O racismo no futebol europeu foi um dos assuntos mais comentados no mundo após torcedores do Valência agredirem o jogador Vini Jr., do Real Madrid e da Seleção Brasileira com expressões e gestos imitando um macaco, em jogo do Campeonato Espanhol. Apesar da violência dos atos, esta não foi a primeira vez que o brasileiro sofreu este tipo de agressão na Espanha, mas foi a primeira vez que ele reagiu e foi expulso de campo por isso.
O fato tomou tamanha proporção que o presidente Lula abriu seu discurso em coletiva de imprensa na reunião do G7 no Japão, se solidarizando com Vini e clamando a comunidade internacional a enfrentar o racismo. Na segunda-feira foi a vez do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, dizer que o ódio e a xenofobia não poderiam ter lugar em seu País. Diferente de Lula, Sanchez não pediu nenhum tipo de punição aos torcedores ou ao clube responsáveis pelo crime, apesar de fazer um discurso de tolerância zero com o racismo no futebol. Deve ter agido por medo de um incidente diplomático como Brasil e não por querer de fato combater esses crimes.
A postura do primeiro-ministro só não foi pior do que a fala do presidente da Liga Espanhola (La Liga), Javier Tebas e do diretor de futebol do Valência, que minimizaram o incidente e ainda acusaram o atleta de ser “injusto”. Daí se vê a dificuldade de enfrentar o racismo em um País edificado em grande parte pela escravidão. É preciso lembrar que a Espanha foi um dos maiores impérios coloniais do mundo, responsável pelo genocídio de populações indígenas inteiras, pelo tráfico negreiro e pelo uso massivo de mão de obra escrava de origem africana em boa parte das Américas.
Entender esse processo histórico é fundamental para enfrentar questões tão transversais como o racismo. Isso porque, a Espanha, assim como Portugal, só deixou de promover o tráfico negreiro e de utilizar mão de obra escrava nas suas colônias por pressão financeira da Inglaterra. Se não fosse isso e os altos custos relacionados ao comércio internacional de pessoas, a abolição da escravidão talvez não tivesse acontecido até hoje. Engana-se portanto, quem acha que pode enfrentar o racismo sem mexer nas estruturas ou punir seus praticantes, inclusive financeiramente.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)