A chuva do dia 10 de outubro aliás, fora prevista pelos meteorologistas, mas ignorada pela atual gestão municipal. Você vai cansar de ver Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas colocando os seus fracassos na conta do governo Federal (pasmem!), mas lembre-se de que ambos não pouparam esforços por exemplo, para entregar a Sabesp de mão beijada para o setor privado, abrindo mão do controle de um setor tão estratégico e importante quando a energia.
Não se deixe enganar, Nunes tem culpa e sua postura não vai mudar – o que confere ao povo a obrigação de ejetá-lo da cadeira de prefeito.
(*) é deputado federal (PT-SP)